Lixo ou resíduos sólidos, artigo de Roberto Naime
Foto: ABr
[EcoDebate] Resíduo deriva do latim residuu, que significa o que sobra de determinada substância. A palavra sólida é incorporada para diferenciar de líquidos e gases. A palavra lixo, provêm do latim lix, que significa lixívia ou resto. No Brasil, a norma NBR 10.004/07 atribui a seguinte definição aos resíduos sólidos:
Resíduo Sólido é todos aqueles resíduos nos estado sólido e semi-sólido que resultam da atividade da comunidade de origem industrial, doméstica, hospitalar, comercial, de serviços, de varrição ou agrícola. Incluem-se os lodos de Estações de Tratamento de Água (ETAs) e Estações de Esgotos (ETEs), resíduos gerados em equipamentos e instalações de controle da poluição e líquidos que não possam ser lançados na rede pública de esgotos, em função de suas particularidades.
Qual é a diferença entre lixo e resíduos sólidos? Nenhuma, antigamente os resíduos sólidos eram denominados lixo e fim. Atualmente há uma compreensão que os materiais separados, passíveis de reciclagem ou reaproveitamento recebem tratamento de resíduos sólidos, enquanto os materiais misturados e acumulados tem mais uma conotação de lixo.
Os resíduos sólidos são uma das principais causas da poluição do solo decorrentes dos acúmulos de embalagens de plástico, papel e metais, e de produtos químicos, como fertilizantes, pesticidas e herbicidas. O material sólido do lixo demora muito tempo para desaparecer no ambiente. O vidro, por exemplo, leva em torno de cinco mil anos para se decompor, enquanto determinados tipos de plástico nunca se decompõem, pois são resistentes ao processo de biodegradação promovido pelos microorganismos.
O lixo orgânico (restos de alimentos), no processo de decomposição, gera um líquido escuro, turvo e malcheiroso altamente poluente denominado de chorume (este líquido é dez vezes mais poluente que o esgoto doméstico). Este efluente tem a capacidade de dissolver tintas, resinas e outras substâncias químicas de alta toxidade contaminando o solo, impedindo o desenvolvimento das plantas.
No período chuvoso, em que o lixo se mistura com a água de chuva, o chorume encontra maior facilidade de infiltração no solo, contaminando os mananciais subterrâneos e de superfície (rios, lagos, córregos). O chorume pode permanecer por décadas no solo mesmo após o encerramento dos lixões, exigindo ações corretivas durante vários anos com o objetivo de remediar a contaminação.
Em relação aos gases provenientes da disposição do lixo, o metano é o componente mais problemático devido a sua elevada concentração (em torno de 300.000 vezes maior que a encontrada na atmosfera) exigindo técnicas sanitárias e ambientais apropriadas de controle. A concentração de metano superior a 5% é explosiva. O metano é o segundo elemento causador do efeito-estufa na atmosfera.
O uso de incineração produz fuligem e gases. Esta fumaça provoca muitos problemas alérgicos na população, principalmente entre as crianças. Em termos ambientais a queima do lixo destrói todas as propriedades coloidais e outras que são benéficas ao condicionamento dos resíduos nos solos. A queima de plásticos e isopor emite gases que poluem a atmosfera causando doenças e contribuindo para o efeito estufa. A falta de coleta pública leva as populações também a enterrarem o lixo.
O lixo é também o ambiente perfeito para a proliferação de doenças. Quando disposto no solo sem nenhum tratamento, o lixo atrai dois grandes grupos de seres vivos: os macro-vetores e os micro-vetores. Fazem parte do grupo dos macro-vetores as moscas, baratas, ratos, porcos, cachorros, urubus. O grupo dos micro-vetores como as bactérias, os fungos e vírus são considerados de grande importância epidemiológica por serem patogênicos isto é, causadores de doenças e nocivos ao homem.
Estes vetores são causadores de uma série de moléstias como diarréias infecciosas, amebíase, febre tifóide, malária, febre amarela, cólera, tifo, leptospirose, males respiratórios, infecções e alergias, encontrando no lixo um dos grandes responsáveis pela sua disseminação.
A leishimaniose, considerada pela Organização Mundial de Saúde (OMS) como uma das doenças infecciosas mais perigosas, vê a sua transmissão favorecida pelo acúmulo de lixo nos terrenos baldios e lixões que são locais extremamente favoráveis à reprodução e desenvolvimento do mosquito transmissor.
Outra enfermidade bastante conhecida dos brasileiros é a dengue. Transmitida pela picada do mosquito Aedes Aegypti, a doença pode levar à morte. As larvas reproduzem-se principalmente em pneus velhos, vasos de plantas, garrafas e outros locais onde a água da chuva fica acumulada. O sistema de coleta de lixo deve ser visto como uma medida preventiva, pois impede o acúmulo desses tipos de materiais próximos a população.
Uma das principais conclusões assumidas a nível internacional é a recomendação de se investir em uma mudança de mentalidade e valores, sensibilizando as populações para a necessidade de se utilizar novos pontos de vista e novas posturas diante dos dilemas referentes à degradação ambiental.
Resolver o problema dos resíduos sólidos pode significar muito menor demanda por serviços de saúde. A OMS estima que para cada dólar investido no saneamento básico, do qual a gestão de resíduos sólidos é um dos principais itens, mas não o único, podem ser economizados 4 dólares na gestão dos serviços de saúde.
Roberto Naime, Professor no Programa de pós-graduação em Qualidade Ambiental, Universidade FEEVALE, Novo Hamburgo – RS, é articulista do EcoDebate.
EcoDebate, 12/05/2010
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