Medo na escola ou medo da escola? artigo de Américo Canhoto
[EcoDebate] Já foi o tempo em que até mesmo a escola pública era considerada um local relativamente seguro; as preocupações da família relacionavam-se a pequenos acidentes, possíveis desentendimentos entre colegas, e, o mais importante: com o aprendizado em si; tanto de conteúdos quanto de valores.
Hoje, a preocupação dos pais em boa parte das escolas é com a segurança – um dos itens prioritários: é se há polícia na porta; para tentar coibir as agressões físicas, assaltos, roubos, tráfico e consumo de drogas – a antiga preocupação com as notas e o futuro na vida profissional foi substituída na conversa entre pais e filhos, pela falta de segurança que gera medo – claro que, depois da novela; se der tempo, a preocupação estende-se até pedofilia…
O que aconteceu? – Como esse desastre foi construído?
De forma politicamente correta: o tempo que a criança permanece na escola deveria ser um momento de tranqüilidade para os pais; afinal ela está num ambiente voltado para a atividade intelectual e, recebendo cuidados de adultos conscientes de seu papel – os educadores (futuros formadores de opinião) – Esse é o cenário esperado; mas, a insegurança tomou conta do meio escolar, e, para tornar mais sombrio o quadro de tragédia já anunciada há bastante tempo; os mais inseguros são exatamente os responsáveis em gerar um ambiente de calma e tranqüilidade: a direção da escola e os professores – e hoje; pasmem: os neo-educadores em geral; pois a patologia comportamental invadiu a pedagogia – e não apenas os laicos e bem “gramaticados” de antigamente; mas, conteúdos pedagógicos á parte; até os que se acham espiritualizados estão dançando o “rap do professor”.
Nem é preciso dizer que a insegurança na escola não é um problema apenas da escola publica e tampouco apenas brasileiro; é mundial; pois o candidato a ser humano; não tem nacionalidade é simplesmente: “candidato” a terráqueo.
Cá entre nós; mesmo a educação sendo colocada como uma das prioridades pelo povo e muito comentada em época de eleição, ela nunca recebeu a atenção necessária dos governantes; e não é de hoje; há séculos não somos adeptos da educação/instrução; quanto mais da educação assentada em valores e na ética – Estudar para que? – dizem alguns “laureados” comentaristas que se expõem na mídia sem o menor pudor – que até acham lindo cidadãos semi – analfabetos construir ou amealhar pouco transparentes fortunas e até assumirem cargos públicos de alta relevância, enquanto os “estudados” sobrevivem para pagar taxas e mais taxas, só para continuarem no mercado ou até vivos; e quem sabe tomar ritalina para poder passar num concurso; e aí sim, viverem descansados sob a égide da segurança de ser um FP – eles são heróis; deram a volta por cima; não precisaram de “cotas de oportunidades”; “forjaram” as suas – Um dos efeitos colaterais dessa vocação extrativista e voltada para a produção agrícola cada vez mais predatória: estamos indo muito rápido de retorno á época das cavernas tecnológicas do pós-descobrimento; pois, em 2009 a queda do percentual do PIB; no que se relaciona á participação da indústria que envolve a produção de manufaturados e de tecnologia caiu de forma perigosa – estamos voltando a ser; e a sermos vistos pelos colonizadores do chamado primeiro mundo, como índios – mas, apenas no sentido pejorativo dos com mentalidade cristã – judaica bem retrograda – Quisera Deus que nos comportássemos como índios de verdade: simples, comedidos, preservadores, respeitadores da vida e da natureza – pena que nossos “chefes emplumados” se deixaram “embebedar” pela sede de riquezas e de prazeres fornecidos pelos “brancos do hemisfério norte” e de outros mundos mais sombrios, em contas achocolatadas…
Obs. Uma das comemorações que mais me deixaram “enojado” até hoje; foi o que já constatei a respeito do que é passado para nossas pobres crianças a respeito do “dia do índio” que mais parece um…
Mas, de volta ao mundo dos “mameloucos” (mamelucos pirados):
Nesse panorama de pouca valorização do ensino; como não poderia deixar de ser; na escola pública a dimensão da encrenca é maior. Basta uma olhadela nas estatísticas de afastamento de funcionários públicos para identificar que, hoje – e vai piorar a cada dia – os professores são campeões em afastamento, e, a maioria por doenças decorrentes da falta de motivação e do estresse crônico: depressão, angústia, pânico, tendinite, fibromialgia, vertigens; e claro, para temperar o samba do crioulo doido, alguma boa e nacional dose de pilantragem – não é difícil entender os motivos – juntam-se a fome e a vontade de comer: o desejo cultural de levar vantagem em tudo soma-se com a agressividade e a violência que trazem insegurança; e que, saiu do pátio e das cercanias da escola, e adentrou pela sala de aula com força total; e o professor tornou-se refém do sistema; muitas vezes consentido (que delícia) – um dos motivos que me levaram ao afastamento temporário de uma participação efetiva em fornecer minhas pobres observações sobre o porvir dos problemas de saúde pessoais e dos alunos, que os mestres vão encontrar a cada dia na sua vida e na sala de aula; foi a constatação de que as preocupações da quase totalidade dos participantes era com os benefícios para a carreira, salário e a maldita aposentadoria que está com os dias contados…
Claro que a indisciplina e a desorganização das escolas são fatores relevantes; e nesse panorama o ensino só piora – mas, muitos outros fatores somaram-se para agigantar as dificuldades.
Nesta conversa, tentando seguir a dica de um dos artigos anteriores de parar de reclamar em 2010 – Vamos focar – e de forma light – apenas um dos construtores da problemática: a falta de disciplina.
Mas, antes é preciso entender o que seja disciplina – não se trata de transformar as escolas em quartéis.
De onde vieram os professores, governantes, educadores e os FP?
Da família; claro; pois, presume-se que todos tenham tido uma.
O problema começa nos lares e na constituição da família também chamada de “célula mater da sociedade” – nela não há regras claras e quando as há; não se cumprem – onde isso vai desaguar? – na vida em sociedade; claro.
É aceita pela quase totalidade das correntes de pensamento que o ser humano necessita de disciplina, para que progrida e viva em paz; consigo e na vida social. Então; por que os “modernos métodos de pedagogia” abriram mão da disciplina? – Se na vida em família, criar regras claras, lógicas e aplicá-las com justiça é um ato de amor e ajudar a criança a perceber seus limites e os dos outros e, a respeitá-los, é um ato de caridade.
Mais do que tudo nós precisamos de disciplina, muita disciplina, especialmente para atingir o grau de humanização condizente com nossas capacidades intelectuais já desenvolvidas; nem que seja apenas para evitar as perseguições pelas idéias políticas contrárias; as mortes e os assassinatos reais e de oportunidades pela guerra dos interesses pessoais, familiares, corporativos, e da “Segurança do Estado”…
Mesmo o sentimento do amor não nasce sem a ajuda da disciplina…
Mas, vamos por partes; disciplinar não é impor, forçar. A verdadeira disciplina é uma atitude voluntária e consciente; portanto necessita da capacidade de discernir que apenas se manifesta sob a ação da educação (de novo: nada ou pouco a ver com simples instrução).
Que razões nos levam a retardar a capacidade crítica das crianças? – Será um mecanismo inconsciente de domínio? – Mantendo o sistema de castas, bolsas, e de quotas? – Talvez sim, talvez não – o fato é que a maioria de nós é muito pobre em discernir, filtrar informações; responsabilizar-se pela própria vida – Claro que a tarefa é árdua; pois teremos que reeducar os adultos de hoje, para que o sistema sofra uma reviravolta capaz de nos libertar.
O que nos autoriza a conjecturar que, hoje, mesmo pessoas com “alto grau de escolaridade” são semi-analfabetas na leitura dos fatos da vida real?
Para discernir com qualidade a pessoa deve obrigatoriamente possuir metas de vida objetivas e claras; além de inteligência crítica; conhecimento do que vai fazer, e mais ainda: trabalhar para alcançar os resultados que espera – pena que não se ensine isso na vida em família nem na escola; daí, nós formamos algumas gerações de cidadãos do tipo: “me engana que eu gosto”; apesar de “gostar de levar vantagem em tudo”… Coisas bem básicas, tipo: “Se não fizer esses exames nem tomar esses remédios, você vai morrer – Se não pagar os devidos encargos vai preso – Se não buscar ajuda psicológica vai parar no hospício – e outras regrinhas mais da forma atual de domínio…
Leis e regras existem para serem aplicadas:
No conjunto da arte de disciplinar-se não pode faltar o respeito pelas regras e a observação dos limites, seja os íntimos, ou os de interação com as outras pessoas – e, acima de tudo; o respeito pelas Leis Naturais de Progresso tanto físicas quanto éticas e morais.
Se alguém disser que as crianças de hoje são pobres em respeitar regras e, em perceber limites todo mundo concorda e aplaude. Mas, se esse alguém afirmar que a falta de percepção e de respeito aos limites não é porque não tenham sido colocados como pensa a maior parte das pessoas; daí, alguns vão estrilar.
De volta á escola:
No contexto atual é normal que os professores em sala de aula fiquem mais malucos do que já são; pois, a cada dia cresce o número de crianças excepcionalmente folgadas, chatas, malcriadas e sem limites. Mas, com uma prontidão para aprender fantástica. Muito bem informadas; especialmente sobre as inutilidades do viver. Muito mal educadas em casas sem regras. Ou quando as tem nunca são cumpridas com inteligência, lógica e justiça. A vida em família está muito mal gerenciada e a maior parte das normas que a regulam é obsoleta para os dias atuais – e como ela representa a sociedade em ponto menor; é normal que vivamos num estado social tendendo ao caótico.
Que falta conteúdo na educação todo mundo concorda – (para não se irritar; cuidado com a confusão entre educação e instrução).
Que as técnicas usadas para educar são arcaicas e obsoletas; disso, ninguém duvida. Tipo faça o que eu digo, mas não o que eu faço. Recursos pedagógicos como: mentiras, chantagens, tentativa de controle, toma lá dá cá, não mais funcionam, antes até que dava para tapear, hoje não dá mais.
Consertar tudo isso é simples; não tão fácil; e uma das dificuldades é retirar o conceito de boa educação das estatísticas; mas, no momento não vem ao caso.
Nosso papo é sobre regras e limites.
Vamos aprender juntos a respeitar regras e limites.
Você conhece e respeita as suas e os seus? – Ou é um analfabeto funcional quando se trata desse assunto?
Com atitudes simples, honestas e funcionais é possível perder o medo na escola e principalmente: o medo da escola e do tipo de pessoas que ela está produzindo. Que os professores atuais não fiquem esperando a aposentadoria chegar; mesmo ainda em início de carreira…
Sinto-me constrangido por abordar um assunto que entedia a maior parte das pessoas: Educação – pior ainda; detesto as frases feitas e os chavões – mas, vamos encerrar este bate papo; pois o assunto é pouco interessante com um dos clássicos: “O último que sair: apaga as luzes e fecha a porta”…
Mas, vamos finalizar com um alerta e assunto para quem se interessa pelo futuro das crianças:
Estresse crônico: A criança em perigo.
Américo Canhoto: Clínico Geral, médico de famílias há 30 anos. Pesquisador de saúde holística. Uso a Homeopatia e os florais de Bach. Escritor de assuntos temáticos: saúde – educação – espiritualidade. Palestrante e condutor de workshops. Coordenador do grupo ecumênico “Mãos estendidas” de SBC. Projeto voltado para o atendimento de pessoas vítimas do estresse crônico portadoras de ansiedade e medo que conduz a: depressão, angústia crônica e pânico.
* Colaboração de Américo Canhoto para o EcoDebate, 08/01/2010
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