A revolta da natureza contra o ‘bicho homem'(I), artigo de Jorge Barros
Angra dos Reis (RJ) – Vista do Morro da Carioca, no centro de Angra, onde 21 pessoas morreram por causa do deslizamento. Foto: Roosewelt Pinheiro/ABr
“O que adianta o homem ganhar o mundo, mas perder a sua alma?” Jesus Cristo
[EcoDebate] Antes de terminar o ano letivo de 2009 eu vaticinei aos meus alunos do Curso de Meio Ambiente e Sustentabilidade e em uma conferencia na Barra da Tijuca, denominada Resgate Ambiental, que o homem irá pagar de forma crescente um preço muito alto pela degradação socioambiental provocada por ele, e o pior, por sua indiferença morfética ao ecossistema. Socioambiental sim, porque o “nó górdio” da questão não é só ambiental, mas também é social com pano de fundo econômico.
A tragédia do final de ano, ressaltando Angra dos Reis, não passou de mais um recado da natureza ao bicho homem. A natureza está dizendo que o ecossistema pode viver sem o bicho homem, mas o homem não sobrevive sem ele. Portanto ele não tem o direito de destruí-la, degradá-la em nome de seu conforto, prazer e lazer, mas sim, respeitá-la, interagir com ela e preservá-la, já que ele, além de ser dependente, é apenas mais um elo, em meio a centenas de elos do nicho ecológico.
O mais patético em tudo isto, é que mais uma vez o bicho homem mesmo morrendo, mas no alto da sua soberba, se sente absurdamente agredido pelo meio ambiente e não o inverso, como se a natureza tivesse invadido o espaço devido a ele e não o animal homem degradado, invadido e destruído o meio ambiente para o seu próprio interesse egoísta.
Pergunto: Quantas vidas mais terão que pagar esse alto preço? Quantas famílias mais terão que chorar e enterrar os seus mortos até que o bicho homem entenda que o planeta Terra e as vidas nele existentes são anteriores ao homem e não o inverso. Quantas mortes mais irão acontecer até que o bicho homem se eduque e se conscientize que antes dele, passaram também pela terra os extintos dinossauros, e que a despeito de seus tamanhos, a natureza se encarregou de eliminá-los, pois para ela, “tamanho não é documento”, ela será e sempre foi maior, mais forte e infinitamente mais poderosa, não obstante se encontrar em um diminuto e quase insignificante planeta contido neste colossal universo sideral. Paradoxal, né? Só o bicho homem não se apercebe dessa verdade.
Desgraçadamente, a tragédia que assistimos localmente tende a se reproduzir cada vez mais intensa e globalmente, pois ao construir cidades em leito de rios, rodovias, residências e pousadas recortando encostas e outras degradações e agressões ambientais, é investir inexoravelmente para tragédias como de Santa Catarina e Costa Verde do RJ.
O homem possui intrinsecamente a necessidade de crescimento e desenvolvimento, mas a natureza, além de não dá saltos, possui a responsabilidade local e global de seu permanente equilíbrio e interação, já que é ela que contém todas as formas de vida e não apenas o bicho homem, que a bem da verdade, até pouco tempo atrás (400 anos), esse mesmo homem melhor reverenciava o seu meio ambiente. Mas graças ao período obscurantista imposto pelo catolicismo retrógrado até o Sec. XVI, e com os adventos da religião protestante e do iluminismo, estes possibilitaram o surgimento do “antropocentrismo”, onde o homem passa a ser deus e o planeta Terra…, bem…, a terra ficou reduzida apenas a um simples depósito de recursos naturais para o seu bel prazer, enriquecimento e diversão.
O excelente filme “O Diabo veste Prada” expressa esta cultura hedonista, através da arte imitando a vida, na personagem “Miranda Priestly”, brilhantemente encarnada pela atriz Meryl Streep, clarificando o quanto o homem moderno, a despeito de todo seu aparato tecnológico e conforto material, está completamente perdido e aprisionado dentro de si mesmo. Pobre homem, porque dos seres vivos, em relação ao ecossistema, ele é indiscutivelmente o único boçal.
* Colaboração de Jorge Barros, Educador, gestor socioambiental e apicultor, para o EcoDebate, 08/01/2010
jorgemarcosbarros{at}gmail.com
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