Universidade Federal de Uberlândia desenvolve sistema de descontaminação de água
Projeto vai ser implantado em escala piloto na região semiárida de Sergipe
A poluição das águas é hoje um dos principais problemas ambientais e que requer soluções seguras e eficientes. O elevado descarte de efluentes industriais tóxicos ou sem tratamento adequado provoca sérios desequilíbrios na biota aquática e pode inutilizar o uso da água para o consumo humano. Os problemas ambientais já são foco das atenções dos governos, como comprova o destaque que o tema tem ganhado na arena internacional.
O assunto desperta também oportunidades de novos negócios e o interesse de empresas de base tecnológica, algumas nascidas especialmente para lidar com a questão. É o caso, por exemplo, da Nanobrax — Soluções Tecnológicas e Prestação de Serviços, que, por meio de pesquisas, desenvolve soluções especiais para a área de descontaminação ambiental. Criada em 2006 no Centro de Incubação de Atividades Empreendedoras (Ciaem) da Universidade Federal de Uberlândia (UFU), trata-se de uma microempresa que, com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig), desenvolve projetos de ajuda ao meio ambiente, geralmente em parceria com o Laboratório de Fotoquímica da UFU, coordenado pelo professor Antonio Eduardo da Hora Machado. Reportagem de Silas Scalioni, no Correio Braziliense.
“O trabalho consiste em oferecer um conjunto de soluções a partir da avaliação de coleta de dados, análises químicas, estudos de tratabilidade e fornecimento de um diagnóstico detalhado, abrangendo a realização de projetos, readequações de sistemas já instalados, instalação de fotorreatores e assistência técnica”, diz ele.
Reuso de efluentes
Destaque, entre as propostas de tratamento de efluentes da empresa, é a aplicação de Processos Oxidativos Avançados (POA) para a degradação de poluentes em fotorreatores tubulares específicos. Efluente, vale lembrar, são geralmente produtos líquidos ou gasosos produzidos por indústrias ou resultantes de esgotos domésticos, que são lançados no meio ambiente por intermédio de águas correntes. O processo aproveita a luz solar e uso de fotocatalisador para ativar sistemas que levam à degradação de poluentes. Segundo Valdemir Velani, doutor em físico-química e diretor da Nanobrax, nesse processo são explorados fotorreatores tubulares do tipo Concentrador Parabólico Composto (CPC), e os insumos neles inseridos dependem das vias de degradação POA escolhida, compreendendo os sistemas homogêneos e os heterogêneos, que nesse caso empregam fotocatalisadores nanométricos, principalmente à base de dióxido de titânio (TiO2).
“O fotorreator CPC, com design apropriado, capta eficientemente a energia solar para a ativação dos fotocatalisadores responsáveis pela degradação dos poluentes. De forma geral, esses reatores são constituídos por tubos de borosilicato interligados, dispostos sobre involutas de material refletor para o melhor aproveitamento da energia solar. Com a irradiação dessa luz, são criados espécies extremamente reativas (radicais hidroxila), que provocam a destruição da matéria orgânica. A versatilidade desse processo de tratamento está na rapidez, na eficiência e na possibilidade de reuso do efluente tratado”, explica.
O sistema, de acordo com ele, pode ser aplicado ainda a efluentes que contêm compostos de elevada toxicidade e biorecalcitrantes (não degradados por sistemas biológicos convencionais, como detergentes e corantes). Os fotorreatores adotados permitem a complementação de sistemas de tratamento biológico ou o seu uso de forma isolada como pré-tratamento de determinado efluente antes de ele ser misturado aos demais efluentes que serão tratados, o que é fundamental para as questões de reuso da água na indústria e redução de custo de tratamento.
“Já está programada a instalação de um desses sistemas de descontaminação, a partir do aproveitamento da irradiação solar, na região do semiárido sergipano. Trata-se da montagem de um fotorreator CPC em escala piloto para o tratamento de água de abastecimento”, informa ele, ressaltando que a ação faz parte da estratégia de disseminação dessa tecnologia e de seu potencial emprego no tratamento de águas superficiais e subterrâneas de regiões brasileiras com graves problemas socioeconômicos e com elevada insolação durante todo o ano. “Essa tecnologia vai de encontro às atribuições dos Comitês de Bacias Hidrográficas, que visam permitir a utilização racional dos recursos hídricos e sua integração com a gestão ambiental, sobretudo por melhorar a qualidade da água.”
Esses sistemas e processos, segundo Valdemir Velani, apresentam potencial patentário, sendo que o pedido de patente tem como cotitulares a UFU e a Fapemig, havendo grande interesse no licenciamento ou transferência de tecnologia por parte dos titulares.
Novas aplicações
O tratamento de efluentes aquosos pelo aproveitamento da energia solar pode ser estendido a sistemas de tratamento de água e esgoto das cidades (provenientes de lançamentos de efluentes domésticos e industriais). Normalmente, os rios e as reservas de água são contaminados por esses efluentes lançados diretamente no sistema de esgoto. Em adição a isso, apenas cerca de 20% do esgoto sanitário coletado em áreas urbanas são tratados e apenas um litro desse tipo de esgoto é capaz de deixar centenas de litros de água impróprios para o consumo humano.
Números que assustam
Outro problema sério da poluição das águas está ligado à saúde pública.
# 5 milhões é o número de mortes por ano relacionadas a doenças de veiculação hídrica, como cólera e disenterias, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS)
# 29 pessoas morrem no Brasil diariamente por doenças decorrentes da baixa qualidade da água e do não tratamento de esgoto.
# Estima-se que cerca de 70% dos leitos hospitalares estão ocupados por doentes que contraíram males transmitidos por água contaminada.
EcoDebate, 28/01/2010
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