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Valor de ácidos graxos polinsaturados é inferior ao indicado em fórmulas infantis que substituem o leite materno

Valor de ácidos graxos polinsaturados é inferior ao indicado em fórmulas infantis que substituem o leite materno
A pesquisa da FCF envolveu a análise de 14 amostras de fórmulas infantis.

Os ácidos graxos polinsaturados são importantes para o desenvolvimento dos bebês. Porém, uma pesquisa da Faculdade de Ciências Farmacêuticas (FCF) aponta que sua quantidade está abaixo da recomendada em fórmulas infantis (preparados em pó adotados em substituição ao leite materno, após adição de água). “Essa deficiência deve ser superada com mais rigor na legislação e maior informação aos consumidores”, defende a engenheira química Mahyara Markievicz Mancio Kus , autora do estudo sobre as fórmulas infantis.

O trabalho verificou a presença nas fórmulas do ácido linoléico (LA) e do ácido α-linolênico (ALA), que não são metabolizados pelo organismo e precisam ser obtidos na dieta, e cuja ausência pode gerar problemas de pele, crescimento e síndromes que podem levar a morte. Também foram medidos os valores de ácido araquidônico (ARA) e ácido docosahexaenóico (DHA), importantes no desenvolvimento visual e cerebral. As fórmulas infantis são usadas em substituição ao leite materno por crianças de até um ano de idade, que não podem ser amamentadas pela mãe.

“O leite de vaca pode fazer com que o bebê desenvolva intolerância a lactose e não absorva os nutrientes necessários a seu desenvolvimento”, conta Mahyara. “No Brasil, as fórmulas infantis são os únicos alimentos que possuem legislação específica sobre a quantidade de ácidos graxos polinsaturados presentes em sua composição, mas somente no caso do ácido linoléico”. Os ácidos graxos foram extraídos em meio básico (hidróxido de amônio), quantificados por cromatografia gasosa e tiveram os valores corrigidos a partir de fatores de correção teóricos existentes na literatura científica.

No total, a análise envolveu 14 amostras de fórmulas infantis. Todas tiveram as informações nutricionais presentes na rotulagem e os valores preconizados pela legislação brasileira (Portaria nº 977, de 1998) e pelo Codex Alimentaris (2007) comparadas com os resultados das análises experimentais. “A maioria das amostras não estava de acordo com os valores exigidos pela lei, sendo que uma estava em desacordo para ALA, duas para ARA e seis para DHA”, alerta a pesquisadora.

Valores
A engenheira química ressalta que somente seis fórmulas infantis que continham DHA ou ARA tinham os números impressos nas embalagens. “Dez apresentaram valores inferiores para LA, quatro para ALA e um para ARA. Apenas três fórmulas apresentaram os valores de ARA e DHA declarados”, acrescenta.

A pesquisa também constatou que as fórmulas armazenadas por maiores períodos de tempo possuem uma quantidade menor de ácidos graxos polinsaturados. “Eles sofrem o efeito de reações químicas, como oxidação, que reduzem os valores presentes nas formulações”, explica Mahyara. Em um período de oito meses, apenas três marcas não apresentaram diferença nos teores de ácidos graxos.

Entre as fórmulas infantis vendidas no Brasil, a maioria são importadas. “Apenas nos últimos dois anos elas começaram a ser produzidas no aqui, embora em geral utilizem matéria-prima importada”, conta a pesquisadora.

A engenheira química sugere que o consumidor seja informado de que os produtos próximos do prazo de validade têm menos ácidos graxos polinsaturados. “Atualmente, além do prazo de vencimento estampado na embalagem, existe apenas a indicação que a formulação deve ser consumida um mês depois de aberta”, destaca.

Mahyara também defende que a legislação brasileira sobre alimentos também deve passar por uma revisão. “Em relação ao Codex Alimentarius, os valores dos nutrientes encontrados na pesquisa são muito baixos”, aponta. O Codex Alimentarius é uma convenção internacional que determina a proporção de nutrientes que deve estar presente em diversos tipos de alimentos. A pesquisa teve orientação do professor Jorge Mancini Filho, da FCF.

Reportagem de Júlio Bernardes, da Agência USP de Notícias, publicada pelo EcoDebate, 17/02/2010

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