A ganância corporativa e o marketing irresponsável, por Henrique Cortez
Imagem: Corbis/Charles Waller
[Ecodebate] É impressionante como as montadoras e suas agências de propaganda são incapazes de compreender o que seja marketing responsável.
Em recente campanha em televisão uma montadora, em off, pergunta porque você precisa de um carro com motor 2.0 e 145 cv se vai ficar parado no sinal. Em seguida afirma porque uma hora o sinal abre e continua com imagens do carro em velocidade em uma via inacreditavelmente desimpedida.
Esta “brilhante” campanha talvez ganhe prêmios publicitários, mas terá prestado um imenso desserviço à segurança e ao desenvolvimento sustentável. Os eventuais prêmios publicitários talvez valorizem alguns egos, mas incentivar o consumo responsável nem pensar…
Acidentes de transito matam milhares de jovens todos os anos, mas as montadoras e suas agências de propaganda continuam a produzir e veicular seus comerciais incentivando a “aventura” de dirigir, o excesso de velocidade. Percentual significativo das mortes no trânsito está associado ao excesso de velocidade e as montadoras não podem fazer de conta que ao tem nada com isto.
O “transito” mata mais de 30 mil brasileiros ao ano, a maioria homens jovens, com menos de 25 anos, e o excesso de velocidade é um dos maiores fatores de mortalidade. A experiência mostra que carros potentes, testosterona e álcool compõe um ‘coquetel’ mortal. Mas as montadoras pouco se importam.
Por outro lado, os carros com motor acima de 1.8 são ‘beberrões” de combustível, são mais poluentes e com custo de manutenção bem maior. Não passam de fetiche consumista que atenta contra o planeta e nosso bolso.
As montadoras, assim como outras empresas, investem em bonitos balanços sociais, mas esquecem que responsabilidade social também se aplica às suas estratégias de marketing. Não há responsabilidade social minimamente séria se associada ao marketing irresponsável.
A propaganda pode ser definida como “Comunicação persuasiva. Conjunto das técnicas e atividades de informação e de persuasão, destinadas a influenciar as opiniões, os sentimentos e as atitudes do público num determinado sentido”… [Dicionário de Comunicação, Editora Ática, 3ª edição, 1998, Carlos Alberto Rabaça & Gustavo Barbosa].
Ao influenciar opiniões, sentimentos e atitudes a propaganda tem inegável responsabilidade no comportamento do consumidor e, neste sentido, também nos acidentes por excesso de velocidade.
De nada adianta que uma empresa faça significativos investimentos em responsabilidade social, se, ao mesmo tempo, sua publicidade propõe exatamente o contrário. Uma das duas não é verdadeira – a responsabilidade social ou a publicidade.
Cabe à sociedade civil repudiar o marketing “engraçadinho”, mas irresponsável e, na mesma medida, apenas apoiar e consumir produtos e serviços das empresas cuja responsabilidade social seja real e efetiva.
Henrique Cortez, henriquecortez{at}ecodebate.com.br
coordenador do portal Ecodebate
EcoDebate, 03/12/2009
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