Copenhague, uma equação sem resposta. Um ecocídio? artigo de Carol Salsa
Polícia dinamarquesa prende mais 200 ativistas em Copenhague, 12/12/2009
[EcoDebate] Deter o caos climático que nos afeta tem sido uma missão impossível para muitos. Burlaram o Protocolo de Kyoto e suas metas. Cento e vinte líderes mundiais acompanhados de suas respectivas comitivas foram incapazes de carimbar suas presenças e, junto a elas, aliar resultados de políticas amigáveis ao meio ambiente, numa das mais importantes Conferências Mundiais do Clima: a COP-15. Líderes mundiais deixaram Copenhague com o sabor amargo do fracasso e provocaram o ecocídio. Esta palavra significa um conjunto de ações realizadas com a intenção de perturbar ou destruir, em todo ou em parte, o ecossistema humano. Pode ainda estender-se analiticamente para descrever os modelos destrutivos (insustentáveis) contemporâneos, bem como a degradação ambiental global e a extinção antropogênica em massa das espécies.
Para o primeiro termo da equação Copenhague X = ……………….(não se encontrou o segundo termo seja ele um acordo, uma ordem, uma declaração ou, ainda, um desastre). Se tivéssemos de optar, talvez escolhêssemos o último, baseado em números conhecidos pelos que mais poluem o planeta. Conclusão: uma negociação falida e uma decepção geral de todos que esperavam o milagre da salvação do planeta. A COP-15, numa defasagem de 12 meses, deixará para a COP 16 o acordo que faltou assinar em Copenhague com metas, responsabilidades que deveriam ser desde já assumidas em tempo de desastres naturais ou de desastres induzidos pelo homem. A solução virá do México, em 2010?
Os acusados de não terem fechado o acordo deixaram sua expressões faciais em fotos estampadas na mídia e na retina das pessoas. O que se esperava era que o altruísmo, a sensibilidade, a tolerância e a fraternidade cedessem lugar à prepotência de alguns. O último que saiu não apagou a luz. A fatura poderá ser cobrada com juros e correção monetária num futuro próximo justo por quem se nega a pagá-la. Ludicamente falando, quem parte, reparte e leva a maior parte também deverá pagar a maior conta (parcela), já que emite maior quantidade de gases de efeito estufa em relação aos demais. É preciso ter em mente que as perspectivas para 2050, quando o nível dos oceanos subir significativamente, as cidades litorâneas submergirão à invasão das águas. Nova York não sairá ilesa. Não valeria a pena pensar que o pior , em maior ou menor grau, atingirá a todos?
Qual o tempo necessário para alcançarmos a maturidade política para ações urgentes como as mudanças climáticas?
Será que a memória coletiva de tantas civilizações passadas não aguçou formas estratégicas dos seres humanos resolverem uma crise mundial, seja ela política, social, econômica ou ambiental?
Nem só de pão vive o homem, mas de toda grandeza que emana de seu ser.
Concordar, ceder, dialogar, convencer, deixaram de ser atributos dos governantes que agora se isolam em grupos como se o planeta fosse segmentado geograficamente em porções com países de mesma visão política ou de uma visão eventualmente corrompida que cede lugar para “agradar” a terceiros. A divisão é, insofismavelmente, entre ricos e pobres.
A Sereia de Copenhague – Enrique Riezu. Foto DW
A lenda passada de geração a geração de que a Sereia, símbolo da cidade de Copenhague enfeitiçava os homens do mar, desta vez, não conseguiu passar à história como a salvadora do clima. Com um acordo mínimo intitulado Copenhague X, morrem as últimas esperanças de poder conseguir um grande acordo mundial de mudanças climáticas. Lamentável oportunidade perdida.
Fonte:
http://pimentanegra.blogspot.com/2006/01/ecocidio.html
http://www.ecoblog.com/post/2905/copenhagen-X-una-ecuacion-sin-resolver
EcoDebate, 19/12/2009
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NÓS LEIGOS AMBIENTAIS…
Infelizmente o contundente discurso do Lula lá na COP não corresponde a prática aqui no Brasil, já que antes de viajar deixou o BNDES emprestar um Bilhão de R$ ao estrategista Eike Batista, dono absoluto da MPX para construir uma térmica a carvão no Maranhão (e construirá outras no Ceará e Pará) e assinou com a Dilma e o Tolmasquim procedimentos para apoiar mais térmicas em SC e no RS. Uma atitude totalmente inversa a vanguarda assumida em Copenhagen, portanto na contramão da história. Não dá pra entender!
O nosso Presidente empolgaria muito mais se tivesse proposto um acordo vinculante mais ousado que o de Kyoto, que foi bom, mas não é mais, pois tornou-se mercantilista e paliativo. Paliativo porque não reduz as emissões de gases efeito estufa, nem os da silenciosa e maléfica chuva ácida, nem a imensa quantidade de calor evaporado, além de toda a brutal agressão aos recursos naturais na exploração do minério.
Nós leigos entendemos que uma conferência deveria antes de tudo ser abrangente e democrática, oportunizando todas as tendências e correntes da ciência, juntamente com os atingidos/testemunhos, num debate amplo sobre o aquecimento global. Entendemos também que deveria haver uma identificação das várias formas de emissões, classificá-las e encontrar os procedimentos mais adequados de como reduzi-las sem causar falência a nenhum setor, porém é preciso sacrifício por parte do poluidor. Enquanto não houver recuo do lucro de nada adiantará discutir entre as partes, partes todas comprometidas com o poder econômico. A ONU não deveria reformular a COP? Torná-la mais socioambiental?
O que vimos nesta COP 15 foi uma imposição do poder econômico que polui o planeta, agindo por trás dos governantes, com o discurso de que os mesmos não podem reduzir as emissões porque geram divisas e empregos. Enquanto que ao mesmo tempo os governantes priorizavam a quantidade de dólares que iriam botar em cima da mesa, mesa que apontava dados sobre o desequilíbrio do clima na Terra. Estão distorcendo tudo. Dos 700 brasileiros que foram à Dinamarca, por exemplo, apenas 10% entendiam do que tratava a conferência, o resto foi fazer turismo e campanha eleitoral.
Quando se fala em mudanças climáticas no Brasil logo se pensa no criminoso desmatamento na Amazônia, enquanto que o mundo inteiro pensa na redução da queima de combustíveis fósseis e na combustão provocada pela imensa frota de veículos, por exemplo. Priorizar o combate apenas as queimadas não é eficientemente correto. Já manifestamos nossa indignação que o meio ambiente no Brasil não é só a Amazônia, outros biomas como a Mata Atlântica, Pantanal, Pampa, Cerrado e a Caatinga também precisam de atenção da União.
Criaram o FBMC apenas para a comunidade científica pensar as mudanças climáticas, pois não ouvem as populações afetadas. O PNMC só se aproveita a metade, o resto é bobagem. Enquanto que no sul do país estão acontecendo as tragédias do clima com uma freqüência e intensidade assustadora, como por exemplo o município de Araranguá – epicentro do furacão Catarina e reconhecido pelas suas catastróficas enchentes desde 1974, passou a registrar tormentas, vendavais, chuvas de granizo gigante, estiagens, ciclones extratropicais e tornados, ou seja, as comunidades desprotegidas ou que vivem em área de risco já estão vivendo uma nova concepção de vida, entrando em estado de pânico sempre que surge um vento repentino, uma nuvem mais escura ou trovoadas seguidas. O cenário da região sul de SC e RS já pode ser considerado estado de emergência climática.
Estudos mais profundos além da ciência da meteorologia como a geofísica, oceanografia, sociologia e ou qualquer outra que esclareça a população que quer respostas para melhor se prevenir e se adaptar.
Caro Tadeu Santos,
Gostei do seu contundente comentário. Intencionalmente não falei sobre as polítcas públicas em relação ao meio ambiente no Brasil. Modéstia sua dizer que é leigo. Sua análise é perfeita. Consciente do grave problema que atravessamos quando ainda , ingenuamente, pensamos que há uma saída honrosa para o aquecimento global. Concluimos: não há.Considero suas palavras complementares ao texto. Obrigado por sua participação no debate.
Um abraço
Carol