A materialização do ‘peripake’, artigo Américo Canhoto
[EcoDebate] Num antigamente; nem tão distante assim; peripakoso era o paciente que “psicava” sintomas; meio que um hipocondríaco em quase desespero. Um artista da mente criadora de sintomas; mas, o corpo o desmascarava; pois ele não participava do jogo mental e afetivo; ficava na dele: todos os sinais vitais permaneciam normais; os exames davam negativos…
Como o tempo passava, “corria diferente”, a pessoa que sofria desse distúrbio levava muitos anos; ás vezes muitas décadas; até conseguir materializar seus pitis; mas conforme veremos; na vida contemporânea em poucos meses é possível morrer de peripake.
Estamos todos encrencados se continuarmos com o antigo sistema de viver; pois a vida não está mais para brincadeiras…
Do outro lado do processo:
Claro que para o estudante de medicina, o residente ou o plantonista contratado para enfrentar um plantão de 12 ou 24hs, a chegada desse tipo de doente – era uma coisa do tipo: “ninguém merece” – até porque a maior incidência de peripake era durante a madrugada; finais de semana; feriados – antigamente nos meus plantões eu achava que era “praga de urubu” a grande incidência desse tipo de doente, nesses períodos – hoje conforme veremos á frente; eu já sei a razão do aumento de peripakes nessas ocasiões.
Conhecimentos nunca superam a experiência:
Até a equipe de suporte desenvolvia um feeling próprio para identificar esse tipo de paciente. – Dr! – Tá com cara de “piti”! – na maioria das vezes era na mosca; dito e feito.
Mas:
O que fazer com o peripakoso?
Plantonistas mais experientes já tinham alguns macetes para identificar a condição de peripake; claro que isso é segredo profissional até porque alguns são hilários (mas, um deles era o famoso tremor nas pálpebras – a síndrome do olhinho tremendo; algumas posturas corporais também denunciavam a arte em andamento) – o problema é que para fechar o diagnóstico de peripake; é preciso seguir uma série de protocolos e procedimentos; e isso consome algumas horas de estresse da equipe de atendimento e recursos da comunidade. No fundo é um problema basicamente educacional; mas, o que são nossas doenças de qualquer tipo; senão falta de educação em viver de forma correta?
A rotina do atendimento ao piti:
Feito o diagnóstico, o sujeito era encaminhado ao clínico; cardiologista ou neurologista – depois de muitas andanças e exames o sujeito terminava no psiquiatra; é inevitável.
Na maior parte das vezes o próprio paciente escolhia a especialidade dependendo da área de referência dos sintomas. Exemplo, se na parte digestiva era encaminhado ao gastro – se na área cardíaca ao cardiologista; se ia mais para o lado dos desmaios para o neuro.
Os que habitualmente freqüentavam os PS em fase de piti já estavam em tratamento com o psiquiatra; mas, na maior parte das vezes; só após algum tempo é que isso era descoberto, e no PS muito “tempo” já havia sido dispensado a esse paciente para que se chegasse ao diagnóstico de peripake que poderia ter sido usado com outro.
Quer dizer que piti não é doença?
Claro que sim; e das sofridas e tenebrosas; mas, que eram vistas e tidas como frescura ou falta…
Ainda hoje a formação profissional peca na abordagem humana e psicológica das pessoas; o enfoque nas escolas é voltado basicamente para o lado da tecnologia e dos males físicos; quando quem sofre de peripake costuma ser portador de problemas mais graves do que muitas pessoas que já estão com sintomas de alguma doença física ou com exames alterados. Como pode não dar nada nos exames; se eu estou morrendo? Se me sinto tão mal porque não acusa nada? – Devo estar com um problema muito grave e o médico não quer me contar! – E; o que eu vou dizer lá em casa? – Melhor entrar em deprê.
Tipos e origem do piti:
Sendo um processo multiforme ele varia de pessoa para pessoa; com algumas diferenças básicas: culturais; de idade; de sexualidade. Exemplo, mulheres e gays apresentam piti diferente de homens e de crianças. Há os pitis silenciosos com mal estares inexplicáveis; os que simulam crises de asma; os chorosos; os escandalosos; os agressivos.
Embora as pessoas que sofrem de piti apresentem vários tipos de desordem da personalidade que dão o colorido, o tom diferente ao cenário – No fundo, o contexto básico é o mesmo; uma desesperada tentativa de fuga de problemas ou um desejo, bem humano, mas sem controle: o de sermos aceitos e amados.
A influência da cultura e da vida em família também é marcante; pois, na nossa sociedade quando você está saudável é sobrecarregado de exigências; não tem retorno de expectativas afetivas – porém quando está dodói recebe atenção demasiada; diminui o grau de exigências para conosco; o subconsciente detecta esse distúrbio cultural e passa a fazer uso dele para tentar satisfazer desejos e necessidades; o problema é que perdemos a medida, facilmente; num primeiro momento nosso drama funciona; mas depois; ninguém mais suporta o ptiático (mala sem alça); nessa condição passamos apenas ser tolerados; mas, como aprendemos a mentir para nós mesmos fingimos não perceber que fomos descobertos e tentamos manter o script; porém dia a dia, a auto – estima fica cada vez mais deteriorada – e aí começa a morar o perigo, até de um suicídio semi – consciente através da doença como ocorre nas auto – imunes.
Piti vicia?
É curioso que nos viciemos facilmente em tudo; até em piti – esse vício psicológico não é muito diferente dos outros: cigarro, bebida, cocaína, cafeína, açúcar, chocolate, etc.
Nos raros momentos de lucidez o usuário do piti como alimento afetivo até percebe a inadequação; mas, a desordem de personalidade é muito mais forte que a vontade de mudar e continuamos a sofrer de piti – Parece loucura? Mas não é; ou melhor é mais do que loucura – é nossa normalidade em ação.
Neste tipo de modelo social em que vivemos: o peripakoso vai buscar atenção e afetividade nos PS da vida.
Para complicar um pouco, há causas ocultas:
Boa parte dos pitis tem origem em acoplamentos energéticos desencadeados por sintonia e ressônancia de padrão vibratório da forma de pensar, sentir e agir.
Os chamados médiuns ou sensitivos são as maiores vítimas nesse tipo de desordem tão comum nos PS da vida – Ainda bem que esse sério problema, está sendo tratado de forma mais criteriosa e inteligente – A obsessão espiritual já pode ser diagnosticada e tem até CID (código internacional de doenças) – O antigo encosto e a recomendação de vá se benzer; deu lugar a uma visão mais real e até científico da obsessão espiritual.
Muitos profissionais já estão aptos a identificar sintomas da interferência espiritual e até de encaminhar o paciente para tratamento.
Parece engraçado; mas já começa a se tornar realidade – Imagine o médico no PS encaminhando o doente com peripake ao cardiologista ou qualquer outra especialidade; e indagando ao paciente – A que convênio religioso seu sistema de crenças está ligado? – Evangélico; católico; umbandista; messiânico; budista; espírita?
Será que medicina espiritual será em breve uma nova especialidade?
Atenção:
Toda família que tem um peripakoso deve antes de tentar ajudar o doente; estudar as relações afetivas que predominam no grupo.
Não se fazem mais pitis como antigamente:
Com o passar do tempo o piti que era um distúrbio mais ou menos temporário e um tipo de reação a situações; foi se cristalizando e tornando-se mais presente e materializado; além disso se associou com alguns distúrbios psicológicos e psiquiátricos já catalogados: depressão; distúrbios neuro – vegetativos; distimia; síndrome do pânico; transtorno bipolar, etc.
Peripake mata?
Antes não; o ptiático é que matava de raiva e preocupação os em torno. O médico podia até dizer com segurança: – Fica calmo; pois disso você não morre! – Com cada vez mais ressalvas; nós hoje até podemos dizer isso, até mesmo para as pessoas portadoras de um tipo de peripake mais enfronhado e mais duradouro como é a síndrome do pânico, por exemplo; mas, não por muito tempo; sob pena do paciente cair duro no estacionamento do PS; na saída do consultório; na rua; fazendo compras; jogando bola.
Qual a diferença?
É inegável que o quantum energético do planeta; e, em conseqüência o nosso; está mais acelerado – isso, todo mundo percebe (exemplo, demorava anos para que transformássemos uma artrite em artrose; hoje, é possível realizar essa proeza em meses).
As predisposições individuais somadas ao estilo de vida a mil; aos efeitos do estresse crônico e ao sedentarismo, acabaram com a brincadeira; hoje o negócio é sério – A materialização de nossos pitis que demoravam décadas; hoje, leva apenas meses; em breve, dias.
O corpo cansou de ser espectador e entrou na brincadeira; se é para assustar o coração tornou-se o bam-bam vitaminado pela adrenalina – ele vai de oitenta a cento e oitenta batimentos em minutos; dança o samba do criolo doido com todos os tipos de batidas ao mesmo tempo; a glicemia e a pressão arterial resolveram brincar de jump; os suores ainda pegam bem, são estilosos; e quando tudo isso se junta dá desmaio é o gran finale.
Os desmaios ainda tem lá seu charme; mas, hoje é perigoso desmaiar e não acordar mais – alguns dos antigos peripakosos adeptos do desmaio eram manjados; pois, só desmaiavam quando havia um braço por perto ou um acolchoamento macio.
Ah! – Ia esquecendo:
Qual a razão da maior incidência á noite; finais de semana; feriados e férias. Lembram da lei da inércia e seus efeitos no nosso organismo? O feriadão do carnaval está aí; então não vá estragar sua festa ou descanso nem a dos em torno. A maioria dos pitis e até acidentes orgânicos e doenças vai ocorrer de sábado prá domingo…
Se o amigo é chegado num piti (mesmo que disfarçado), cuidado; pois, o corpo começa a “rodar a baiana”…
Américo Canhoto: Clínico Geral, médico de famílias há 30 anos. Pesquisador de saúde holística. Uso a Homeopatia e os florais de Bach. Escritor de assuntos temáticos: saúde – educação – espiritualidade. Palestrante e condutor de workshops. Coordenador do grupo ecumênico “Mãos estendidas” de SBC. Projeto voltado para o atendimento de pessoas vítimas do estresse crônico portadoras de ansiedade e medo que conduz a: depressão, angústia crônica e pânico.
* Colaboração de Américo Canhoto para o EcoDebate, 12/02/2010
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