Pesquisa avalia relação entre desigualdades sociais e mortalidade cardiovascular
A pesquisa, feita em Juiz de Fora, concluiu que os bairros com melhores condições sócioeconômicas tiveram mortalidade por doenças cardiovasculares significativamente menor e que a redução das desigualdades pode contribuir para a diminuição das iniquidades
Avaliar a relação entre a mortalidade cardiovascular precoce (antes dos 65 anos) e as condições sócioeconômicas no espaço urbano de um município de médio porte no sudeste de Minas Gerais: este é o objetivo de um estudo realizado por pesquisadores da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) em artigo publicado na revista Cadernos de Saúde Pública da Fiocruz. A pesquisa concluiu que os bairros com melhores condições sócioeconômicas tiveram mortalidade por doenças cardiovasculares significativamente menor e que a redução das desigualdades pode contribuir para a diminuição das iniquidades em saúde.
“As doenças cardiovasculares são a principal causa de morte em muitos países. No Brasil, a mortalidade por doenças cardiovasculares ocorre prematuramente em maior proporção do que em países ricos”, afirmam os pesquisadores no artigo. Para o estudo, foram avaliadas 81 regiões urbanas correspondentes aos bairros do município de Juiz de Fora. Os resultados apontaram que no triênio 1999-2001, dos 9.710 óbitos de residentes da localidade, 33,4% tiveram como causa básica as doenças cardiovasculares, das quais 35,6% ocorreram na faixa etária de 35 a 64 anos. Além disso, os dados indicaram grande predomínio do sexo masculino (61,2%) nos óbitos e maior proporção de mortes por doenças isquêmicas do coração (39%) do que por doenças cerebrovasculares (26,1%).
“As condições sócioeconômicas precárias em que vive a maioria da população podem ter reflexos na dificuldade de acesso a informações sobre saúde e aquisição de alimentos mais saudáveis, na indisponibilidade de locais adequados para a prática de atividades física e no acesso e/ou consumo de tecnologias de assistência à saúde”, comentam os pesquisadores. Eles ainda acrescentam que os hábitos alimentares, de atividade física e o tabagismo, mais do que estilo de vida livremente escolhido pelas pessoas, têm também determinação social, o que é mostrado pela associação significativa com a condição sócio-econômica da área onde o indivíduo vive.
“Conhecer as desigualdades em saúde, compreender suas origens, propor formas de reduzi-las e monitorar mudanças ao longo do tempo e em diferentes espaços geográficos, tudo isso está entre os principais objetivos da epidemiologia. Por mais que a compreensão plena e as ações mais efetivas, que devem estar focadas na mudança da estrutura social injusta, só sejam possíveis em uma escala nacional e global, por envolver determinantes macroeconômicos e macro-políticos, os diagnósticos e as ações locais (municipais) têm também a sua importância”, destacam os pesquisadores. “Políticas setoriais poderiam ter um papel complementar, ao serem focadas nos mecanismos pelos quais as desigualdades sociais geram piores condições de saúde, por exemplo, em um planejamento urbano que facilite o acesso a alimentos saudáveis a locais adequados para a prática de atividade física próximos ao local de moradia”.
Reportagem de Renata Moehlecke, da Agência Fiocruz de Notícias, publicada pelo EcoDebate, 18/01/2010
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