Trabalhadores rurais atingidos pela transposição do rio São Francico protestam contra as obras
Mais de 200 trabalhadores e trabalhadoras rurais do assentamento Serra Negra e região vizinha, no município de Floresta (PE), realizaram uma manifestação na manhã do dia 5 de maio, no lote 9 do canal da Transposição do Rio São Francisco. Eles protestaram contra a situação das famílias do assentamento e da comunidade local que estão sendo diretamente atingidas pelas obras do empreendimento.
Durante a manifestação, os agricultores paralisaram os tratores e demais transportes das construtoras Camter e Egisa, responsáveis pelas obras no lote. A manifestação que contou com o apoio da Diocese de Floresta e de integrantes do Movimento dos Sem Terra, suspendeu o trabalho de cerca de 200 homens, que estavam em pleno serviço na ocasião.
A paralisação gerou ameaças por parte do engenheiro responsável pela obra, Daniel, que prometeu demitir no dia seguinte todos os trabalhadores que interromperam as atividades. Apesar da intimidação, o próprio engenheiro admitiu que se o Governo Federal não repassar os recursos, que estão atrasados, até o dia 30 de maio, a empreiteira também desistirá das obras.
Na ocasião, foram chamados ao local a Polícia Militar e o Grupo de Ações Táticas Especiais (GATE) com o objetivo de impedirem o ato.
Situação das famílias
A passagem das obras do canal pelo assentamento deixará um rastro de transtornos e destruição. Três casas de famílias assentadas, juntamente com o açude que abastece a comunidade serão derrubados. O Posto de Saúde da Família (PSF), que atende mensalmente mais de 400 pessoas na região, está também entre os prédios que serão demolidos.
Segundo Sandreildon José dos Santos, do assentamento Ramada da Quixabeira, em Iguaracy (PE), as famílias estão indignadas com a situação, já que a pressão é muito forte para que os agricultores desocupem logo a área. “Os trabalhadores que terão que sair de suas casas irão para onde? Todos eles estão vendo a hora de terem as suas moradias derrubadas e ficarem sem lugar para onde ir”. Ele diz também que falta garantia às famílias. “As indenizações que foram oferecidas não dão nem para construir novas casas”.
A situação tem se agravado, principalmente, porque há uma grande pressão para que o Posto seja destruído de imediato para dar continuidade às obras. “São 500 famílias atendidas mensalmente pelo Posto da Saúde da Família que ficarão sem o serviço”, reclama Sandreildon.
Na manifestação, os agricultores e agricultoras cobraram do Ministério de Integração Nacional e do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) a construção imediata de um novo PSF na região, antes que o atual seja destruído. Os agricultores exigiram também uma solução para o açude que abastece a comunidade local e será destruído e o pagamento de indenizações mais justas para a Casa do Mel, onde trabalham os apicultores do assentamento e das casas e parcelas que serão destruídas pela Transposição.
O desbloqueio imediato dos créditos do assentamento, retidos desde o ano de 2004, a regularização fundiária nas áreas atingidas pelo canal da transposição e a diminuição da poeira excessiva ocasionada pelas obras do Projeto de Transposição na escola do assentamento, também foram incluídos na pauta de reivindicações.
Os agricultores presentes na manifestação conseguiram agendar para o dia 6 de maio, uma audiência pública entre os assentados atingidos pelas obras da transposição e representantes do Ministério da Integração Nacional para discutir e encaminhar a pauta de reivindicações.
DENIS VENCESLAU,CPT Pajeú (PE)
* Colaboração de Ruben Siqueira, CPT/BA, para o EcoDebate, 11/05/2010
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