Fatos sobre Belo Monte, artigo de Hermes Fonsêca de Medeiros
O governo nega, mas nada impede, legalmente, que outras cinco usinas sejam construídas, como estava planejado originalmente
[Folha de S.Paulo] Em 19/5, Rogério Cezar de Cerqueira Leite veio à Folha defender o projeto da hidrelétrica de Belo Monte (“Belo Monte, a floresta e a árvore“, “Tendências/Debates”).
Apesar de se basear mais em ofensas do que em argumentos -chamou os críticos à usina de “ecopalermas”, “fanfarrões” e “pseudointelectuais”-, seu texto tem grande potencial de desinformar, por ter sido publicado aqui. Do ponto de vista ambiental, Cerqueira Leite afirmou que o único problema seria a perda de biodiversidade na área de florestas a ser inundada pela usina, um equívoco.
Os dois maiores impactos ambientais do projeto são a destruição de uma das maiores bacias hidrográficas do mundo e a aceleração do desmatamento. Ou seja, para ser eficiente em geração de energia, Belo Monte necessita de pelo menos mais uma represa no Xingu para produzir o ano todo. O governo nega, mas nada impede, legalmente, que outras cinco usinas sejam construídas, como planejado originalmente.
Belo Monte também atrairia centenas de milhares de pessoas para a região, sendo que, ao final das obras, restariam só 900 empregos (conforme dados do projeto).
O que restará aos demais são atividades que levarão a um aumento incontrolável no desmatamento.
Por outro lado, o projeto prevê o deslocamento do rio para outro curso, deixando com filete de água 100 km de corredeiras no trecho do Xingu conhecido como Volta Grande, que é considerado “de importância biológica extremamente alta” pelo Ministério do Meio Ambiente, com espécies endêmicas.
Nos próprios estudos do projeto, cinco das equipes que estudaram a região afirmam que a vazão residual é insuficiente para impedir a destruição dos ecossistemas da Volta Grande.
Também são esperados impactos em outras áreas extremamente importantes, como um arquipélago fluvial, cavernas, 30 terras indígenas e 12 unidades de conservação.
Cerqueira Leite diz que o índio “pouco ou nada sofrerá”. Duas terras indígenas estão às margens da Volta Grande, e todas sofreriam pela imigração. Os índios se posicionam com base nas experiências de outras tribos no enfrentamento de fatos semelhantes, portanto, falam com muita propriedade.
O autor diz ainda que as hidrelétricas reduzem as emissões de gases de efeito estufa. Esse é um erro grave, afinal, ele é físico.
Hidrelétricas produzem metano, pelo menos 25 vezes pior do que o CO2 na promoção do efeito estufa.
Estudos sobre o aproveitamento hidrelétrico do Xingu indicam que ele seria tão ruim quanto ou até pior do que termoelétricas capazes de gerar energia equivalente.
Isto sem contar com o carbono da aceleração do desmatamento, nossa principal contribuição para o aquecimento global.
Hermes Fonsêca de Medeiros, 37, biólogo, mestre e doutor em Ecologia pela Unicamp, é professor da UFPA (Universidade Federal do Pará) e faz parte do Painel de Especialistas para Avaliação Independente dos Estudos de Impacto Ambiental de Belo Monte.
Artigo originalmente publicado na Folha de S.Paulo.
EcoDebate, 02/06/2010
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Cerqueira Leite é pai de sócio da Matisse
quinta-feira, 16 de novembro de 2006 | 14:03
Não é proibido ser pai do sócio da Matisse, a agência que teve um crescimento espetacular no governo Lula.
Não é proibido defender o professor Emir Sader.
Não é proibido ser físico.
Não é proibido ser ignorante em Direito.
Não é proibido defender o PT e Lula em artigo.
Não é proibido criticar decisão judicial que desagrada a petistas.
Quando tudo isso se junta numa só pessoa, como é o caso de Rogério Cezar de Cerqueira Leite, aí as coisas se complicam um pouco. No mínimo, o papel de “o juiz do juiz” não lhe cabe. Ele é pai de Sérgio Cerqueira Leite, um dos sócios da agência Matisse, que teve um crescimento espetacular no governo Lula. Isso pode não fazer de Cerqueira Leite um “juiz”, em si, suspeito. Mas, antes que alguém gritasse a sua suspeição, ele mesmo deveria ter-se declarado impedido de fazer como um Moisés do Direito — matéria de que ele, de resto, não entende nada.
A mulher de Cesar, o outro, tinha de ser honesta e de parecer honesta. Cezar, o pai de Sérgio, tem de ser isento. E, no caso, como a questão é pública, de parecer também. Os banqueiros podem não ter alma, como acusa Cezar. E, a alguns físicos, falta bom senso, para dizer pouco.
Reinaldo Azevedo.