Excesso de peso durante a gestação aumenta riscos para as mães e para os bebês
Foto: Med Imagem
Por uma gravidez saudável - Estudos revelam: o velho clichê de que a mulher grávida precisa “comer por dois” é extremamente perigoso.
A gravidez costuma ser uma ótima desculpa para quem já gosta de exagerar nas garfadas. Afinal, diziam nossas avós, é hora de comer por dois. Porém, na terceira matéria da série sobre obesidade, o Correio mostra que descuidar da balança nos nove meses de gestação é um risco para a mulher e para o bebê. Apesar da necessidade de ingerir nutrientes essenciais para propiciar um nascimento saudável, a futura mãe não pode se deixar levar pelo mito de que é preciso se alimentar em dobro. Principalmente as que lutam contra os quilos a mais devem ter em mente que o excesso de peso na gravidez pode desencadear problemas como diabetes, hipertensão e pré-eclâmpsia. Pesquisas mostram que o risco dessas complicações ocorrerem em obesas é até seis vezes maior.
As mulheres, porém, não parecem muito preocupadas com isso. Um estudo publicado no mês passado na revista médica especializada norte-americana Obstetrics & Gynecology mostrou que as obesas ganham mais peso durante a gravidez do que as demais gestantes. Um ano depois do nascimento dos bebês, elas também retêm mais quilos se comparadas às outras mães. Reportagem de Paloma Oliveto, no Correio Braziliense.
Na maior pesquisa já realizada nos Estados Unidos relacionando obesidade e aumento do peso na gravidez, cientistas do Centro de Controle e Prevenção de Doenças descobriram um dado assustador. “Setenta e cinco por cento das obesas ganham mais quilos do que o recomendado na gestação e têm maiores dificuldades para perdê-los depois. Esse peso extra não afeta só a mãe, mas o bebê também”, disse ao Correio a principal autora do estudo, Kimberly Vesco.
A pesquisadora e sua equipe analisaram os dados de 1.656 obesas e constataram que, em média, elas mantêm 40% dos quilos ganhos durante a gravidez mesmo depois de dar à luz. As mulheres que engordaram mais do que os 13kg recomendados tiveram oito vezes mais chances de continuar com, pelo menos, 4,5kg nos 12 meses seguintes. Kimberly também constatou que as mulheres mais jovens e as mães de primeira viagem são as que têm maior propensão de engordar além da conta na gravidez.
“Temos de fazer um trabalho melhor para ajudar as mulheres obesas a controlar seu peso durante a gravidez. Depois que o bebê nasce, é muito mais difícil mudar os hábitos alimentares e começar um programa de exercícios”, alerta o médico Victor Stevens, co-autor do estudo e pesquisador do Kaiser Permanente Center for Health Researach. “Se pudermos prevenir o ganho de peso no início, as mães e seus bebês serão muito mais saudáveis a longo prazo.”
Programa especial
Pensando na boa forma, a triatleta Daniela Sturzenegger, 29 anos, começou a frequentar um programa de ginástica especial para gestantes quando estava na 16ª semana de gravidez. Aos 6 meses de gestação, ganhou apenas 6kg. “Além disso, faço natação e musculação. Também tenho acompanhamento de nutricionista. Entrei na ginástica por uma questão de saúde, mas muito também para não engordar e manter a forma”, confessa.
A instrutora de Daniela, Lisiane Bandeira, da academia Companhia Athletica, diz que o principal objetivo da ginástica para gestantes é garantir mais conforto para a futura mãe, já que a gravidez geralmente vem acompanhada de incômodos, como dores na coluna. “Não pode ser uma atividade de alta performance, tem de ser leve e moderada”, explica. Ainda assim, é possível manter a forma com o treino regular. “Já tive uma aluna que era obesa e perdeu 12kg durante a gravidez, o que não afetou em nada o desenvolvimento do bebê. A atividade física durante os nove meses também ajuda a voltar à boa forma mais rápido, depois do nascimento”, ensina.
Daniela explica que, para malhar, a grávida precisa do aval do obstetra, que costuma liberar as pacientes para atividades físicas a partir da 12ª semana. “A partir daí, vai até o bebê nascer”, diz. No mês passado, uma pesquisa publicada no International Journal of Obesity, nos Estados Unidos, mostrou que os exercícios no fim da gestação não representam qualquer perigo para o feto. O estudo, conduzido pela Universidade Politécnica de Madri, também comprovou que, pelo contrário, a prática de atividades traz benefícios para o bebê.
Cento e sessenta mulheres saudáveis entre 25 e 35 anos participaram do estudo. Todas tinham hábitos sedentários antes de engravidar. Metade das voluntárias seguiu um treino supervisionado por especialistas e o restante continuou sem praticar exercícios. No segundo grupo, os bebês nasceram mais pesados, o que acarreta uma série de problemas para a saúde da criança. As que pesam mais de 4kg ao nascer estão mais suscetíveis a doenças como diabetes e alguns tipos de câncer, quando adultas.
Luta
Embora seja natural ganhar peso durante a gravidez — somente o aumento do útero e das mamas, ao fim da gestação, são responsáveis por 2,5kg a mais na balança — , um outro estudo norte-americano sugere que as obesas devem tentar manter ou até perder seu peso. Sempre, é claro, sob estrito cuidado de médicos e nutricionistas. A pesquisa conduzida na New York Medical College acompanhou a gestação de 232 mulheres com índice de massa corporal maior do que 30. Metade delas seguiu o acompanhamento pré-natal tradicional, e a outra metade foi submetida a um programa nutricional monitorado.
A média de ganho de peso no primeiro grupo foi de 14kg, considerada normal para mulheres não obesas, porém perigoso para aquelas que já lutam contra a balança. Já as gestantes acompanhadas tiveram um aumento de apenas 5kg. Além disso, seus bebês nasceram com um peso mais adequado — menos de 4,5kg —, tiveram menor incidência de cesariana, assim como de diabetes gestacional, e perderam peso mais facilmente que as outras depois do nascimento das crianças.
Para Yvonne Thornton, professora de obstetrícia e ginecologia da New York Medical College e principal autora do estudo, a conclusão é de que os médicos precisam receitar programas de dieta específicos para grávidas muito acima do peso. “Mulheres que estão obesas no início da gravidez já são, por definição, pouco saudáveis. Deixar que engordem ainda mais é imprudente e nosso estudo provou isso.”
A própria pesquisadora conta que, quando engravidou pela primeira vez, estava obesa e ganhou uma quantidade substancial de peso na gestação. Com isso, sua longa batalha contra a balança virou uma guerra. Já na segunda gravidez, ela seguiu uma dieta balanceada e engordou muito pouco, sendo que seu bebê nasceu saudável. “A gestação parece uma licença para comer. Falamos sobre ‘comer por dois’. Mas deveríamos pensar, na verdade, em comer por um, mais 1/20”, brinca.
Recomendações para ganho de peso na gestação*
Total de ganho de peso (em kg)
Índice de Massa Corporal
Abaixo do ideal (<18,5kg/m²) 12,5-18 Normal (18,5-29,9kg/m²) 11,5-16 Acima do peso (25-29,9kg/m²) 7-11,5 Obesidade (>=30kg/m²) 5-9
Dicas para controlar o excesso de quilos a mais durante a gravidez**
» Todos os dias, coma oito porções de frutas e vegetais, três porções de laticínios magros, 5 X de alimentos proteicos, seis porções de grãos e três colheres de gordura saudável (como nozes, azeite de oliva ou óleo de canola, por exemplo)
» Faça refeições regulares e pequenos lanches saudáveis entre elas
» Reduza a gordura para menos de 30% das calorias ingeridas por dia
» Reduza o consumo de doces e bebidas adoçadas
» Mantenha um diário para checar se sua alimentação está adequada do ponto de vista nutricional e do tamanho das porções
» Coma apenas 100 calorias
extras por dia, além da que você necessita de acordo com seu
índice de massa corporal
» Exercite-se por 30 minutos diariamente. Se você está
parada, converse com seu treinador para decidir o
melhor programa
*Tabela criada pela Universidade Estadual de Michigan
** As informações são do Kaiser Permanente’s Center for Healh Research, situado nos Estados Unidos, e são apenas sugestões. Mulheres grávidas devem sempre consultar seus médicos antes de iniciar um regime e um programa de exercícios físicos
EcoDebate, 06/01/2010
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