Avanço da devastação: Estudo mostra que 47% das áreas naturais do Cerrado já foram convertidas
Um estudo inédito comprovou que o Cerrado corre graves riscos em todos as unidades da federação em que está presente. No Distrito Federal não é diferente. Imagens de satélite analisadas pelo Laboratório de Processamento de Imagens e Geoprocessamento (Lapig) da Universidade Federal de Goiás (UFG) mostram que a devastação consumiu dez quilômetros do entorno das principais unidades de conservação do Cerrado e, em muitos casos, chegou à própria área delimitada pelo município, estado ou União.
Dados recentes indicam que aproximadamente 47% das áreas naturais do Cerrado já foram convertidas para atividades de uso antrópico, ou seja, cultura agrícola, pastagens nativas e cultivadas, reflorestamento, área urbana e mineração. Igualmente grave é a distribuição muito fragmentada dos habitats remanescentes, invasão de espécies exóticas, erosão dos solos e degradação dos ecossistemas, o que interfere na viabilidade de manutenção e reprodução de espécies e no próprio potencial para conservação. De acordo com a pesquisa do geógrafo Fanuel Nogueira Garcia, o Distrito Federal tem aproximadamente 6.800 quilômetros quadrados de Unidades de Conservação. Reportagem do Jornal de Brasília.
Quase 50% dessa área já foi convertida em uso antrópico. Só entre 2002 e 2009, período da pesquisa, o DF registrou 13 quilômetros quadrados de desmatamento. A área de estudo compreendeu a totalidade do bioma, abrangendo as unidades de conservação (uso sustentável e proteção integral), as áreas prioritárias, e os corredores ecológicos, que ligam duas áreas de proteção. O Cerrado possui um total de 336 Unidades de Conservação, sendo 151 de proteção integral e 185 de uso sustentável, subdivididas em 20 categorias.
O Distrito Federal tem 14 estruturas de uso sustentável, o que não garante a preservação, e 24 de proteção integral, intocáveis. “O grande problema do DF é o enorme número de APAs (Áreas de Proteção Permanente) que foram criadas de qualquer maneira. A própria APA do Planalto Central, que ocupa quase todo o DF, deveria ter seus limites revistos, uma vez que existem enormes conglomerações urbanas dentro dela mesma”, afirma o pesquisador Fanuel Nogueira.
Ele explica que a maior motivação para a devastação do Cerrado na região foi justamente a construção de Brasília. “Ai está o início do desenvolvimento e consequentemente do processo devastação, não só do DF, mas de todo o bioma Cerrado”, diz o geógrafo que ressalta ainda a expansão urbana intensa nas imediações de Brasília e a topografia predominantemente plana do DF, o que favorece a ocupação por atividades agropecuárias, assim como a proximidade com o mercado consumidor, como razões a serem levadas em consideração.
SAIBA +
O bioma Cerrado, com uma área de aproximadamente 204,7 milhões de hectares (25% do Brasil), é considerado o segundo maior e mais importante bioma da América do Sul. Por outro lado, com mais de 47% de seu território totalmente convertidos em atividades antrópicas, apenas 9,3% de sua extensão está protegida sob a forma de unidades de conservação de proteção integral ou uso sustentável. É considerada a savana tropical mais rica em termos de biodiversidade no mundo, com mais de 7000 espécies.
EcoDebate, 10/03/2010
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