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Desmatamento: Caatinga já perdeu 53,62% de sua cobertura original

Desmatamento: Caatinga já perdeu 53,62% de sua cobertura original
Infográfico do Correio Braziliense. Para acessar o infográfico no tamanho original clique aqui.

Segundo o Ministério do Meio Ambiente, a área também é a “mais vulnerável” aos efeitos das mudanças climáticas e corre sério perigo de desertificação

A caatinga, único bioma exclusivamente brasileiro, é conhecida como cenário de histórias do cangaço e dos heróis do escritor Ariano Suassuna; e por ser a terra do xote, do xaxado e do baião. Porém, poucos conhecem as riquezas ambientais da região que abriga 13 milhões de pessoas e está presente em 10 estados brasileiros. Esse bioma, encrustrado no semiárido, está agora ameaçado de extinção pelo crescente desmatamento de sua vegetação original. A constatação foi feita no estudo realizado pelo Ministério do Meio Ambiente (MMA) em conjunto com o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais (Ibama), que monitorou entre 2002 e 2008 todo o bioma. Reportagem de Silvia Pacheco, no Correio Braziliense.

Atualmente, a caatinga possui pouco mais da metade de sua cobertura vegetal original, cerca de 53,62%. O monitoramento também revelou que, no período em que foi realizado o estudo, o território devastado foi de 16.576km², o equivalente a 2% de toda a área. “Esse índice é considerado alto, pois a região figura como a mais vulnerável aos efeitos das mudanças climáticas, com forte tendência à desertificação”, aponta Mauro Pires, diretor do Departamento de Políticas de Combate ao Desmatamento do MMA (DPCD).

Para combater a devastação do bioma do semiárido, está sendo elaborado o plano de ação interministerial para Prevenção e Controle do Desmatamento na Caatinga (PPCaatinga). A proposta pretende integrar e articular iniciativas dos diversos órgãos dos governos federal e estaduais para implementar ações como o combate e controle do desmatamento e o fomento a atividades sustentáveis. A PPCaatinga deve sair do papel até o fim do semestre.

Entre as ações mais importantes, está o investimento e o desenvolvimento do manejo florestal — conjunto de técnicas empregadas para colher cuidadosamente parte das árvores grandes, de tal maneira que as menores, a serem colhidas futuramente, sejam protegidas. De acordo com os dados do estudo, a principal causa da destruição da caatinga é a extração da mata nativa para ser convertida em lenha e carvão vegetal. O combustível é destinado principalmente para alimentar os fornos dos polos gesseiro e cerâmico do Nordeste, e, também, para o setor siderúrgico de Minas Gerais e do Espírito Santo.

Manejo
Segundo Pires, já existem experiências bem-sucedidas no semi-árido com o manejo florestal da caatinga, feito por ONGs, comprovando que essa solução pode ser uma boa alternativa tanto para o desenvolvimento da região, como para a conservação do bioma. “Com a adoção do manejo, a produção de madeira pode ser contínua ao longo dos anos. Os benefícios econômicos do manejo florestal superam os custos”, explica.

A criação e a ampliação de unidades de conservação é outro ponto indicado como fator importante para a proteção do bioma. A caatinga tem apenas 7% de áreas protegidas, sendo que 2% são de proteção integral e os outros 5% são de unidades de conservação de uso sustentável. “Queremos ampliar áreas que tenham atrativos do ponto de vista do turismo, mas que tenham também importância biológica”, disse o diretor do DPCD. Para Élcio Barros da Silva, coordenador do Comitê da Reserva da Biosfera da Caatinga de Pernanbuco, a criação de áreas de conservação trará um dos melhores benefícios para o bioma. “A caatinga ainda é muito pouco estudada e seus recursos pouco conhecidos. Sabemos que existem, aproximadamente, 200 espécies de plantas no bioma, algumas só presentes nessa região. Não conhecemos o potencial de toda essa flora. Por isso, a importância dessas unidades.”

Diferentemente da Amazônia e do cerrado, onde há grandes fazendas de monocultura, na caatinga a agricultura familiar é muito mais intensa do que nos outros biomas. Por isso, o plano também visa apoiar o manejo e o desenvolvimento de melhores técnicas de produção agrícola sem a destruição da caatinga (1).

Problemas
A desertificação, certamente, é uma das maiores preocupações dos poucos especialistas que estudam a caatinga. A devastação da vegetação para abastecer o pólo gesseiro causa o empobrecimento do solo, acarretando o problema. Além de transformar a região num deserto, o desmatamento traz como consequência a perda de uma biodiversidade que mal é conhecida. “Algumas espécies só existem na caatinga. Se essa devastação continuar, talvez nem chegaremos a estudá-las, ou sequer conhecê-las”, disse Ednilza Maranhão, professora de zoologia e pesquisadora da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE).

Mesmo em áreas protegidas, ocorre a extração da madeira e, também, outro agravante: a caça. Segundo Maranhão, o Vale do Catimbau (PE) — área de proteção ambiental — sofre, além do desmate, com a presença de caçadores. “A caça é um problema cultural encrustrado tanto no povo carente quanto nos mais abastados. Ela diminui drasticamente a população de mamíferos e répteis.” A solução seria aumentar a fiscalização dentro dessas áreas. “Nesse parque, há apenas uma pessoa para cuidar de toda a área”, lamenta a pesquisadora.

Para sanar o problema de fiscalização no combate ao desmatamento, Pires disse que ações diretas e focadas, realizadas em conjunto com o Ibama e a Polícia Rodoviária Federal, serão tomadas para diminuir desde a produção de carvão ilegal até seu transporte. “Estamos levantando as regiões mais críticas para operar de forma efetiva à coibir toda essa ilegalidade.”

Depois dessas ações imediatas que serão adotadas na PPCaatinga, Mauro Pires disse que o MMA dará início a outro plano mais amplo, que reunirá ações estratégicas de médio e longo prazo. “Nesse sentido, será inserido o fomento ao conhecimento científico como forma de desenvolvimento e conservação da região.”

1 – Sem semelhantes
No planeta, não existe nenhum outro bioma com características semelhantes às da caatinga. A Amazônia abrange áreas de países limitrofes ao Brasil e tem similaridade com outros biomas situados em regiões tropicais. O cerrado tem características das savanas africanas. O Pantanal se extende por áreas do Paraguai e da Bolívia, onde recebe o nome de Chaco. A caatinga, não. Existe apenas no Nordeste brasileiro. Por isso, ela é única no mundo com tais características.

EcoDebate, 06/05/2010

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