As lembranças de São Raimundo, Urbano Santos, Baixo Parnaíba Maranhense, artigo de Mayron Régis
[EcoDebate] As lembranças se revezam ao sabor do arrastar da conversa. São Raimundo, povoado de Urbano Santos, Baixo Parnaíba maranhense. Francisca, presidente da associação, e as mulheres de São Raimundo, umas de barrigão prontas para parirem, infligiram uma pesada perda ao novo proprietário daquela chapada quando discordaram de seus propósitos de desmatar os 800 hectares para plantar eucalipto.
Até uns anos atrás, São Raimundo se arrevesava para qualquer itinerário. Só mesmo alguém com muita severidade se lascava da sede de Urbano Santos para esse povoado. Wilson, professor municipal, espantou-se da esquisitice de São Raimundo. Noticiou aos moradores do beneficio do Luz para Todos. O infortúnio dessa gente o estropiara.
A Francisca, em várias falas, honra Wilson com um mérito. Na sede do município, ele desposou várias lutas ao lado da comunidade de São Raimundo. “Ele sabe nossa história”, conta Francisca. A eminência do desmatamento da sua Chapada, e com isso os milhares de bacurizeiros e pequizeiros, mexeu a existência deles por dentro e por fora. Outras comunidades vizinhas estão na mesma luta. As três associações de Boa União e a associação de Bom Principio. Quem sabe o que vai resultar disso?
A realidade é maior do que qualquer um. Ela persegue os que fogem dela. Ela supera qualquer discurso. Por conta disso, esperar que caia uma boa chuva rejuvenesceria a todos. O inverno no Baixo Parnaiba reboca a vida das pessoas a partir do mês de janeiro e em 2010 o projeto “Sustentabilidade do Extrativismo do Bacuri em Urbano Santos”, financiado pela Cese e pela ASW, realizado em uma parceria da Associação do povoado de São Raimundo, do Fórum Carajás e do CAPPAM, emplacou a primeira atividade antes do grafar da invernada sobre a Chapada e sobre os ribeirões que, como se sabe, encher-a-se-ão em toda a sua extensão. E nesse rosário de ribeirões, onde os buritizeiros imperam, o maior de todos se chama Preguiça.
As nascentes do Rio Preguiça estão nos municípios de Anapurus, de Urbano Santos, de Santa Quitéria, de Santana do Maranhão e de Barreirinhas. A Chapada, que soluciona os povoados de São Raimundo, Bom Principio, Boa União e outros menores em um total de mais de seis mil hectares, desagrega as boas maneiras em modinhas passageiras de desmate de 0,5 hectare para depreender o projeto de extrativismo do Bacuri.
A comunidade escolheu uma área de capoeira na Chapada, repleta de bacurizeiros em inicio de carreira. Pouquíssimos se arrojariam mais para cima. Um dos objetivos principais do projeto é deixar poucos espécimes da maçaroca de filhotes de bacuri que gracejava naquela capoeira. Com o campo limpo, os espécimes sobreviventes ficarão adultos em alguns anos e assim frutificarão. No espaço livre, a comunidade plantará arroz, feijão, mandioca e milho.
Sobre a mesa dos superintendentes do Incra e do Iterma estacionam vários pedidos de vistoria e de regularização fundiária. As comunidades que entram com esses pedidos devem se abarrotar de muita perspicácia para desenrolar as tremendas burocracias que acautelam esses casos para o agronegócio.
No município de Urbano Santos, as comunidades de Baixão dos Lotero, de Santa Maria, de Bom Principio e da Boa União esperam que o dia, em que suas áreas serão vistoriadas por alguma equipe do Incra, desenfronhe-se e que o sucedido na comunidade de São Raimundo, cujo processo de desapropriação está bastante avançado, repita-se também consigo e com outras tantas comunidades.
Mayron Régis é Assessor do Fórum Carajá, colaborador e articulista do EcoDebate. Coordena o Blog Territórios Livres do Baixo Parnaíba
EcoDebate, 15/01/2010
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