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Gases e partículas inaláveis presentes no ar contribuem para a ocorrência de problemas na gravidez

gravidez

Os efeitos negativos da poluição atmosférica nos aparelhos respiratório e cardiovascular são bastante conhecidos, por serem temas recorrentes de estudos, mas os danos à saúde provocados pela exposição aos poluentes vão muito além. Pesquisa recente, desenvolvida no Laboratório de Poluição Atmosférica Experimental da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP) a partir de dados coletados no município fluminense de Volta Redonda, mostra que determinados gases e partículas inaláveis presentes no ar contribuem para a ocorrência de problemas na gravidez, como risco de prematuridade e baixo peso do bebê.

De acordo com o engenheiro fluminense Marcelo Moreno dos Reis, autor da tese Poluição atmosférica e efeitos adversos na gravidez em um município industrializado no estado de Rio de Janeiro, foram realizados, no Brasil, outros estudos que tratam do assunto, mas nas regiões metropolitanas de São Paulo e do Rio. “Não havia nenhuma pesquisa feita em um município com um parque industrial importante. O de Volta Redonda compreende, inclusive, a usina da maior siderúrgica do país”, assinalou. Reportagem de Carolina Lenoir, no Correio Braziliense.

A pesquisa levou em consideração todos os nascidos vivos de mães residentes em Volta Redonda no período de 1º de janeiro de 2003 até o último dia de 2006. No total, foram 13.660 casos estudados. Os dados foram obtidos por meio do Sistema de Informações de Nascidos Vivos (Sinasc) do Ministério da Saúde, que deve ser alimentado por todas as secretarias municipais de saúde do país.

Com as informações do sistema, foi possível identificar fatores que, independentemente da exposição à poluição do ar, contribuem para o baixo peso ao nascer e para a prematuridade. “No caso da ocorrência de baixo peso, são considerados fatores de risco como prematuridade, local de nascimento (casa, hospital ou unidade ambulatorial), sexo do bebê (o masculino tende a pesar mais), quantidade de consultas pré-natal (o ideal são 7 consultas), tipo de gravidez (múltipla ou não), idade e escolaridade da mãe, paridade (quantos filhos a mãe tem ou teve) e presença de anomalia congênita.”

No caso de prematuridade, foram considerados tipo de gravidez, tipo de parto (cesárea ou natural), quantidade de consultas pré-natal, idade e escolaridade da mãe e paridade. Segundo Marcelo, os dados fornecidos pelo Sinasc não incluem informações importantes sobre outros fatores de risco para os efeitos adversos da gravidez, como as características nutricionais da mãe e se ela é fumante.

A pesquisa também considerou os dados ambientais da cidade. Foram analisados três poluentes presentes no ar: PM10 (partículas inaláveis), dióxido de enxofre (SO2) e ozônio (O3). “Para estimar a exposição materna a esses poluentes durante a gravidez, pegamos a data de nascimento do bebê e calculamos o período de gestação. Pegamos a média diária de poluição do município nesse período, obtida por meio de medições diárias realizadas em três bairros da cidade.”

Em crianças que não nasceram prematuramente, foi analisada a média de cada um dos três trimestres de gestação, totalizando 39 semanas. Já no caso dos prematuros, que nasceram com menos de 37 semanas, a análise também foi feita em três trimestres, mas o último foi reduzido, contabilizando-se 34 semanas. “Fiz a análise estatística para avaliar a influência dos fatores de risco sobre o baixo peso e a prematuridade, incluindo as médias das concentrações dos poluentes.”

Em relação ao baixo peso, os resultados mostraram que houve comprometimento maior no segundo e no terceiro trimestres, o que aumentou a probabilidade de o bebê não se desenvolver da forma esperada. Os poluentes mais nocivos foram o PM10 (6%) e o ozônio (3%). O dióxido de enxofre não apresentou interferência. Já no caso da prematuridade, o ozônio e o PM10 não influenciaram, enquanto o dióxido de enxofre apresentou de 25% a 27% em todos os três trimestres.

Discussão prossegue
De acordo com Marcelo, os níveis dos poluentes atmosféricos utilizados no estudo, no período considerado, estiveram abaixo dos valores recomendados para a qualidade do ar pela Resolução nº 03 do Conselho Nacional de Meio Ambiente (Conama). “O dióxido de enxofre esteve abaixo dos padrões sugeridos até mesmo pela Organização Mundial da Saúde (OMS).” Ele sugere que seja realizada uma discussão que envolva a sociedade para a revisão dos padrões de qualidade do ar vigentes, já que, mesmo abaixo dos valores determinados pela legislação, eles provocam danos à saúde humana. “Seria importante a revisão dos parâmetros tendo por base os valores recomendados pela OMS.”

Além dos resultados estatísticos da pesquisa, é importante analisar de que forma, sob o ponto de vista biológico, essa exposição aos poluentes tem efeitos negativos na gestação. De acordo com obstetra Frederico Peret, diretor da Associação de Ginecologistas e Obstetras de Minas Gerais (Sogimig), os estudos existentes sobre o assunto não são totalmente conclusivos. Por isso, ainda são consideradas hipóteses para o mecanismo de ação da poluição atmosférica no organismo da mãe e do feto.

“O que tem sido discutido é se a poluição afeta o desenvolvimento da placenta, fazendo com que ela não proporcione nutrição adequada ao feto; se, ao passar pela placenta, os poluentes têm efeito direto no bebê, prejudicando o seu potencial de crescimento; ou se, com a gestação mais avançada, eles reduzem o transporte de oxigênio para a criança.” O obstetra alerta que, assim como a poluição atmosférica, o tabagismo ambiental também leva ao baixo peso fetal. “É cientificamente muito claro que o tabagismo passivo é um fator de risco. Deixamos claro à paciente que é totalmente contraindicado se expor à fumaça do cigarro.”

EcoDebate, 05/02/2010

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