Faculdade de Ciências Farmacêuticas da USP estuda potencial alimentar de algas do Sudeste do Brasil
L. intricata, uma das quatro espécies coletadas no litoral do Espírito Santo
Cientistas da Faculdade de Ciências Farmacêuticas (FCF) da USP estudaram quatro espécies de algas marinhas coletadas no litoral do estado do Espírito Santo. Segundo o estudo, as espécies possuem moléculas como fonte de proteínas, aminoácidos, lipídeos e ácidos graxos – essenciais para seres humanos e animais. “As análises bioquímicas mostram que as algas podem ser utilizadas na indústria alimentícia e de cosméticos”, aponta o professor Ernani Pinto, do Departamento de Análises Clínicas e Toxicológicas da FCF.
As espécies de algas bentônicas Laurência filiformis, L. intricata, Gracilaria domingensis e G. birdiae – pertencentes à classe Rhodophyta, conhecidas como algas vermelhas – foram coletadas em 2008 como parte de um projeto de doutorado apoiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), orientado por Ernani Pinto e realizado pela química Vanessa Gressler. “O projeto ainda está em andamento, mas já obtivemos resultados interessantes quanto à composição bioquímica das algas”, revela o professor. Segundo ele, no Brasil há poucos grupos que se dedicam a estudar estas espécies.
Os estudos com as algas, de acordo com o docente, foram todos encaminhados com a devida autorização do Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Renováveis (IBAMA). “Apesar de no Brasil haver pouco extrativismo de algas, no Nordeste, onde algumas empresas fazem o cultivo, ainda há a extração irracional. Há um projeto piloto interessante em Ubatuba, no litoral Norte de São Paulo, conduzido pelo Instituto de Pesca local”, lembra Ernani Pinto.
Incentivo à indústria
As quatro espécies coletadas, de acordo com o professor, ocorrem em maior número justamente na região Sudeste, nos estados do Rio de Janeiro e Espírito Santo. Contudo, nestes locais ainda não existe um grande incentivo à produção ou extração do produto.
Ernani descreve que entre os principais compostos encontrados nas algas está o ágar, que pode ser usado tanto na indústria alimentar quanto de cosmético. “Essas espécies também produzem a carragenana, um agente espessante usado na composição de gelatinas e que também serve para consumo medicinal”, lembra o professor. Segundo ele, tanto a carragenana quanto o ágar são polímeros de açúcares encontrados nas algas. Além disso, elas apresentam compostos fotoprotetores, como os aminoácidos tipo micosporinas (chinorina, palitina, asterina e palitinol), que podem ser aplicados na produção de bloqueadores solares, além de compostos antioxidantes.
De acordo com as análises realizadas, o conteúdo total de lipídeos nas quatro espécies variou de 1,1% para 6,2%; de ácidos graxos de 0,7% para 1,0%; proteína solúvel de 4,6% para 18,3% e aminoácidos de 6,7% para 11,3%. Os resultados mostraram que aproximadamente 50% dos aminoácidos presentes nestas espécies são aminoácidos essenciais e também que as algas são ricas em ácidos graxos poliinsaturados (PUFAs) das séries w3 e w6, os quais são considerados ácidos graxos essenciais. Os percentuais, segundo o pesquisador, indicam que as quatro espécies são potenciais fontes de proteínas dietéticas, aminoácidos e ácidos graxos essenciais para seres humanos e animais.
Para o professor, a identificação bioquímica das quatro espécies é mais um incentivo para a implantação de cultivos racionais de algas no Brasil. “São iniciativas que poderiam envolver pescadores locais, principalmente em períodos de entre safra da pesca”, sugere o pesquisador.
Os resultados das análises bioquímicas das algas foram recentemente publicados na revista internacional Food Chemistry com o título Lipídeos, ácidos graxos, proteínas, aminoácidos e cinzas em quatro espécies brasileiras de algas vermelhas.
* Imagem cedida pelo pesquisador
Reportagem de Antonio Carlos Quinto, da Agência USP de Notícias, publicada pelo EcoDebate, 01/06/2010
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