Biodiversidade em Foco, artigo de Valdir Lamim Guedes Junior
[EcoDebate] A biodiversidade, esta imbricada rede de animais, plantas e lugares do planeta está passando por uma crise sem precedentes. Por este motivo, o ano de 2010 foi declarado pela ONU como o “Ano Internacional da Biodiversidade”. Um dos principais propósitos deste ano comemorativo é chamar a atenção da sociedade para o valor da biodiversidade e reunir esforços globais para o combate à crise de perda de biodiversidade, que tem se intensificado nas últimas décadas com o aumento da pressão antrópica sobre as áreas naturais remanescentes.
Na segunda metade da década de 1980, o termo biodiversidade foi criado, sendo amplamente divulgado pelo eminente biólogo americano E. O. Wilson. Segundo a Convenção sobre Diversidade Biológica[1], assinada na cidade do Rio de Janeiro durante a ECO-92, diversidade Biológica ou biodiversidade é a variabilidade de organismos vivos de todas as origens, compreendendo, dentre outros, os ecossistemas terrestres, marinhos e dulcícolas, assim como, os complexos ecológicos de que fazem parte; abrangendo ainda a diversidade dentro e entre espécies e, principalmente, dos variados ecossistemas.
A complexa diversidade natural constitui a base da vida no Planeta e a deterioração em ascensão desta é uma grave ameaça para a espécie humana e seu modo de vida, tanto na atualidade como a longo prazo. A biodiversidade oferece suporte a muitos processos e serviços dos ecossistemas naturais, tais como qualidade do ar, regulação climática, purificação da água, resistência à parasitas e doenças, polinização e prevenção das erosões.
Os eventos em comemoração ao Ano Internacional da Biodiversidade visam estimular a implementação dos três objetivos da Convenção sobre Diversidade Biológica, que são: a conservação da biodiversidade, o uso sustentável de seus componentes e a distribuição equitativa e justa dos benefícios advindos da utilização dos recursos genéticos.
A Crise da Biodiversidade tem sido alvo dos apelos da comunidade cientifica e de ambientalistas desde a década de 1960. O livro de Rachel Carson, “Primavera Silenciosa”, denunciando os impactos causados pelo uso de agrotóxicos nos Estados Unidos, principalmente o DDT, é considerado o marco inicial do movimento ambientalista moderno. Esta obra de forma indireta abordava a perda de espécies, no caso, constatada pelo silencio na primavera, conseqüência do desaparecimento dos pássaros que vocalizam intensamente nesta época do ano.
A diversidade biológica tem que ser tratada mais seriamente como um recurso global, para ser registrada, usada e, acima de tudo, preservada. Três circunstâncias conspiram para dar a essa matéria uma urgência sem precedentes. Primeiro, o crescimento explosivo das populações humanas está desgastando o meio ambiente de forma muito acelerada, especialmente nos paises tropicais. Segundo, a ciência está descobrindo novas utilizações para a diversidade biológica, que podem aliviar tanto o sofrimento humano quanto a destruição ambiental. Terceiro, grande parte da diversidade está se perdendo irreversivelmente através da extinção causada pela destruição de habitats naturais, também de forma mais acentuada nos trópicos. De maneira geral, estamos presos numa corrida. Temos que nos apressar em adquirir o conhecimento sobre o qual basear uma política sábia de conservação e desenvolvimento para os séculos que estão por vir[2].
A razão antropocêntrica mais importante para se preservar a diversidade biológica é o papel que os microrganismos, plantas e animais desempenham no fornecimento de serviços livres ao ecossistema, sem os quais a sociedade, em sua forma atual, não poderia durar[3]. Assim, é essencial reunir esforços globais para o combate as principais ameaças a biodiversidade que são: a perda de habitats (desmatamento e fragmentação), poluição e mudanças climáticas.
Uma correta gestão dos recursos naturais – incluindo a biodiversidade – é fundamental para o desenvolvimento sustentável, que possa fomentar comunidades pacificas, favorecer um crescimento econômico bem equilibrado e contribuir para a redução da pobreza. Apesar de existirem iniciativas que visam à proteção e utilização de forma adequada da biodiversidade, ainda é pouco para reduzir significativamente o risco de uma perda catastrófica de espécies. Uma frase de Albert Schweitzer – “O Homem perdeu a sua capacidade de prever e de prevenir. Ele acabará destruindo a Terra”[4] – serve de alerta da urgência em combater à perda de biodiversidade e minimização de outros problemas socioambientais.
[1] BRASIL/MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE. A Convenção sobre Diversidade Biológica – CDB. Cópia do Decreto Legislativo nº. 2, de 3 de fevereiro de 1994. Brasília – DF: MMA, 2000. 30p.
[2] WILSON, E. O. Capitulo 1: A Situação Atual da Biodiversidade Biológica. In: WILSON, E. O. Biodiversidade. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1997. p. 3-24.
[3] EHRLICH, P. R. Capitulo 2: A perda da diversidade – causas e conseqüências. In: WILSON, E. O. Biodiversidade. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1997. p. 27-40.
[4] CARSON, R. Primavera Silenciosa. ed. 2. Edições Melhoramentos.
Valdir Lamim Guedes Junior, Mestrando em Ecologia de Biomas Tropicais, Universidade Federal de Ouro Preto, é colaborador e articulista do EcoDebate.
EcoDebate, 10/02/2010
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