Experimentos comprovam capacidade da fibra de coco de reter metais pesados, como o cádmio
Um filtro natural contra a poluição – No Instituto de Química (IQ) da USP, experimentos demonstraram que a adição de funções químicas à fibra de coco verde aumenta a sua capacidade de retenção, principalmente de alguns metais pesados. “A fibra de coco é um produto que, naturalmente, já possui uma capacidade filtrante”, descreve o professor Breno Pannia Espósito, do Departamento de Química Fundamental do IQ. Nos testes realizados em laboratório, os pesquisadores trataram o produto com solventes e reagentes que aumentaram essa capacidade, principalmente em relação ao cádmio, elemento químico usado na fabricação de pilhas, pigmentos e baterias.
Os testes foram realizados no Laboratório de Química Bioinorgânica Ambiental do IQ, onde os pesquisadores testaram a capacidade de retenção de metais como o cromo, chumbo e mercúrio. “Mas o que melhores resultados apresentou foi em relação ao cádmio. Para aumentar a capacidade de retenção das fibras, acrescentamos ao produto fósforo, enxofre e um grupo de hidroxilas”, explica Espósito.
Modelo na mineração – O professor explica que a ideia vem de um processo semelhante ao utilizado na mineração. “Na indústria de mineração podem ser utilizados quelantes, que são produtos químicos que removem os metais de interesse dos seus minérios. A partir desse modelo, pensamos na possibilidade de acoplar uma substância que mimetizasse um desses quelantes industriais às fibras de coco verde, para a retenção de metais pesados. Dessa forma, agregaríamos valor a um resíduo e ao mesmo tempo obteríamos um produto de aplicação ambiental”, conta. As amostras de fibras de coco verde, picadas, foram fornecidas pela Embrapa.
Nos testes, foram separadas fibras de coco para serem avaliadas em três grupos diferentes. Em todos eles, foram acrescidos agentes tiofosforilantes, enquanto em outro experimento as fibras foram testadas em seu estado natural. “As diferentes tiofosforilas proporcionaram diferentes ambientes químicos ao redor do fósforo e enxofre”, descreve Espósito. Os experimentos foram realizados no final de 2008 e os resultados foram recentemente veiculados na revista internacional Bioresource Technology.
Segundo o professor, os resultados, apesar de positivos, mostram que muitas outras pesquisas devem ser feitas, visto que o processo testado tem um alto custo. “Além do custo, os testes se mostraram complicados, principalmente em relação aos fortes odores exalados. Ainda há muito que se fazer para melhorar o processo como um todo. Mas o principal é que pudemos comprovar que é possível utilizar a fibra de coco verde num processo de retenção de cádmio”, afirma. De acordo com o pesquisador, já existe um grupo de alunos que deverá prosseguir as pesquisas com as fibras de coco verde, mas testando novas substâncias.
Reportagem de Antonio Carlos Quinto, da Agência USP de Notícias, publicada pelo EcoDebate, 12/03/2010
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