Pesquisa da USP mostra que consumo moderado de manteiga ou margarina não afeta coração
Sem exageros, manteiga ou margarina não aumentam risco de doenças cardíacas
Consumir manteiga ou margarina em quantidades moderadas não aumenta o risco de ter doenças cardiovasculares. É o que mostra uma pesquisa da USP feita com pessoas que tinham síndrome metabólica, doença que atinge 30% dos brasileiros e aumenta em cinco vezes a chance de sofrer derrames e ataques cardíacos.
O estudo, feito durante o doutorado da nutricionista Ana Carolina Gagliardi no Instituto do Coração (InCor), foi o primeiro no Brasil a estudar se manteiga ou margarina pioram o risco de doenças cardiovasculares. “No Brasil, mais de 50% da população tem o hábito de consumir manteiga ou margarina todos os dias”, explica Ana Carolina.
Em seu estudo, a nutricionista solicitou que 66 voluntários deixassem de consumir as manteigas ou margarinas que estavam acostumados. Em seguida, os dividiu em quatro grupos e pediu para que consumissem, diariamente, as quantidades recomendadas por ela. Um dos grupos passou a consumir 15 gramas (g) de manteiga por dia; um segundo grupo consumiu 18 g de margarina com gorduras trans; outro grupo de voluntários, 36 g de margarina sem gorduras trans; e outro, 30 g de margarina com fitoesterol, substância que reduz a quantidade de colesterol ruim do sangue. Cada uma dessas quantidades de manteiga ou margarina traz 12 g de gordura. Para efeito de comparação, uma colher de sopa de margarina cheia pesa 15 g.
Durante a pesquisa, nenhum dos voluntários mudou a dieta. Eles relataram ingerir poucas calorias (1.500 por dia), com mais gordura saturada e menos fibra que o recomendado.
Poucas variações
Depois de 35 dias, a quantidade de proteínas que indica o risco de infarto permaneceu igual no sangue dos voluntários. O tempo para a mudança de dieta influenciar na quantidade dessas moléculas é de 28 dias. O colesterol ruim, chamado de LDL, também não aumentou no sangue. Apenas a margarina com fitoesterol ajudou a reduzir os níveis de colesterol ruim do sangue. O peso também não variou durante esse período.
Quem tem síndrome metabólica sofre pelo menos de três dos seguintes sintomas: obesidade na barriga, pressão alta, níveis baixos de bom colesterol (HDL) e altos níveis de glicose e gordura no sangue.
Ana Carolina explica que são necessários mais estudos para saber se o risco de doenças do coração também permanece inalterado em pessoas saudáveis. Como a quantidade de gordura não afetou os pacientes que tinham maior propensão a doenças cardiovasculares, o mesmo deve acontecer com pessoas saudáveis.
A pesquisadora explica que, desde que não exagere, a pessoa pode consumir manteiga ou margarina sem culpa. “As gorduras são calóricas, mas se a pessoa diminuir um pouco a quantidade de fritura, por exemplo, pode comer. Até mesmo quem deseja perder peso”.
O doutorado de Ana Carolina foi defendido no Laboratório de Lípides do InCor, que pertence ao Hospital das Clínicas (HC), da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP). A pesquisa foi orientada pelo cardiologista Raul Dias Santos Filho. Colaboraram no trabalho os pesquisadores Raul Maranhão, Eraldo Souza, da FMUSP, Jorge Mancini da Faculdade de Ciências Farmacêuticas (FCF) da USP e Ernest Schaefer da Universidade de Tuft, nos EUA.
Reportagem de Nilbberth Silva, da Agência USP de Notícias, publicada pelo EcoDebate, 19/02/2010
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