É preciso conscientizar porque, até março, muita água vai rolar… artigo de Américo Canhoto
[EcoDebate] Nenhum trabalho de profilaxia pode funcionar se as pessoas não têm consciência do que e para que fazê-lo.
Joãozinho desce daí!
Você vai se machucar meu filho!
Ô minino teimoso!
Depois não vem chorar!
Para prevenir; na tentativa de evitar que cresça muito o número de vítimas fatais nesta temporada de chuva que está apenas começando; seria preciso conscientizar as pessoas que moram em áreas de risco a respeito do perigo real e imediato que correm.
Mas, como executar essa tarefa numa situação emergencial?
Dá prá duvidar de nossa sanidade coletiva, pois em situações graves e de catástrofes parece que as pessoas sentem um prazer mórbido em ajudar e receber ajuda – talvez esse seja um motivo inconsciente para que não procuremos evitar tragédias anunciadas, que consomem muito mais recursos do coletivo para tapar o sol com a peneira do que a prevenção efetiva – Exemplo, coisas bem simples do cotidiano como fumar e criar um câncer; construir na beira do rio ou pendurado no morro; essas atitudes infantis perante as leis da natureza podem ser facilmente evitadas se houver vontade real – Mas, feito crianças birrentas, nós criamos uma tradição de cultuar a panacéia ao invés de ir para os finalmente.
Os adultos que se recusam a crescer em maturidade psicológica adoram essa novela em tempo real e ao vivo:
Era uma vez… No reino da panacéia.
Um lugar onde todos de alguma forma são doentes do corpo, da mente e da alma, e onde falar sobre sanidade e prevenção efetiva é coisa de doido. Lá o consumo de paradoxos já intoxicou ao extremo as pessoas. Os desastres, o mal e a doença têm um valor incrível. Nele a sanidade é a própria doença e falar em saúde é falar em doença; uma comunidade que é uma coisa de louco.
Lá todos adoram, são chegados em paradoxos, e um dos mais queridos é um tipo de paradoxo de gosto terrível: a insatisfação negativa ou “só dê valor para o que você não tem, ou perdeu”…
Na comunidade da panacéia. Quem dá valor para a saúde ou até a vida antes perdê-la?
Apenas os malucos que correm sérios riscos, até de serem exilados, desprezados e tratados como alienados por se recusarem a fazer o que todo mundo faz; o que é normal. Pois, as pessoas são treinadas desde tenra idade a se agredirem com vícios e a se intoxicarem com excessos de todos os tipos para depois se vangloriarem nas ante-salas dos hotéis de doentes que suas doenças são mais raras, incapacitantes e dolorosas, que as dos outros – Ou quando por ignorância e comodidade invadem as margens dos rios, constroem no alto das encostas ou bem debaixo delas e depois perdem tudo; mas, são valentes e não abandonam o barco, enfrentam a “fúria” das águas, de novo e de novo – ou fazem um tratamento e outro e outro e uma cirurgia e outra e outra – no reino da panacéia somos todos muito insistentes em manter nossos pontos de vista; disso ninguém pode reclamar.
Quando as pessoas negam, mas começam a sentir algum prazer em perder quase tudo – ou a adoecer o prognóstico é sombrio.
A cretinização intelectual é epidêmica e não escolhe cor, sexo, sistema de crenças nem classe social; feito um câncer já tomou conta dos organismos da comunidade – para piorar as coisas parece que pode ser transmitida pelo DNA – além disso, as crianças quando não são infectadas ainda dentro do útero, aprendem a ser “arteiras” com os adultos que ao invés das antigas traquinagens de subir no telhado, nos muros ou nas árvores – penduram-se nos morros – e também são ensinadas a ficar doentes: criança sadia é cobrada o tempo todo, entupida de compromissos, de expectativas e deveres; criança doente recebe mais atenção e carinho, ganha presentes e está livre de cumprir deveres chatos como ir à escola.
Sarar dessa doença não é nada fácil, pois os contaminados pelo orgulho e a ganância através da mídia se encarregam de acenar para os crédulos com o botão mágico do reino da panacéia que resolve tudo – vendendo remédios e terrenos em lugares proibidos; fornecendo material para construir barracos em época de eleições, etc.
Uma das mais “malandras” criações das inteligências acima da média do reino da panacéia é um vírus maneiroso chamado: crédito. Propagam para as pessoas que o negócio é participar da farra do consumo; de preferência gastando muito mais do que ganha ou gastando o que ainda nem ganhou; viajar na maionese enfim (meu amigo ET diz que o crédito é meio que a cocaína do consumo) – mas, vem a ressaca: cair na arapuca do juro do cheque especial, da agiotagem, da promissória – e – depois, ou é processado, fica com o nome “sujo” – Claro que nessas horas a classe social faz a diferença: se é da “crasse arta” ou remediado vai entrar em deprê, angustiar-se; ou ficar doente de verdade (para o povo da panacéia, ficar doente de verdade é algo bem físico: pneumonia, enfarte, câncer e outras coisinhas mais); alguns podem se suicidar de forma direta ou através de doenças auto-imunes para os mais recatados – Mas, os da classe C, D, E; esses podem ter os mesmos peripaques ou até podem ir para a zona dos alagados ou se dependurar na encosta – se tiver sorte vai ganhar uma bolsa – auxílio permanente ou temporária patrocinada pelos outros.
Estamos num beco sem saída?
Será impossível escapar dos vigilantes da insanidade que guardam as saídas do reino da panacéia?
Acreditamos que não. O fator tempo parece que conspira a favor da sanidade – claro que não o tempo climático; pois, a previsão é que neste verão vai chover a cântaros na região sudeste. Diz um amigo meu que logo algum espertinho vai lançar um desodorante anti-mofo.
Como podemos nos ajudar uns aos outros na batalha da conscientização?
O exemplo é um santo remédio:
Para quem quiser se engajar nessa campanha de vacinação, o primeiro passo é desenvolver e melhorar o seu próprio sistema de comunicação íntima, para poder exemplificar com coerência e clareza; ao invés de ficar pensando uma coisa, dizendo outra e agindo ao contrário.
Não adianta muito pregarmos o que não estamos ainda a fim de fazer – e a omissão não funciona – discurse, mas esteja pelo menos tentando fazer.
Para quem não quer ouvir, palavras não funcionam:
Palavras apenas, pouco resolvem quando as pessoas se fazem de surdas a tudo que as faça mudar antigos padrões. Como dizer a um surdo que ele ouve melhor do que o seu vizinho ao lado? Sinalizando. E é preciso saber dizer a coisa certa na hora certa. Usando a linguagem dos sinais. Sinalize para os outros o melhor a fazer; e faça isso sem nenhuma pressa para poder encontrar o momento mais adequado. E, o momento certo para se conscientizar um indivíduo de que ele é doente do corpo ou do comportamento com certeza é no auge da doença. Principalmente a criança doente deve sempre ser responsabilizada pela sua doença, quando isso seja possível e a situação esteja bem clara – nosso comportamento de adultos é semelhante ao de uma criança de 4 ou 5 anos – claro que enxergamos e apontamos as criancices dos outros; mas não percebemos as nossas.
Dica da hora: diga coisas que tem que dizer apenas uma vez. Permita que as pessoas vivam até o limite do suportável as conseqüências de suas escolhas.
Exemplo, não corra atrás de médico nem de remédio para ninguém que já esteja cansado de saber o que deve ou não fazer.
Ou quando um amigo endividado crônico te procura. Pensa bem, pois a maior chance é a de não receberes de volta o empréstimo; e ainda vais perder o amigo; mesmo que ele seja mais amigo da onça. Talvez o melhor a fazer: não tenho ou até não empresto mais; pois da outra vez não me pagaste.
Apenas a linguagem da dor é muito clara:
A clareza é essencial. É preciso ser amorosamente curto e grosso. Pois, na mente embotada do doente da credulidade, a busca da panacéia parece ser o único caminho. O remédio do raciocínio lógico às vezes demora a fazer efeito. Não há que ter pressa que o sujeito entenda que ele é que dá permissão para que os problemas o atormentem ou que a dor ou a doença possa agir nele – claro que em situações de risco: o morro vai “despinguelar” e descer ladeira abaixo; tire o sujeito de lá nem que seja em camisa de força. Sempre que possível permita que as pessoas sintam suas dores, elas precisam viver essa experiência “chocante” para aprender a discernir. Mas, cuidado ao fazer isso, para que não uses a recusa em ajudá-las, como um fator de punição a quem não votou em você; não seguiu teus conselhos ou determinações. Negar ou não permitir não pode ser um ato de vingança ou de retaliação, ao contrário, deve sempre ser um inteligente ato de amor.
Ao tentar ajudar a esclarecer – mesmo que tu carregues nas palavras e atitudes toda a boa vontade do mundo; assim mesmo cuidado. Um grande e revolucionário sábio veio mostrar um dos bons caminhos da cura ao povo da panacéia e acabou na cruz. “Bem aventurados os aflitos…” é um recado muito claro para quem não tem sua mente embotada pelos paradoxos e dogmas (outro bichinho malandrinho e destruidor).
Conscientizar faz parte da profilaxia:
Cada um do seu jeito; a maioria de nós ainda não atingiu um nível mínimo aceitável de humanização (somos pouco responsáveis e imprevidentes). Não queremos ainda saber das leis básicas que regem o processo de humanização: Lei de causa e efeito. Lei de retorno. Lei do trabalho. Lei da reparação.
Quem já começa a vislumbrar um pouco das razões da vida humana deve ficar atento para pegar todos os ganchos possíveis no trabalho de conscientização natural, que é a dor e o sofrimento; um tipo de amigo da onça que convida as pessoas a parar para pensar e reformar as escolhas. Aprendamos a fazer cara de paisagem para as reclamações dos doentes, dando-lhes atenção; claro – mas permitindo que suas queixas entrem por um ouvido e saiam pelo outro, até que eles façam movimentos mínimos de mudança no padrão de atitudes e de comportamento.
Conscientizar as pessoas não é ditar regras, subir em pedestais de sapiência; é compartilhar com elas nossas próprias experiências e aprendizados. Coisa de dia a dia e coisa de vida toda. Nada de minutos na mídia ou cartazes ou campanhas com data para começar e data para terminar. Isso, não funciona.
É muito bom estarmos atentos; pois em muitas situações nós fazemos pior do que aqueles a quem estamos tentando alertar e ajudar.
Meu amigo ET me deixou um teorema prá resolver que está complicado: Se eu vivo ás custas das dificuldades e das dores dos outros – o que eu ganho se ajudá-los a sair de vez das encrencas?
Eu acho, apenas acho que encontrei parte da solução – Quem puder me ajudar; agradeço.
Joãozinho vou falar pela última vez! – Desce do morro meu filho! – Saí da beira do rio! – Olha o temporal que vem aí! – Ocê é doido menino? – Vem aqui prá dentro de casa!
– Que casa tio?
– QUE CASA TIO?
Américo Canhoto: Clínico Geral, médico de famílias há 30 anos. Pesquisador de saúde holística. Uso a Homeopatia e os florais de Bach. Escritor de assuntos temáticos: saúde – educação – espiritualidade. Palestrante e condutor de workshops. Coordenador do grupo ecumênico “Mãos estendidas” de SBC. Projeto voltado para o atendimento de pessoas vítimas do estresse crônico portadoras de ansiedade e medo que conduz a: depressão, angústia crônica e pânico.
* Colaboração de Américo Canhoto para o EcoDebate, 11/01/2010
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