Os nossos ídolos,artigo de Montserrat Martins
[EcoDebate] Minha propaganda de TV favorita (você tem a sua, eu sei) é aquela em que um cara tímido e desconhecido para nós era aclamado por uma sala inteira de colegas de trabalho, aparecendo então dizeres que explicavam as coisas que ele tinha inventado na área de informática e finalizava assim: “os nossos ídolos são diferentes dos seus”.
Imagino você lembrando não só dos seus ídolos, mas também dos de algumas pessoas que você conhece. Tem gosto pra tudo, não é ? Tem aquelas brincadeiras entre amigos do tipo “se você pudesse trocar de lugar com qualquer pessoa, com quem gostaria de trocar ?”. Lembro de uma turma de colegas onde as repostas variaram desde Steven Spielberg ou Presidente dos Estados Unidos até o Pato, o atacante do Milan. Ninguém pensou em ser alguém menos conhecido (como pessoas que fizeram “regressão a vidas passadas” dizerem que foram Cleópatra, Napoleão, etc…). Por isso “curti” aquela propaganda, não está mais no ar mas gostei do “espírito da coisa”, tem gente que não é celebridade mas que a gente admira muito e que são menos conhecidas do que deveriam, porque não trabalham sob os “holofotes” da vida pública, embora contribuam muito para a sociedade.
Vou me permitir citar algumas pessoas “acima de qualquer suspeita” (pelo menos não conheço quem as conteste profissionalmente) a quem devemos muito, mesmo que só quem trabalhe nas áreas deles saibam mais sobre o que fizeram ou fazem. Na saúde gaúcha, muitos milhares de pacientes foram beneficiados por médicos e administradores com a capacidade e dedicação de João Polanczyk, de Fernando Luchese e de Ivo Nesralla, na Santa Casa e no Instituto de Cardiologia. Na justiça, numa pesquisa nacional (apresentada agora em abril de 2010), o Judiciário apontado como o de maior confiança em todo o país foi o gaúcho, uma distinção merecida porque aqui nasceu o Juizado de Pequenas Causas (hoje Juizado Especial Cível) nos anos 80, revolucionário no sentido da desburocratização. Uma segunda revolução também está começando aqui, na chamada Justiça Restaurativa (pode conferir na internet, vale a pena), lançada sob a liderança de Leoberto Brancher e com a Comunicação Não-Violenta do Dominic Barter.
E para fazermos uma lista justa de pessoas que não são “ídolos populares” mas aos quais a população deve mais do que a todas as celebridades a que festeja, teríamos de incluir representantes das mais diversas áreas, como os Institutos de Educação, de Química e de Física da UFRGS, por exemplo, reconhecidos como de excelência nacional e até internacional. Poderíamos citar os anônimos que trabalham na recuperação de dependentes químicos, em instituições de diversas religiões e os voluntários de ONGs como a Ação Rua, entre outros que ajudam os mais necessitados e cuja gratificação é saber que contribuiram em algo para a felicidade – ou alívio do sofrimento – dos outros. Isso sem falar nos ambientalistas que, como Lutzemberger, sempre nos alertaram para os problemas que a sociedade enfrenta hoje. Sim, há também líderes empresariais inovadores, que contribuem para o desenvolvimento, mas estes com frequência já estão nas colunas sociais. E eu só queria citar mesmo, hoje – como naquele anúncio de TV – alguns ídolos que não aparecem na TV.
Montserrat Martins, Psiquiatra, é articulista do EcoDebate.
EcoDebate, 03/05/2010
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Gostei demais do artigo! Tenho o sentimento de que todos os trabalhos árduos e até muitas vezes mal remunerados, são completamente ignorados por nossa sociedade. Só valorizamos artistas, esportistas (principalmente jogadores de futebol). Tá, e como todos querem reconhecimento, todo mundo hoje quer ser artista. E não vemos incentivos, reconhecimento que levem nossos jovens para engenharia, direito, medicina e etc. Em alguns casos, depois que o jovem tenta a carreira artística e se decepciona é só aí que vai em busca de outros caminhos (estudo) para ganhar a sua vida. Neste caso, caindo na corrida dos ratos e gerando uma grande frustração. É quando vemos muitas pessoas estressadas, por não trabalharem naquilo que gostam. E aí vamos ter que decidir: ou vamos todos ser artistas (sem platéia) ou vamos valorizar (inclusive nas mídias) todos os profissionais. Sugiro até, um “Oscar” dos melhores médicos, melhores garis, melhores vendedores, e por aí vai…