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Maior fluxo de pessoas pode ser importante na transmissão do vírus da dengue

A movimentação humana é um fator chave para entender a transmissão do vírus da dengue no Rio de Janeiro, de acordo com resultados obtidos por pesquisadores do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), que acabam de ser publicados na revista PLoS Neglected Tropical Diseases. O estudo contribui para um novo entendimento da dinâmica da dengue na segunda maior cidade do país. O trabalho [Spatial Evaluation and Modeling of Dengue Seroprevalence and Vector Density in Rio de Janeiro, Brazil], realizado em parceria com o Programa de Computação Científica (PROCC/Fiocruz), do Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde (Icict/Fiocruz) e da União Defensora do Meio Ambiente (Uadema), analisou dados coletados antes e durante a epidemia de 2007-2008.

A pesquisa traçou uma espécie de mapa de risco de transmissão da doença, com base em informações sorológicas e da análise da densidade populacional do vetor. O levantamento foi realizado em três regiões do Rio de Janeiro, com diferentes densidades populacionais, cobertura vegetal e histórico de dengue: Higienópolis (caracterizada como região urbana) Tubiacanga (com características suburbanas) e Palmares (uma área de favela). Foram analisadas amostras de sangue de moradores antes e durante a epidemia, para identificar, por exemplo, a presença de anticorpos indicativos da infecção recente pelo vírus. Com o auxílio de armadilhas específicas para a captura de ovos e de espécimes adultos do Aedes aegypti, foi realizada a coleta e análise semanal da população do mosquito.

Os resultados apontaram a correlação entre um maior risco de transmissão da dengue e áreas com circulação mais intensa de pessoas. “Os dados que obtivemos mostram que a transmissão da doença está mais concentrada em áreas onde o fluxo de pessoas é mais intenso, em especial em regiões mais isoladas”, revela Nildimar. “Por exemplo, em Tubiacanga, encontramos taxas de transmissão maiores na área que concentra maior atividade comercial, escolas, e os principais pontos de ônibus. Em Palmares, a única entrada da comunidade é também o local de maior risco pela grande circulação de moradores e pela concentração das atividades comerciais da região”.

A pesquisadora chama atenção, ainda, para as altas taxas de transmissão silenciosa da doença, mesmo durante a epidemia, reveladas pelo estudo. “Analisamos amostras de sangue de 337 pessoas e registramos 30 casos de infecção recente pelo vírus. No entanto, mesmo com o grande número de casos ocorrido em 2007-2008, quase 80% dessas infecções eram assintomáticas, o que evidencia a dificuldade do controle da dengue e da elaboração de estimativas mais aproximadas da real dispersão do vírus”, acrescenta Nildimar.

Os resultados podem ser importantes para um melhor entendimento dos hábitos do mosquito Aedes aegypti e da dinâmica da transmissão da doença. “A pesquisa evidenciou, nos casos estudados, a relevância dos espaços públicos de maior circulação como áreas de maior oportunidade de ação do vetor, assim como os espaços domésticos”, explica Nildimar. “Com base nos dados apresentados, a análise dos padrões de movimentação humana pode trazer novas informações sobre a dinâmica de transmissão da doença, eventualmente contribuindo para a elaboração de possíveis novos modelos de controle e de alerta para surtos de dengue”.

A dengue é um problema de saúde pública em muitas regiões tropicais do mundo. De acordo com a Organização Mundial da Saúde, a prevalência da doença é maior em áreas tropicais da Ásia e das Américas. A doença causa, por ano, entre 50 e 100 milhões de casos de febre de dengue, sua manifestação mais branda, e de 250 a 500 mil casos de dengue hemorrágica em todo o mundo. No Brasil, existem três sorotipos circulantes, responsáveis por epidemias severas nos verões de 2001-2002 e 2007-2008. No último surto, a cidade do Rio de Janeiro registrou milhares de casos da doença, com um total de 240 mortes.

O artigo está disponível para acesso integral no formato HTML. Para acessar o arquivo clique aqui.

Abaixo transcrevemos o abstract:

Spatial Evaluation and Modeling of Dengue Seroprevalence and Vector Density in Rio de Janeiro, Brazil
Nildimar Alves Honório1*, Rita Maria Ribeiro Nogueira2, Cláudia Torres Codeço3, Marilia Sá Carvalho3, Oswaldo Gonçalves Cruz3, Mônica de Avelar Figueiredo Mafra Magalhães4, Josélio Maria Galvão de Araújo2, Eliane Saraiva Machado de Araújo2, Marcelo Quintela Gomes1, Luciane Silva Pinheiro1, Célio da Silva Pinel5, Ricardo Lourenço-de-Oliveira1

1 Laboratório de Transmissores de Hematozoários, Instituto Oswaldo Cruz, Fiocruz, Rio de Janeiro, Brasil, 2 Laboratório de Flavivírus, Instituto Oswaldo Cruz, Fiocruz, Rio de Janeiro, Brasil, 3 Programa de Computação Científica Fiocruz-PROCC, Instituto Oswaldo Cruz, Fiocruz, Rio de Janeiro, Brasil, 4 Centro de Informação Científica e Tecnológica, Laboratório de Processamento de Imagens Fiocruz-ICICT, Rio de Janeiro, Brasil, 5 União Ativista Defensora do Meio Ambiente-UADEMA/NAPVE/FIOCRUZ, Rio de Janeiro, Brasil

Abstract

Background

Rio de Janeiro, Brazil, experienced a severe dengue fever epidemic in 2008. This was the worst epidemic ever, characterized by a sharp increase in case-fatality rate, mainly among younger individuals. A combination of factors, such as climate, mosquito abundance, buildup of the susceptible population, or viral evolution, could explain the severity of this epidemic. The main objective of this study is to model the spatial patterns of dengue seroprevalence in three neighborhoods with different socioeconomic profiles in Rio de Janeiro. As blood sampling coincided with the peak of dengue transmission, we were also able to identify recent dengue infections and visually relate them to Aedes aegypti spatial distribution abundance. We analyzed individual and spatial factors associated with seroprevalence using Generalized Additive Model (GAM).

Methodology/Principal Findings

Three neighborhoods were investigated: a central urban neighborhood, and two isolated areas characterized as a slum and a suburban area. Weekly mosquito collections started in September 2006 and continued until March 2008. In each study area, 40 adult traps and 40 egg traps were installed in a random sample of premises, and two infestation indexes calculated: mean adult density and mean egg density. Sera from individuals living in the three neighborhoods were collected before the 2008 epidemic (July through November 2007) and during the epidemic (February through April 2008). Sera were tested for DENV-reactive IgM, IgG, Nested RT-PCR, and Real Time RT-PCR. From the before–after epidemics paired data, we described seroprevalence, recent dengue infections (asymptomatic or not), and seroconversion. Recent dengue infection varied from 1.3% to 14.1% among study areas. The highest IgM seropositivity occurred in the slum, where mosquito abundance was the lowest, but household conditions were the best for promoting contact between hosts and vectors. By fitting spatial GAM we found dengue seroprevalence hotspots located at the entrances of the two isolated communities, which are commercial activity areas with high human movement. No association between recent dengue infection and household’s high mosquito abundance was observed in this sample.

Conclusions/Significance

This study contributes to better understanding the dynamics of dengue in Rio de Janeiro by assessing the relationship between dengue seroprevalence, recent dengue infection, and vector density. In conclusion, the variation in spatial seroprevalence patterns inside the neighborhoods, with significantly higher risk patches close to the areas with large human movement, suggests that humans may be responsible for virus inflow to small neighborhoods in Rio de Janeiro. Surveillance guidelines should be further discussed, considering these findings, particularly the spatial patterns for both human and mosquito populations.

Author Summary

Dengue is a major public health problem in many tropical regions of the world, including Brazil, where Aedes aegypti is the main vector. We present a household study that combines data on dengue fever seroprevalence, recent dengue infection, and vector density, in three neighborhoods of Rio de Janeiro, Brazil, during its most devastating dengue epidemic to date. This integrated entomological–serological survey showed evidence of silent transmission even during a severe epidemic. Also, past exposure to dengue virus was highly associated with age and living in areas of high movement of individuals and social/commercial activity. No association was observed between household infestation index and risk of dengue infection in these areas. Our findings are discussed in the light of current theories regarding transmission thresholds and relative role of mosquitoes and humans as vectors of dengue viruses.

Citation: Honório NA, Nogueira RMR, Codeço CT, Carvalho MS, Cruz OG, et al. (2009) Spatial Evaluation and Modeling of Dengue Seroprevalence and Vector Density in Rio de Janeiro, Brazil. PLoS Negl Trop Dis 3(11): e545. doi:10.1371/journal.pntd.0000545

Editor: Duane Gubler, Duke University-National University of Singapore, Singapore

Received: March 20, 2009; Accepted: October 8, 2009; Published: November 10, 2009

Copyright: © 2009 Honorio et al. This is an open-access article distributed under the terms of the Creative Commons Attribution License, which permits unrestricted use, distribution, and reproduction in any medium, provided the original author and source are credited.

Funding: This work was supported by grants from the Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientí­fico e Tecnológico, Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro-FAPERJ (grants no. E-26/100.609/2007 and E-26/102.936/2008), Fundação Oswaldo Cruz and Coordenação de Aperfeiçoamento de Nível Superior-CAPES. The funders had no role in study design, data collection and analysis, decision to publish, or preparation of the manuscript.

Competing interests: The authors have declared that no competing interests exist.

Reportagem de Marcelo Garcia, da Agência Fiocruz de Notícias, publicada com informações adicionais pelo EcoDebate, 19/12/2009

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