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Artigo

A importância do crescimento populacional na luta contra o aquecimento global, artigo de Arthur H. Westing

[International Herald Tribune] Com o constante fracasso dos governos em fazer acordos para combater a mudança climática, a previsão para os humanos e a natureza continua sombria. E em nenhum lugar o fracasso é mais visível do que no crescimento populacional. A população é um problema ambiental duplo – não apenas ela está aumentando, como também estão as emissões per capita.

Em 1970, quando as emissões mundiais de gases do efeito estufa haviam apenas começado a ultrapassar a capacidade sustentável da atmosfera, a população mundial era de cerca de 3,7 bilhões; hoje é de aproximadamente 6,9 bilhões – um aumento de 86%.

No mesmo período, as emissões mundiais originárias dos combustíveis fósseis aumentaram de cerca de 14 bilhões de toneladas para estimadas 29 bilhões de toneladas – um aumento de 107%.

Em outras palavras, em 1970 essas emissões eram de cerca de 3,8 toneladas per capita; hoje, apesar da crescente consciência sobre a mudança climática, elas realmente aumentaram para cerca de 4,2 toneladas per capita.

A crescente fração de energia produzida por meios de baixa emissão (solar, nuclear, eólica, etc.) parece estar apenas desacelerando a crescente dependência de combustíveis fósseis, em reação a uma demanda energética sempre crescente.

Mas, de maneira inexplicável e indesculpável, as recomendações feitas pelos EUA, a ONU e grupos de pesquisa independentes essencialmente nunca incluem – e certamente não enfatizam – a população como um fator que contribui para o aquecimento global.

Não há uma solução rápida à vista para o problema populacional, por isso devemos continuar promovendo medidas de controle de emissões de maneira cada vez mais vigorosa. E nada é mais importante que a constante educação e divulgação. Na questão do aquecimento global, nenhuma ideia é mais crítica do que a noção de que a atmosfera deve ser considerada um bem global, um legado comum da humanidade.

Um princípio de justiça decorre disto. Chegou a hora de distribuir, de maneira equitativa, um nível geral e seguramente sustentável de emissões na atmosfera para todos os países do mundo. Essa divisão não pode se basear nas quantidades atualmente descarregadas por vários países industrializados ou em rápida industrialização. Tampouco pode se basear na população, pois isto recompensaria os países superpopulosos e incentivaria um maior crescimento da população.

As abordagens para se alcançar reduções incluem frugalidade; maior uso de dispositivos de consumo energético eficiente; captura e sequestro de carbono; meios de geração de emissão neutra; proteção às florestas tropicais; uma taxa sobre as emissões (“imposto do carbono”); e o aluguel ou compra de direitos de emissão, pelos que emitem demais dos que emitem de menos (“cap-and-trade”, ou limite e comércio).

Se acordos internacionais adequados fossem forjados (o que claramente não é fácil), os esquemas de limite e comércio em princípio seriam uma abordagem excelente, desde que o nível mundial de emissões buscado seja seguro e sustentável; a contribuição de um país para um nível seguro é determinada equitativamente; e a ineficiência e a corrupção em sua administração, monitoração e verificação internacional são eliminados, ou pelo menos mantidos em um limite aceitável.

Uma abordagem ambiental e socialmente equitativa do “cap-and-trade” seria basear as alocações de emissões na fração da atmosfera que a massa terrestre de um país sustenta. Nesse esquema, muitos países ricos estariam atualmente descarregando além de sua porção justa; a maioria dos países pobres, provavelmente menos.

Os países que descarregam menos seriam então capazes de alugar (não vender) uma parte de seus direitos de emissões até o momento em que eles sejam capazes, com a ajuda dessa renda, de desenvolver sua própria infraestrutura de emissões. Os países locadores, por sua vez, teriam tempo para instituir mudanças e manter-se dentro de sua parcela justa, o que bem poderia incluir a redução do consumo individual de energia ou, excetuando-se isso, até números populacionais reduzidos, por mais que seja difícil.

Afinal, todos devemos reconhecer que temos uma obrigação de compartilhar esta terra com os outros seres vivos, obrigação que exige a redução, por um meio ou por outro, de nossas demandas conduzidas pela população sobre os recursos naturais. Provocar esse reconhecimento é a tarefa da educação cívica no sentido mais amplo.

Arthur H. Westing é ecologista e ex-diretor do projeto “Paz, Segurança e Meio Ambiente” do UNEP, United Nations Environment Program.

Tradução: Luiz Roberto Mendes Gonçalves

Artigo [Overpopulation and Climate Change] do International Herald Tribune, no UOL Notícias.

EcoDebate, 22/02/2010

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