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Artigo

Dos ‘puros’ aos ‘zombeteiros’, artigo de Montserrat Martins

[EcoDebate] Os filmes que seduzem multidões, hoje, são diferentes dos mais antigos não só pela tecnologia, mas também porque os personagens são menos esteriotipados entre o “bem” e o “mal” (compare as novas versões dos super-heróis Batman e Homem-Aranha com as do passado), são mais “humanos” nos dois sentidos. Se “a arte imita a vida”, essa tendência do cinema reflete a evolução da sociedade no sentido de ser mais tolerante com as diferenças e estimular menos as guerras entre “donos da verdade”, motivo de tantas matanças na história da humanidade, até em nome de Deus.

Por trás da disputa pelo poder de definir quem está do lado do “bem” e do “certo”, sempre é bom lembrar que só temos capacidade de ver, nos outros, o que temos dentro de nós mesmos. Só pessoas que prezam alguns “ideais” são capazes de enxergá-los nos outros, assim como só com alguma malícia somos capazes de perceber expressões carregadas de “veneno”, pelo modo como são colocadas, de forma mais sutil ou nem tanto.

Qualquer grupo social tem diversos tipos de personalidades em seu interior, dos mais “puros” aos mais “zombeteiros”. Nos debates mais triviais (da novela ao futebol, por exemplo) já se podem notar essas diferenças, nas quais as pessoas generalizam seus pontos de vista, atribuindo-os a todos (quem já não ouviu “homem não presta” ou “mulher não presta” nessas rodas ?). Desde quem procura ver algo de bom em cada um, defendendo que “no fundo todos tem algo de bom”, até quem malicia tudo e vê espertezas em todos, há uma ampla gama de “biodiversidade humana” na percepção do comportamento dos outros.

E quem está com a razão ? Ao contrário do chavão que diz que a verdade está no “meio termo”, não existe uma posição “intermediária”, que possa negar a existência de todos os defeitos e qualidades que as pessoas se atribuem umas às outras. Todos tem razão, no sentido de que o que vêem nos outros, se não estiver dentro deles, está dentro de si mesmo. A realidade, então, é a “soma das partes”, o somatório de todas as nossas percepções em conjunto. Somos tão bons e tão ruins (em tantos aspectos diferentes) quanto formos capazes de enxergar.

Discussões apaixonadas que envolvem grupos inteiros, às vezes por coisas muito pequenas (com verdadeiros “shows” dramáticos de argumentos parciais e generalizações para todos os lados), podem ser uma grande “viagem”, como disse uma vez um “magrão” adolescente que, olhando para os lados e vendo todos no maior tumulto, perguntou em voz alta: “bah, cara, o que é que eu tou fazendo nesse filme ?”.

Montserrat Martins, Psiquiatra, é articulista do EcoDebate.

EcoDebate, 17/05/2010

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