Notícias do Paulinho, artigo de Montserrat Martins
[EcoDebate] Adolescente adora videogame, normal, meu filho inclusive me ensinou a jogar com ele. Os jovens gostam de criar também, por isso curtem tanto games, pela interatividade, pelo poder de expressar suas idéias do modo que cada jogo permitir. Deixar a sua “marca pessoal” registrada de algum modo, como fazem os pichadores nas ruas. Melhor, então, que façam isso nos jogos mesmo.
O que impressiona às vezes é o quanto essas vivências pessoais podem fazer parte da vida, como acontece quando os adolescentes falam dos personagens dos jogos como se estivessem falando dos amigos – se você estiver distraído, pensa que ele está contando uma história que aconteceu no colégio.
O nome “Avatar”, por exemplo, foi popularizado inicialmente no mundo virtual, se referindo ao personagem que cada pessoa criava para a sua “second life”. Isso pode ser feito em todos os jogos, agora, o que é uma boa alternativa para quem prefere ver os jovens criando seus apelidos e tipos em casa, ao invés de nos muros dos vizinhos.
No caso do meu filho, ele criou uma marca para camisetas de skate que vende pros amigos, a Breakshape. Prometeu que vai juntar dinheiro para registrar a marca, que vai levar a sério, achei legal para um guri de 15 anos. Só me preocupei esses dias, quando ele veio me contar notícias do Paulinho. “O Paulinho tá jogando muito, tu não tem noção”, ele falava entusiasmado, contando como o Paulinho driblava “demais”, chutava certeiro, etc. Custei a entender que não era um amigo dele, mas um jogador do Breakshape F.C. que ele havia “comprado” no mercado do futebol virtual, no videogame. Um vizinho (de verdade) dele, de 12 anos, foi ironizar esse entusiasmo com que ele falava dos jogadores, “ah, o Gambino joga bem, é ?” – mas depois de levar uns dribles do Gambino, se impressionou também e disse “bah, joga mesmo !”.
Já eu, vou custar a me acostumar com as notícias do Paulinho. Sou do tempo em que a gente contava as nossas histórias e as dos conhecidos. Pedi pra ele não me contar mais do Paulinho. Daí ele disse que tudo bem, o Paulinho tá na reserva mesmo, agora quem tá jogando muito é o Gambino.
Montserrat Martins, Psiquiatra, é colaborador e articulista do EcoDebate.
EcoDebate, 22/03/2010
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