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Artigo

Requisitos para esquecer as ofensas, artigo de Américo Canhoto

Dr. Américo Canhoto
Dr. Américo Canhoto

[EcoDebate] Pela sua importância em nossa qualidade de vida; vamos bater na tecla do esquecimento dos erros e do perdão, nos próximos dias.

Perdoar não é apenas deixar prá lá; deixar barato – é muito mais do que uma atitude de não violência – exige inteligência, planejamento e atitude ativa.

Não consigo esquecer! Volta e meia me pego a relembrar o mal que me fizeram! Porque é tão difícil perdoar?

A pouca capacidade de perdoar espelha como nós gerenciamos a existência; e indica falta de metas de vida, planejamento e metodologia adequada. Para reciclar um padrão de atitudes nós precisamos de estímulos adequados e interessantes.

Uma das falhas, é que tentamos perdoar sem entender bem a razão principal; daí, o fazemos sem metas e objetivos adequados. Tentamos perdoar porque nos disseram que devemos, mas não entendemos bem.

A relação custo/benefício do perdão ainda é nebulosa para nós. Daí que, muitas vezes nosso esforço para perdoar torna-se vão.


Culturalmente o conceito de perdão costuma andar atrelado aos religiosos, nos quais a relação custo/benefício quase sempre traz o custo para hoje – e, fica para se receber o benefício depois da morte; o que tira o estímulo do lucro, da vantagem imediata, tão típica da nossa formatação cultural – Além disso, ainda traz consigo a dúvida do calote – E se tudo terminar aqui mesmo? – E se não houver nem céu nem inferno – Qual terá sido a vantagem do esforço de engolir tanto sapo e perdoar por perdoar?

Na vida contemporânea, para atuar com eficiência, é preciso que na relação custo/benefício, o ganho com o perdão seja trazido para o presente; a vantagem do lucro tem que ser, e, é imediata e real. Exemplo: o lucro é muito grande na preservação da saúde física e psicológica, como dissemos no artigo anterior.

Já parou para somar quanto se gasta com doenças em dinheiro vivo? E a dor física e moral? E quanto custa ficar sem trabalhar e produzir?
Tornar-se incapacitado para o trabalho será um tipo de parasitismo social?

Ora, se cultivar mágoas, ressentimentos e vinganças pode adoecer e até matar; erradicar esse foco de insanidade é uma forma de vacina ético moral mais do que necessária.

A relação custo/benefício deve ser uma relação onde todos lucrem.

Quase sempre nossos interesses estão acima de tudo e de todos. Ao tentarmos esquecer a ofensa ou até perdoar, nós visamos apenas o nosso bem estar. Esse tipo de negociação onde uns ganham e outros perdem tende a perpetuar a situação de ofensa, Ás vezes, apenas invertem-se os papéis; mas, o script não mudou, e os atores continuam os mesmos – hoje vítima, amanhã algoz…

Perdoar as ofensas exige honestidade.

Quando se perdoa da boca para fora; com intenção de enganar, ludibriar ou de levar vantagem, agrava-se o mecanismo gerador das ofensas.

Depois de algumas tentativas de perdão sem honestidade íntima ou de propósitos, até fica difícil saber quem tem que pedir perdão para quem; ou quem tem que perdoar quem – ofendido e ofensor tornam-se “farinha do mesmo saco” – merecedores um do outro.

Quando o perdão torna-se um paradoxo.

Perdão paradoxo é perdoar o outro ofendendo-o; vou perdoá-lo porque é um infeliz, um pobre coitado! – Pessoas que assim agem, são no mínimo cruéis enrustidas, travestidas de boazinhas.

Também os pseudo/apaziguadores ganhariam mais ficando quietos; pois, são capazes de ofender verbalizando ou não. Não ligue! – Você está muito acima dele que é um pobre de espírito, um coitado que não tem nem onde cair morto! – E outras pérolas do gênero.

Outra armadilha a ser evitada no treinamento do perdão, é o tipo: perdão/defensivo; quando a pessoa perdoa para se defender do outro.

O comodismo nos engana.

Deixamos o que necessita de mudanças em nosso caráter para depois; esperando a resolução das ofensas por si só.

O medo de mudar as escolhas e de enfrentar conseqüências; nos leva a adiar enquanto seja possível o estudo delas.

O impulso primário, é o de deixar tudo como está; na esperança de que os acontecimentos se modifiquem de forma mágica. Não se desenvolve um padrão de atitudes de não violência, esquecimento das ofensas e perdão de forma passiva – é preciso muita determinação e raciocínio.

A falta de um método simples e prático atrapalha.

Costumamos encher o balde da tolerância, acumulando pequenas ofensas diárias não resolvidas.

Um dia, uma dessas pequenas ofensas nos leva a uma reação inusitada para a imagem de “penico das cacas de personalidade dos em torno” que montamos na convivência diária; na qual, o efeito supera em muito a causa; para espanto dos que conosco convivem.

Para piorar as coisas, a reação de espanto da outra pessoa ao não entender nossa atitude do momento, enche mais ainda nosso balde da tolerância das ofensas; pois, nos sentimos ofendidos pela falta de compreensão da nossa vítima.

Melhor se modernizar; substitua o penico da tolerância pelo vaso sanitário do raciocínio – Não esqueça de dar descarga sempre que alguém faça caca ali; verbalize, manifeste-se, depois de analisar a situação – Desinfete com o desodorante da inteligência – Perfume com o aerosol da empatia – Mas, por motivo de segurança: mantenha a tampa fechada.

Essa é uma atitude de grande valor ecológico. Melhore-se, deixe de ser uma criatura poluente. Não jogue caca no ventilador do planeta; deixe de ser uma criatura poluidora.

Que razão nos leva a esse disparate? Devido ao mecanismo de nos sentirmos vítimas uns dos outros; nós achamos que as pessoas devem ter bom senso; ou, uma bola de cristal para perceberem, como, quando e quanto nos ofendem ou melindram.

Os culpados íntimos são negados.

Tal e qual as crianças; nós quase sempre buscamos culpados externos quando nos sentimos ofendidos ou melindrados.

Nosso egocentrismo nos leva a ignorar que cada defeito de caráter nosso, é um poderoso imã capaz de atrair as situações necessárias ao reajuste; nós nos sentimos a vítima dos outros quando somos vítimas de nós mesmos.

Apenas acusamos a ação das atitudes alheias machucando nossa suscetibilidade; ferindo nossa sensibilidade exagerada; pisoteando nosso orgulho; castrando nosso egoísmo – Dar uma olhada na nossa intimidade; nem em sonho; pois, somos as vítimas dodóis da falta de sensibilidade dos outros…

Falta de vontade real.

Desculpas e justificativas são nossa especialidade – mas, mesmo para quem já está desperto para o problema; no início falta clareza, uma parte de nós já identifica a necessidade de perdoar; mas outra ainda não tem o mesmo desejo ou até sente prazer na vingança.

Há um conflito íntimo entre a razão e a emoção que anula a energia capaz de atuar.

Vontade pode ser caracterizada como a energia do saber do pensamento; dinamizada ou potencializada pelo sentimento capaz de desencadear uma atitude ou ação.

Amanhã, daremos uma receita simples de manejo do esquecimento das ofensas e do perdão.

Material para reflexão: Ofender-se é humano; perdoar é Divino – essa afirmação é falsa ou verdadeira? Será que Deus perdoa nossas ofensas?

Nota: o presente texto é uma continuação do artigo “Aprender a perdoar é um santo remédiohttp://www.ecodebate.com.br/2010/06/10/aprender-a-perdoar-e-um-santo-remedio-artigo-de-americo-canhoto/”.

Américo Canhoto: Clínico Geral, médico de famílias há 30 anos. Pesquisador de saúde holística. Uso a Homeopatia e os florais de Bach. Escritor de assuntos temáticos: saúde – educação – espiritualidade. Palestrante e condutor de workshops. Coordenador do grupo ecumênico “Mãos estendidas” de SBC. Projeto voltado para o atendimento de pessoas vítimas do estresse crônico portadoras de ansiedade e medo que conduz a: depressão, angústia crônica e pânico.

* Colaboração de Américo Canhoto para o EcoDebate, 14/06/2010

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