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Artigo

Pula Totó!! artigo de Américo Canhoto

[EcoDebate] Há ou deveria haver significativas diferenças entre educar uma criança e adestrar um cão. Deveria.

Recomendam os entendidos em adestramento dos totós que a educação do filhote deve começar por volta dos 2 meses de idade.

Quando começar a educar uma criança? Diz o bom senso que até antes da gestação. O problema não é tanto a educação da criança em si; mas, a reeducação dos pais.

Até as pessoas que detém alguma capacidade em se tratando de inteligência cognitiva, afetiva e emocional não se preparam; mesmo sendo dotadas de pedigree cultural – A maioria teima em transferir a educação dos filhotes para educadores profissionais (treinadores/adestradores).

Segundo preconizam os adestradores na fase de educação básica do animal não há primeira, segunda ou terceira lição; o treinamento deve ser constante no dia a dia.

Assim como papagaios não adestram cães; pais que só discursam ou gritam também não educam crianças.

Neste bate papo vamos usar algumas etapas do treinamento de cães como linha de raciocínio nada crítico; apenas comparativo (ainda não tomei vacina contra raiva).


Na aprendizagem do certo e do Errado

As semelhanças são inevitáveis – o filhote de totó é como uma criança – é preciso ensinar desde cedo a diferença entre o certo e o errado senão ele cresce mal educado como os de rua; e daí o bicho pega na periferia.

O segredo é repreender na hora certa e elogiar sempre que faz a coisa certa.

Uma dica dos instrutores: quando elogiar seu cão mostre entusiasmo e o contato físico deve acompanhar as palavras.

Esse é um dos grandes erros no treinamento de humanos; boa parte dos pais se especializa em cobrar dos filhos ou compará-lo com os irmãos.

Nem sempre os elogios vêm acompanhados de carícias; especialmente se estiver saudável; já quando está dodói é beijinhos e afagos prá todo lado.

Se precisar repreender o animalzinho, faça-o logo após o acontecimento e demonstre que não gostou. Não bata nele nem o agrida de qualquer forma; apenas olhe em seus olhos e diga – Não! – num tom bem enérgico – e se ele fizer alguma gracinha não ria; nem se desmanche em mesuras – Não é preciso gritar; apenas mostre a ele quem manda.

Na educação das crianças; algumas apanham quando os treinadores perdem a paciência ouvem 30 ou 40 NÃO PODE ao dia; mas, sem nenhum conteúdo – e depois, de algum tempo perdem a noção do que seja negação ou permissão e tornam-se a projeção humana de Marley e Eu. Observe muitas famílias; quem manda? É o filhote.

Dormindo no local correto
Na instrução do animal é preciso treiná-lo a dormir, descansar e tirar suas sonecas no lugar certo: sua caminha. Ao se acostumar ele cria um ambiente de descanso para todos. Não dê comida para os bichos á noite. Ensine-o a fazer suas necessidades fisiológicas rotineiramente antes de dormir – se morar num apto forre um local com fixo – para que não suje a casa toda. Leve seu animal para fora e não o ponha para fora de casa.

Humanos apresentam uma incrível dificuldade para colocar seus filhotes dormindo no seu próprio espaço – e depois, se arrependem amargamente e até querem algo para dopar o bichinho.

Instituir uma rotina de necessidades fisiológicas nos humanos é mais difícil pelo uso das práticas fraldas. Quando conseguem treinar os filhotes a abandonar as fraldas para fazer suas necessidades no local correto sentem-se verdadeiros heróis.

Algumas crianças são tão mal treinadas que fazem suas necessidades nos locais mais absurdos.

As Primeiras Noites
Animais precisam de referência; quando adotar um filhote procure levar um objeto que tenha cheiro da sua mãe; um pano em que ela estiver deitada, um jornal; qualquer coisa. Nas primeiras noites o animalzinho pode estranhar, ganir, uivar – esse é o momento em que roupas velhas, brinquedos favoritos, rádio ligado, luminosidade fraca. O importante é não ceder tirando o animal de sua caixa. Conversar com ele pode; mas, com firmeza nesse primeiro confronto de vontades nas primeiras noites. Energia e carinho são requisitos básicos para que o cãozinho aprenda a dormir profundamente sentindo-se amado e seguro.

Nos humanos a referência é a mãe; mas, alguns fazem o seio materno de chupeta – alimentam-se á noite. Apenas dormem com luzes acesas. Os pais cedem e levam o filhote para seu próprio local de dormir – depois querem uma mágica para destreinar ou recondicionar os maus hábitos.

Até que idade você carregou seu famoso “cheirinho”? Ainda dorme com TV ligada? Luz acesa?

Fazendo as necessidades no lugar correto
Filhotes têm um relógio biológico perfeito: após comer, correr, brincar. Acostume-o a fazer suas necessidades sempre no mesmo lugar. Eles são limpos por natureza; não evacuam nem urinam perto dos locais onde dormem e comem. Escolha onde será o banheiro oficial do cão, antes de começar a treiná-lo. O local deve ser de fácil acesso e limpeza; sempre que possível forre-o com jornal que pelas suas características é a fralda do bicho. Molhe uma ponta de um jornal com a urina do bicho e deixe-a sempre por cima para que através do seu odor ele a procure como referência para fazer suas necessidades. Leve-o sempre até o jornal após as refeições. Como saber? Ele começa a andar em círculos, fica inquieto e cheira o chão – é hora de levá-lo ao banheiro. Elogie sempre o bicho assim que ele terminar. Acidentes sempre são possíveis; quando ocorrer desinfete o local e tire o cheiro.

Os filhotes de humanos nos primeiros meses têm um relógio biológico perfeito – mama: evacua. Mas, a encrenca chamada fralda cria a maior confusão e depois as pessoas que seguem o treinamento do papagaio atrapalham tudo; e as crianças desaprendem o momento certo de evacuar e de fazer xixi sem que precisem receber ordens. Elas sinalizam quando querem fazer suas necessidades; o problema é os adultos perceberem e arranjarem tempo para treiná-las.

Dieta
Filhotes de cão mamam leite de cão – depois, comem o que corresponde à raça.

Comiam; hoje a praticidade da ração canina criou uma infinidade de doenças nos bichos. Alguns donos e tratadores enchem o pote de ração e deixam 24hs por dia – hoje, os bichos apresentam doenças de humanos.

Do lado humano é pior.
Esse assunto dá pano prá muitas mangas; algumas já abordadas nos assuntos discutidos nos vários blogs que mantemos.

Mas, vale a pena ressaltar o uso do alimento como prêmio para “bom comportamento” – coisas básicas como encher a pança de arroz e feijão e depois receber de presente a tal da mistura. A sobremesa é o cúmulo do prêmio por bom comportamento por não deixar nada no pote (melhor; no prato).

Mas, a melhor cópia do treinamento dos animais; ao avesso; são as guloseimas (balas, chiclets, bolachas e os famigerados e fedidos chip) – os totós são premiados por bom comportamento e ao mostrar suas habilidades – já, as crianças recebem como prêmio as tranqueiras para ficarem quietas.

Um absurdo treinamento ao contrário.
Claro que essa raça com ou sem pedigree não poderia dar certo.

Os treinamentos de cães reforçam o lado positivo: Pula totó! (ganha um biscoitinho e um afago) – Deita totó! (ganha outro e mais carinho) – Que lindo! – Bem treinado esse seu totó! Parabéns!

Loucura total: Os filhotes de humano recebem as guloseimas para ficarem quietos e ao invés de carinho e afago: agressões físicas, afetivas, verbais: Fica quieto! Se comporta! Vai ver quando chegar em casa!

Pegando leve:
Coitadas das crianças recebem prêmio para fazer tudo ao contrário: a vovó acabou de chegar e pede pro neto fazer tchau? – e dá-lhe guloseima para premiar a nova aquisição de treinamento…

Mães andam com a bolsa cheia de tranqueiras para eventuais emergências educacionais.

Verdade ou mentira?
Se você tem filhotes pequenos em fase de treinamento; dê um susto em você mesma; e despeje o que tem na bolsa – assuste-se; mas, sem ganir nem latir. E por favor, não se estresse para não começar a soltar pêlo.

Melhor parar por aqui; pois a comparação entre veterinários e pediatras pode nos deprimir.

Mas, por favor, não rosne nem lata para seus pais – eles o treinaram segundo as normas e os padrões… Se nos tornamos tomba lata é nosso problema.

PULA TOTÓ!

Dá a patinha! – Vamos fazer as pazes!

Américo Canhoto: Clínico Geral, médico de famílias há 30 anos. Pesquisador de saúde holística. Uso a Homeopatia e os florais de Bach. Escritor de assuntos temáticos: saúde – educação – espiritualidade. Palestrante e condutor de workshops. Coordenador do grupo ecumênico “Mãos estendidas” de SBC. Projeto voltado para o atendimento de pessoas vítimas do estresse crônico portadoras de ansiedade e medo que conduz a: depressão, angústia crônica e pânico.

* Colaboração de Américo Canhoto para o EcoDebate, 27/05/2010

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