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Artigo

Cientistas, ‘Cientistas’ e $ienti$ta$, artigo de Maurício Gomide Martins

[EcoDebate] Depois que decaiu a verdade bíblica que imperava no mundo ocidental, ficou estabelecido como crença geral o vínculo ciência-verdade, principalmente pela revolucionária influência dos Iluministas, no século XVIII. Existe um senso comum de que qualquer informação provinda da ciência é sempre verdadeira e digna de crédito. Que a ciência traduz a realidade, sendo a fonte do conhecimento.

Mas esse conceito amplo, absoluto, não traduz a realidade científica. Ciência é uma busca, uma procura de explicação e descobertas. Pelo seu próprio método de trabalho, quando chega a um resultado, este nunca é definitivo; é apenas prevalente ou provisório para a ocasião. Prevalece até o momento em que novas descobertas são feitas.

O critério adotado pela ciência implica o enunciado de uma idéia aceitável – a conjectura ou hipótese – para, em seguida, evoluir criteriosamente para a teoria – estágio em que se agregam argumentos cientificamente válidos. A última etapa é a da experimentação, ou demonstração inquestionável, quando se consagra a teoria. Isso tudo é muito debatido, estudado, experimentado. E demanda um tempo enorme.

Não obstante, toda verdade científica pode receber alguma restrição quando se estabelece nova verdade sobre a questão. A verdade newtoniana tornou-se relativa com os trabalhos de Einstein. E estes também sofreram abalos com o surgimento da mecânica quântica. A função da ciência é descobrir e entender os meandros da misteriosa realidade cósmica.

Tivemos na História diversos cientistas que consagraram suas vidas ao estudo e pesquisas de várias disciplinas componentes desse conjunto a que chamamos Ciência. O mundo atual, para o bem ou para o mal, reflete as conseqüências das revelações feitas pelos cientistas. Toda a tecnologia empreendida tem seus fundamentos na utilização desses conhecimentos assim obtidos.

É comum, porém, o surgimento de “cientistas” que, embebidos da ânsia de notoriedade e projeção histórica – por força de pétreo e incurável narcisismo –, procederem sem o mínimo de escrúpulo em suas “artes científicas”. Para atingirem seus objetivos pessoais, forjam dados, situações, descobertas, e o que mais for necessário. Na semana final de outubro/09 informaram os noticiosos que um “famoso cientista” da Coréia do Sul foi, finalmente, condenado pela falsificação de conclusões em pesquisas patrocinadas pelo governo na área de clonagem de embriões. É famosa a farsa científica conhecida como o homem de Piltdown, na Inglaterra, pela qual dois “cientistas”, “descobriram” um crânio de antropóide e o impingiram como se fosse de um elo humanóide. Na época eles ficaram famosos, mas o fato foi exaustivamente pesquisado e encerrado, muitos anos depois, com a conclusão de que eles engendraram uma bem montada farsa.

Acautelemo-nos, portanto, com os pronunciamentos desses “cientistas”. Eles servem ao deus “Narciso” e, com isso, prejudicam enormemente a verdadeira ciência.

Mas a pior classe desses homens que se ocupam de ciências são os $ienti$ta$, e os há em abundância pelo mundo afora. Seu deus é o dinheiro. Pagando, tudo bem.

Para as grandes corporações econômicas, por si e pelos governantes que os representam, esses elementos são utilíssimos. É só chegar perto de um deles e dizer: “Quero um relatório científico sobre o assunto tal; quanto você quer?” Eles darão o preço, geralmente em milhões de dólares e perguntarão: “a favor ou contra?”. Comprar um cientista famoso fica mais caro. Tudo é questão de preço. O verdadeiro cientista não se vende nunca. Afinal, o dinheiro não é venerado somente pelos leigos. Um célebre ministro do governo de Getúlio Vargas, depois de várias vezes ser assediado por certa empresa, fabricante de lança-perfumes – cada vez oferecendo mais para revogar a proibição de venda desse objeto –, procurou o presidente e lhe disse: “arranje outro ministro para o meu lugar. A empresa está quase chegando a um preço a que não conseguirei resistir.”

Ultimamente, temos lido em diversos veículos de informação que o $ienti$ta Fulano, baseado em suas próprias pesquisas, concluiu que não há aquecimento global. Que o meio ambiente é propício e adequado ao crescimento econômico. Que isso e aquilo. Essas notícias são produto de gastos encomendados por integrantes do sistema econômico e, por isso, não merecem qualquer crédito. Os ambientalistas novos, de pouca experiência e informação, são facilmente influenciados por esses $ienti$ta$. A finalidade deles é justamente esta: semear desencontro de opiniões entre os ambientalistas.

Entendemos que, como tudo o mais neste mundo, devemos separar o joio do trigo. Precisamos desenvolver nossa capacidade e amplidão de conhecimentos para ter condições de distinguir quem são os cientistas, “cientistas” e $ienti$ta$”. Nossa meta não é somente a de defender o meio ambiente; é seguir o legítimo e verdadeiro enfoque científico, justamente para que nos possamos orientar na emergência por que passa nossa casa planetária.

Não se pense que os donos do mundo (corporações econômicas) estão de braços cruzados enquanto vêm as formiguinhas (ambientalistas) trabalhando incansavelmente no único objetivo de salvar a biosfera. Eles têm o dinheiro do mundo, sendo difícil existir algum “scientista” que não seja seduzido por esse “queijo” tão apetitoso;

A questão ambiental não deve ser vista exclusivamente sob o aspecto científico. Pode e deve ser analisada sob a óptica filosófica. Basta olharmos em volta e ver o tal de progresso, desenvolvimento, crescimento. Sabemos perfeitamente que essas dinâmicas, com caráter exponencial, nunca alcançarão o infinito. Antes, no ponto crítico, atingirão inapelavelmente o caos.

Acautelemo-nos… acautelemo-nos com a sedução do canto da sereia e as sonoras e deslumbrantes trombetas de interesses ocultos, próprias do otimismo gratuito. Por comodismo, não se deixem levar pela mente alheia; usem sua capacidade racional. Pensem com sua própria cabeça.

A verdade é tão difícil de ser encontrada e ainda aparecem esses falsos querubins vindos do abismo infernal gerador de lucros.

“Maurício Gomide Martins, 82 anos, ambientalista, colaborador e articulista do EcoDebate, residente em Belo Horizonte(MG), depois de aposentado como auditor do Banco do Brasil, já escreveu três livros. Um de crônicas chamado “Crônicas Ezkizitaz”, onde perfila questões diversas sob uma óptica filosófica. O outro, intitulado “Nas Pegadas da Vida”, é um ensaio que constrói uma conjectura sobre a identidade da Vida. E o último, chamado “Agora ou Nunca Mais”, sob o gênero “romance de tese”, onde aborda a questão ambiental sob uma visão extremamente real e indica o único caminho a seguir para a salvação da humanidade.

EcoDebate, 19/02/2010

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