‘Diquemganha’, artigo de Montserrat Martins
[EcoDebate] Você jà deve ter visto alguna cena assim, de pai preguntando preferência para filho, tipo “você è do Grêmio ou do Inter” e o pequeno respondendo que è “diquemganha“. É quase irresistível a tendência que temos para aderir institivamente a quem está “na moda” e desfruta de popularidade e prestìgio, pois no nosso inconsciente isso fica associado â nossa própria expectativa de termos melhor conceito perante os outros. Torcer para quem ainda está sem prestìgio requer muito mais certeza nessa escolha, o que se chama também de “personalidade própria” – que está longe de ser uma qualidade comum.
A maioría das pessoas imagina ter a tal “personalidade própria” mas, de fato, esta é muito mais rara do que se imagina. Basta ver que qualquer nova tendência que surja na sociedade (seja na àrea cultural, esportiva, de comportamento ou na polìtica) recebe apoio de no máximo uns dez por cento do povo, na fase inicial – que os sociólogos chamam de fase do “prestìgio encoberto”. Somente quando esta parcela minoritária demonstra persistir, tornando forte tal tendência, é que outros grupos passam a aderir a novos comportamentos e idéias – atè o ponto em que essa nova tendência venha a se tornar sedutora também para a maioria que é “diquemganha“.
O gosto por aderir aos mais fortes ocorre mesmo quando a própria pessoa possa ter sido ou vir a ser perjudicada pelo pensamento a que adere. Essa necessidade psicológica foi descrita por Freíd como um processo inconsciente no qual até mesmo uma vítima se identifica com um opressor, como ocorre nos casos de sequestros no que se denomina de “síndrome de Estocolmo”. Mas isso está longe de ocorrer só em casos extremos como o deste exemplo, acontece de modo mais ou menos sutil em inúmeros episódios cotidianos e em todos os lugares – seja na familia, no trabalho ou na vida social mais ampla.
As pessoas desfavorecidas, em princípio, deveriam ser as primeiras a demonstrar interesse por idéias que levem a sociedade a mudar. Na prática, porém, acontece exatamente ao contrário – e hoje já podemos identificar que essa resistência ao novo independe do quanto tais pessoas podem ser informadas sobre os fatos. Ao invés de um fato objetivo ou racional, se trata de uma impotência psicológica que impede pessoas inseguras de aderirem a novas idéias antes que uma parcela grande da sociedade já o tenha feito.
Claro que esse quadro pode variar e se sabe de acontecimentos na história em que os desfavorecidos se uniram para mudar. Mas isso tem ocorrido em episódios que marcam o desenvolvimento social, mais que no dia-a-dia. Na maioria da vezes, no cotidiano ao nosso redor, poderemos observar que as pessoas que se sentem mais fragilizadas é que aderem mais ao “diquemganha“, o que demonstra o quanto somos inseguros mesmo quando nosso racional nos levaria a dar valor a novas formas de pensar, como melhores para nós e para os outros.
Montserrat Martins, Psiquiatra, é colaborador e articulista do EcoDebate.
EcoDebate, 26/03/2010
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Amigo.
As últimas gerações pouco pensantes e obesas de interesses construíram “monstrengos sociais” deste tipo; tão comuns na vida publica e “privada” nacional:
Três empreiteiros foram chamado para uma licitação da Olimpíada Rio 2016: um japonês, um americano e um brasileiro.
– Faço por US$ 3 milhões – disse o japonês.
– Um pela mão-de-obra, um pelo material e um para meu lucro.
– Faço por US$ 6 milhões – propôs o americano.
– Dois pela mão-de-obra, dois pelo material e dois para mim, mas garanto serviço de primeira!
– Faço por US$ 9 milhões – disse o brasileiro.
– Nove milhões ?,espantou-se o licitador. Por quê?
– Três para mim, três para você e três pro japonês fazer a obra.
– Negocio fechado!
E referendado pela união dos que já nasceram aposentados da ética.