Cetesb alerta que cresce a poluição por ozônio em São Paulo
Poluição por ozônio: Por causa do poluente, qualidade do ar no Estado ficou inaceitável 271 vezes em 2009, contra 202 em 2008
Céu cinza – Com aumento da frota de automóveis, a cidade de São Paulo teve 51 dias com ar inaceitável no ano passado, segundo a Cetesb
A qualidade do ar no Estado de São Paulo ficou ruim um maior número de vezes no ano passado em comparação com 2008. No total, foram 271 ultrapassagens do padrão aceitável para a saúde provocadas pelo poluente ozônio em 2009 – em 54 casos o nível de poluição foi tão alto que levou ao estado de atenção. No ano anterior, foram 202 ultrapassagens causadas pelo ozônio – sendo que em 45 vezes se chegou ao estado de atenção. O número de ultrapassagens cresceu 34%.
A mesma relação se observa ao avaliar o número de dias com qualidade do ar ruim. A capital paulista, por exemplo, teve 51 dias com ar inaceitável em 2009 e 43 dias em 2008 – um aumento de 18% – também por causa do ozônio. Os dados foram obtidos pelo Estado no Sistema de Informação de Qualidade do Ar, da Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb). Reportagem de Afra Balazina, no O Estado de S.Paulo.
Para Carlos Lacava, gerente do departamento de Desenvolvimento Tecnológico e Sustentabilidade da Cetesb, não é possível indicar, a partir desses dados, uma tendência na qualidade do ar em São Paulo. Mas ele ressalta que os níveis de poluição estão, em geral, mais estabilizados e que, para melhorá-los, é preciso investir principalmente em transporte sustentável.
“Uma solução meramente tecnológica não vai ser suficiente para resolver. É necessário tirar carros das ruas”, disse. Ele alerta que, enquanto o transporte público não for “mais barato, mais confortável e mais rápido”, isso não acontecerá.
Segundo o Detran, a capital paulista atingiu a marca de 6,7 milhões de veículos em dezembro de 2009 – incluindo carros, motos, caminhões e ônibus, entre outros. Em janeiro de 2008, por exemplo, o número era de 5,9 milhões. No Estado inteiro, até o mês passado, a frota era de 20,1 milhões de veículos.
Na opinião do médico Paulo Saldiva, ligado ao Laboratório de Poluição Atmosférica da Faculdade de Medicina da USP, o diagnóstico é que a qualidade do ar em São Paulo parou de melhorar e pode até piorar nos próximos anos com o aumento da frota. “Há incentivo para a compra de carros, com a redução de impostos, e a qualidade do diesel ainda é muito ruim.”
O ozônio é há alguns anos o poluente que mais preocupa especialistas e autoridades em São Paulo. Para se ter uma ideia, em 2008, ele foi o único poluente responsável pela qualidade ruim do ar. No ano passado, dois dias ficaram com ar inaceitável por conta do óxido nítrico (NO2) e um dia em razão do material particulado (MP10). O monóxido de carbono (CO) e o dióxido de enxofre (SO2) não provocaram dias com ar impróprio nos últimos dois anos.
O ozônio é chamado de poluente secundário por se formar a partir de reações entre óxidos de nitrogênio e compostos orgânicos voláteis, na presença de luz solar. Por sua formação estar relacionada a outros compostos e depender muito das condições meteorológicas, seu controle é mais difícil.
“Com o efeito do NO2 sozinho não é preciso se preocupar. As pessoas não se intoxicam com ele. Mas, na presença de hidrocarbonetos e luz solar, o NO2 gera o ozônio, que está muito acima do desejável”, diz Gabriel Murgel Branco, consultor de emissões veiculares.
Os hidrocarbonetos (HC) – gases e vapores para o qual não há uma concentração totalmente segura e, por isso, não existe um padrão de qualidade do ar – também são precursores do ozônio. O consultor explica que as motos são grandes emissoras de HC. Apesar de o Programa de Controle da Poluição do Ar por Motociclos e Veículos Similares (Promot) ter metas para reduzir essa emissão, ainda não é possível ver resultados nas ruas porque a exigência só é feita para as motos novas. Mas os hidrocarbonetos também são emitidos por veículos pesados, carros, operações com solventes e até pinturas.
Segundo Carlos Lacava, da Cetesb, apesar de não existir um padrão ambiental para a saúde para os hidrocarbonetos, há um nível para as emissões dos veículos que precisa ser respeitado pelas montadoras. Esse nível pode ser checado por meio de inspeções veiculares.
No programa do governo federal Nota Verde, por exemplo, em que os carros são avaliados pela emissão de poluentes, um dos parâmetros considerados é a emissão de hidrocarbonetos.
REVISÃO
Os Estados Unidos acabam de propor um padrão mais rígido para ozônio, que ficará em consulta pública por 60 dias.
Saldiva defende que o País também revise suas emissões, e não somente para o ozônio – a Organização Mundial da Saúde sugeriu padrões mais rigorosos em 2006, mas nada foi feito no Brasil desde então. Segundo o médico, se usássemos o padrão da OMS, ele seria ultrapassado constantemente. “Nossa régua está muito alta.”
SAIBA MAIS
Bom: O ozônio encontrado na faixa de ar próxima do solo, onde respiramos, chamado de “mau ozônio”, é tóxico. Entretanto, na estratosfera (a cerca de 25 km de altitude) o ozônio tem a importante função de proteger a Terra de raio ultravioleta emitido pelo Sol, funcionando como um filtro
Formação: Chamado de poluente secundário, o ozônio resulta das reações entre os óxidos de nitrogênio e compostos orgânicos voláteis, na presença de luz solar
Sintomas: Quando a qualidade do ar fica inadequada pela alta concentração de ozônio, as pessoas podem sentir ardor nos olhos, nariz e garganta, além de tosse seca e cansaço. Quando a concentração do ozônio aumenta ainda mais e a qualidade do ar fica má ou péssima, há risco de mortes prematuras em pessoas com doenças respiratórias
Verde: O excesso de ozônio pode causar danos à vegetação, provocando a redução da fotossíntese e do crescimento das plantas
EcoDebate, 20/01/2010
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