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Parâmetros para a biodiversidade, na visão de Thomas Lovejoy

Ambientalista norte-americano diz que as metas de 2010 para a redução da perda de biodiversidade mundial, estabelecidas pela Convenção sobre Diversidade Biológica, ainda não foram atingidas por nenhum dos 190 países signatários

As metas de 2010 para a redução significativa da perda de biodiversidade e da taxa de extinção dos organismos vivos do planeta, estabelecidas pela Convenção sobre Diversidade Biológica (CBD), ainda não foram atingidas por nenhuma das 190 nações que integram esse que é o principal fórum mundial, criado em 1992 no Rio de Janeiro, para a definição de marcos legais e políticos relacionados ao tema.

“Nem todos os indicadores associados à redução da biodiversidade global são negativos, mas há ainda um enorme trabalho a ser feito pela frente. O Índice de Planeta Vivo, ou LPI, que é calculado regularmente pelos países, por exemplo, tem atualmente uma tendência global negativa, principalmente devido à drástica redução de grupos específicos de organismos que vivem nos trópicos”, disse o ambientalista norte-americano Thomas Lovejoy, presidente do Heinz Center for Science, Economics and Environment, nos Estados Unidos, em palestra proferida no sábado (22/5), no Palácio dos Bandeirantes, em São Paulo.


Segundo ele, essa perda de biodiversidade não está ocorrendo apenas com os animais silvestres, mas também com espécies que os seres humanos dependem diretamente, como as raças que produzem alimentos.

“Também não está havendo um trabalho efetivo para a proteção desses animais pelos países signatários da convenção”, explicou durante sua apresentação que marcou as homenagens ao Dia Internacional da Biodiversidade. O evento foi promovido pelo Programa Biota, da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).

Lovejoy, que também é consultor chefe para biodiversidade do Banco Mundial, presidiu a revisão da terceira edição do relatório intergovernamental “Panorama de Biodiversidade Global”, organizado pela Convenção sobre Diversidade Biológica. O documento, que avalia a situação atual e tendências da biodiversidade em todo o mundo, está disponível para consulta pública na internet no endereço http://gbo3.cbd.int/

Segundo ele, o relatório mostra, entre muitas outras questões, que as mudanças climáticas deverão progredir ainda mais nos próximos anos, em proporções exponenciais e com impactos cada vez mais difíceis de controlar. E tais mudanças farão com que muitos organismos migrem para outras direções do planeta, ao ponto de as espécies sobreviventes se reagruparem em novas configurações biológicas, cujas características também serão difíceis de prever.

A boa notícia, no entanto, é que nos últimos 10 anos houve um aumento significativo das áreas protegidas em todo o mundo, tanto marinhas como terrestres. “Dois terços dessas áreas estão aqui no Brasil, sobretudo na região amazônica que, em pouco mais de quatro décadas, conseguiu ter 57% de seu território com algum tipo de proteção ambiental, o que acabou gerando uma redução nas taxas de desflorestamento no país como um todo”, apontou.

De acordo com Thomas Lovejoy, devido à clara relação entras as mudanças climáticas e a perda de biodiversidade no planeta, o relatório também sugere que os países enxerguem a terra de modo cada vez mais integrado e como um “grande ecossistema biofísico”.

“Apesar da perda de biodiversidade ser um problema biológico em si, ela é influenciada por todos os problemas climáticos que afetam os organismos vivos. O planeta não funciona apenas como um sistema físico: existe um elo muito forte entre a parte física e a biológica do planeta. Olhando sistematicamente a terra dessa forma, os países terão mais condições de ajudar os ecossistemas a superarem parte dos estressores climáticos e também conseguirão encontrar melhores formas de integrar as características da natureza com seus interesses econômicos”, disse.

Para ele, “as restaurações dos ecossistemas globais podem gerar taxas de retorno que sejam interessantes a qualquer banco de investimentos no mundo.” “Por isso, a comunidade científica internacional tem esperança que os ecossistemas consigam retirar o peso dos gases de efeito estufa da atmosfera, fazendo com que a terra seja mais resiliente às mudanças climáticas e aos estresses humanos, criando uma nova economia que seja capaz de extrair valores do meio ambiente. Não se trata de uma privatização da natureza, mas fazer o melhor para que suas externalidades sejam colocadas no sistema econômico mundial. Esse é o grande desafio ambiental para as próximas décadas”, apontou.

Lovejoy também chamou a atenção para a necessidade de os países incorporarem uma gestão ambiental mais integrada entre as escalas “regional e planetária”. Para ele, os países devem começar a olhar para os problemas ambientais sempre em escala global, mas agir em nível local, principalmente no que diz respeito aos gases de efeito estufa que, emitidos em grande parte pelos combustíveis fósseis, há anos vêm destruindo os ecossistemas do planeta de forma insustentável.

“Esses gases se mantêm na atmosfera por longos períodos e, por isso, temos que encontrar novas formas de parar de emiti-los e também descobrir novas metodologias para retirar os gases que já estão na atmosfera. E nós já temos uma forma que vem em minha mente imediatamente, que é o estudo mais aprofundado sobre a biologia dos ecossistemas”, disse.

Nesse contexto, ele citou os estudos com as angiospermas modernas, além de novos fungos e bactérias capazes de retirar o CO2 da atmosfera e contribuir para o aumento da biodiversidade dos ecossistemas terrestres. “Está na hora de sermos mais pró-ativos e pensarmos o ecossistema em escalas cada vez maiores. Não dá mais para termos atitudes defensivas no que diz respeito à proteção dos nossos recursos biológicos.”

Lovejoy concluiu seu discurso fazendo comparações entre a capacidade científica e tecnológica instalada no Brasil e no mundo. “Cada vez que olho para os outros países e vejo os grandes líderes mundiais discutindo essas questões, sempre me lembro das afirmações de Rubens Ricupero, que coloca o Brasil no patamar de uma grande potência ambiental”, afirmou Lovejoy.

“As entidades científicas do Brasil estão entre as melhores do mundo e o país desenvolve estudos extremamente inovadores no setor dos biocombustíveis, por exemplo, que poderão garantir a proteção dos ecossistemas nos próximos anos. Mas volto a insistir que devemos prestar mais atenção às transformações na biologia do planeta para que ele continue sendo um lugar habitável nos próximos anos”, disse.

Lovejoy estuda a região amazônica há quatro décadas, residiu no Brasil por 17 anos e introduziu o termo “diversidade biológica” na década de 1990. O biólogo conservacionista foi cientista chefe e conselheiro da Instituto Smithsonian, vice-presidente executivo do World Wildlife Foundation (WWF-Estados Unidos) e membro de conselhos e comitês de ciência e meio-ambiente nas administrações dos presidentes norte-americanos Ronald Reagan, George Bush e Bill Clinton.

Informe da Assessoria de Imprensa da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência-SBPC, publicado pelo EcoDebate, 25/05/2010

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