Os grandes projetos e a cobertura jornalística, artigo de Mayron Régis
Foto: SXC
[EcoDebate] Diga-se de passagem: o governo do estado do Maranhão, na gestão Roseana Sarney, colore as fachadas dos prédios públicos e elege dois verbos principais para as suas noticias recém-saídas do forno.
Duvidar que esse governo, antes de decidir que políticas públicas receberão investimentos, pensa, sobretudo, na divulgação ninguém duvida, mas o discurso político, por hora, remedia-se com tão pouco que não seria nada exorbitante o enterro das diferenças sem aviso prévio.
Podem apostar que os textos jornalísticos sobre o governo do estado do Maranhão fazem tábua rasa dos manuais de redação que costumavam ser exaltados nas universidades como componentes intrínsecos das leituras de quaisquer alunos de jornalismo que se prezassem.
Por essa lógica, os estudantes de jornalismo, após a leitura do manual da Folha de São Paulo, tornar-se-iam iguais perante as leis da interpretação e da escrita. Daí um pulo suas colunas serem aceitas nas redações de jornais de grande circulação.
A escolha do verbo dá o rumo ou os rumos para a frase. O verbo é a base da frase. Nesses textos jornalísticos sobre o governo do Maranhão a escolha do verbo impossibilita que o leitor angarie outros sentidos que não aqueles que o jornalista quer passar. O jornalista sufoca o leitor cuja leitura seguirá por aquele caminho que leva aos grandes feitos do governo do Maranhão.
Com certeza, as sutilezas e os meio-tons que freqüentavam os discursos e as práticas públicas da administração do ex-governador Jackson Lago foram desconjuntados pelo atual governo e deram lugar a toda sorte de megalomanias e de imposições político-sociais e econômicas. O governo atual se deleita em ser um governo do lançamento e da inauguração, se bem que é mais verbarrogia.
“Roseana lança primeira aciaria em Açailândia”. Os anos condicionaram a tal ponto o jornalismo que, em vez de documentar o fato e o ato como acontecimentos públicos, ele personaliza a aciaria na figura da governadora Roseana Sarney. Os empresários Ricardo Nascimento e Claudio Azevedo convidaram a governadora e ela aceitou o convite de bom grado. Mais tarde, ela convidaria o presidente da república para inauguração da segunda fase da Alumar e ele sequioso pelo afago de seus aliados veio plantar uma árvore junto com José Sarney. Um pouco antes da Alumar, o presidente Luis Inácio Lula foi presenteado com a licença prévia da refinaria Premium. Menos de um mês após as audiências públicas, a secretaria de meio ambiente do Maranhão sacramenta a instalação da refinaria e o faz como se fosse uma lembrancinha.
Ela sozinha lançou a aciaria. Isso é que dá a entender a chamada. Agora leiam como o filosofo judaico-marxista Walter Benjamin usou o verbo lançar em um texto sobre a poesia de Charles Baudelaire, poeta francês do século XIX: “Não é uma poesia que canta a cidade natal… é o olhar que o alegórico lança sobre a cidade, o olhar do homem que sente ali como um estranho.”
O efeito dado pela chamada do jornalismo maranhense é um efeito mecânico. O leitor foi amassado e depois lançado. No caso da solução de Walter Benjamin, o leitor sente que a cidade o mastigaria se pudesse. Por isso mantém distância. Por isso ele lança seu olhar alegórico como fez Baudelaire. Para que os sentidos do verbo sejam verdadeiramente apreendidos.
Nesse sentido, o governo do estado Maranhão aborta qualquer conversa. A Roseana lançou a Aciaria e o sentido é este. Quem quiser outros sentidos sobre projetos como o da Aciaria, da Suzano ou da refinaria da Petrobrás em Bacabeira deve buscar outros meios que não somente a versão oficial do jornalismo maranhense.
Mayron Régis é assessor do Fórum Carajás, colaborador e articulista do EcoDebate.
EcoDebate, 04/01/2010
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