Pesquisadores apontam alto consumo de bebidas açucaradas por jovens
O estudo sugere que esforços para redução de energia por meio de fontes líquidas devam incluir também, além dos refrigerantes, os sucos, principalmente os industrializados
Associada a graves complicações na saúde, a obesidade na adolescência tende a persistir na fase adulta e, dentre os fatores a ela relacionados, está o consumo de bebidas açucaradas. No Brasil, os dados mais recentes da Pesquisa de Orçamentos Familiares do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) revelaram que o consumo de refrigerantes aumentou em até 400% na população entre os anos de 1975 e 2003. Com base nessa premissa, pesquisadores da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj) avaliaram a associação entre o consumo de bebidas açucaradas e leite com o índice de massa corporal (IMC) em 1.423 estudantes, entre 9 e 16 anos, de escolas municipais e estaduais de Niterói.
“O consumo de refrigerantes e sucos representou cerca de 20% do total de energia média consumida diariamente”, afirmam os pesquisadores em artigo publicado na revista Cadernos de Saúde Pública da Fiocruz. “O consumo de sucos pela população estudada representa fonte adicional e importante de calorias, além das provenientes dos refrigerantes, uma vez que 90% dos escolares reportaram o consumo de refrigerantes não dietéticos”.
Os resultados também apontaram que 60% dos estudantes tomam refrigerante, suco e guaraná natural regularmente, sendo os maiores percentuais encontrados na categoria de duas a seis vezes por semana. “É provável que o alto consumo de bebidas açucaradas decorra da propaganda indiscriminada destes produtos, atingindo facilmente domicílios e instituições de ensino, onde há uma aglomeração de crianças e adolescentes, estimulando o seu consumo nesta faixa etária”, comentam os pesquisadores. “Além disso, o baixo preço dessas bebidas, associado ao gosto agradável, também são fatores que incentivam o seu consumo”.
Em relação ao iogurte, aproximadamente 52% dos adolescentes referiram consumi-lo nunca ou quase nunca. Os dados ainda indicaram que quanto maior a faixa etária, menor o consumo de leite e maior a de refrigerantes. “Embora 93% dos estudantes tenha referido ingerir algum tipo de leite, menos de 40% deles relataram consumi-lo duas vezes por dia ou mais”, explicam os pesquisadores. “Esse achado é preocupante uma vez que a necessidade de cálcio dietético nessa faixa etária é alta e recomenda-se a ingestão de três porções de leite magro ou derivados, diariamente, visando à promoção da densidade mineral óssea e crescimento linear adequado durante o período da adolescência, e à prevenção da osteoporose e outras complicações provenientes da deficiência de cálcio na vida adulta”.
Segundo os pesquisadores, o consumo de sucos associou-se positivamente com IMC nas estudantes. “Verificou-se que entre as meninas, para cada aumento na frequência usual de sucos industrializados em geral, ocorreram incrementos na ordem de 0,02 kg/m2 no IMC, sendo este aumento estatisticamente significante”, elucidam os pesquisadores. No que se refere à contribuição no total de calorias ingeridas diariamente, nas meninas, refrigerantes corresponderam a 8,8%, sucos industrializados a 7% e sucos 100% naturais a 1,9%. Nos meninos, os valores foram 9,9%, 6,4% e 1,9%, respectivamente.“O estudo sugere que esforços para redução de energia por meio de fontes líquidas devam incluir também, além dos refrigerantes, os sucos, principalmente os industrializados, que são em geral considerados como parte de uma alimentação saudável. Mas, que se tornam veículos importantes de adição de açúcar”, concluem os pesquisadores.
Reportagem de Renata Moehlecke, da Agência Fiocruz de Notícias, publicada pelo EcoDebate, 08/04/2010
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