EcoDebate

Plataforma de informação, artigos e notícias sobre temas socioambientais

Notícia

‘Diagnóstico de Copenhague’: Estudo sobre aquecimento global não é para amedrontar, diz climatologista

Capa do relatório
Capa do relatório “The Copenhagen Diagnosis: Climate Science Report”

Vinte e seis climatologistas de renome publicaram, no dia 24 de novembro, um documento de cerca de sessenta páginas sintetizando os trabalhos publicados sobre o aquecimento global desde o último relatório do GIEC/IPCC (Groupe intergouvernemental sur l’évolution du climat ou Intergovernmental Panel on Climate Change, em inglês) em 2007. Entre eles, Nathalie de Noblet, diretora de pesquisa do Comissariado de Energia Atômica, explica os motivos dessa publicação, a poucos dias da conferência de Copenhague sobre o aquecimento global.

Le Monde: Por que vocês publicaram o “Diagnóstico de Copenhague“?
Nathalie de Noblet A ideia era fazer um inventário das pesquisas direcionado aos tomadores de decisão e a todas as pessoas envolvidas em Copenhague. Foram publicados centenas de estudos nos últimos três anos e nós queríamos fornecer todos os elementos para que os líderes pudessem tomar as melhores decisões possíveis, com todo o conhecimento de causa. Reportagem de Raphaëlle Besse Desmoulières, Le Monde.

Le Monde: O que disseram esses últimos estudos?
Noblet Eles mostram que aquilo que havia sido previsto nos últimos relatórios do GIEC em relação ao aumento dos gases de efeito estufa, o derretimento das geleiras, a redução do gelo dos mares, o aumento dos níveis dos oceanos, está acontecendo de acordo com as piores previsões que fizemos até agora.

Le Monde: É uma resposta aos céticos em relação ao clima?
Noblet Não. Os céticos em relação ao clima fazem muito barulho por nada. Eles não apresentam nenhum argumento cientificamente válido. Gastamos muita energia para responder a eles. Como cientistas, nós continuamos a observar a natureza, a criar modelos com ferramentas mais sofisticadas que levam em conta cada vez mais fatores. Quanto mais os tornamos complexos, mais percebemos que as coisas estão acontecendo. Nosso objetivo é que os líderes possam reagir corretamente face ao que acontece. Se quiséssemos combater os céticos em relação à mudança climática, não faríamos nada além disso e não trabalharíamos mais. A última ação deles, de vasculhar os e-mails dos climatologistas, foi um bom exemplo de que eles não têm muito a argumentar.

Le Monde: Você não tem medo de ser muito alarmista?
Noblet Alarmista é a interpretação. Nós, enquanto cientistas, permanecemos factuais. Nós medimos, simulamos, e damos os resultados com a maior precisão e a menor margem de erros possível. Depois, a interpretação é que pode ser alarmista: é preciso levar em conta que acontecem coisas cujas consequências nós não somos capazes de medir porque não temos todos os meios para avaliar as consequências de nossos atos. Acho que é preciso tomar decisões, uma vez que sabemos que a ação do homem está na base do problema. É necessário que os cérebros dos cientistas passem a lutar contra a produção de gases de efeito estufa, que a sociedade tome consciência que emite gases de efeito estufa e que diminua sua produção.

Nosso objetivo não é deixar as pessoas com medo. Nosso objetivo é o de sermos objetivos, de trabalhar e fazer avançar a ciência. Não procuramos criar problemas. Foi a observação da Terra que nos fez ver que algo estava acontecendo. Depois, cada um tem sua interpretação enquanto cidadão. Acho que efetivamente estão acontecendo coisas importantes que não foram observadas no passado e que é importante ver como podemos lutar para combater esses efeitos.

Le Monde: Enquanto cidadã, qual é a sua visão sobre a conferência de Copenhague?
Noblet Não sei. Acho que os cientistas fizeram seu trabalho. O mesmo vale para os meios de comunicação que divulgaram o conjunto de informações publicadas desde o relatório do GIEC de 2007. Os tomadores de decisão têm, portanto, todos os elementos necessários para refletir. Quanto à parte da decisão, é algo que não me diz respeito. Enquanto cidadã, espero que saia alguma coisa dessa conferência. Acho que é importante as pessoas tomarem consciência sobre seu modo de vida. Será igualmente importante apoiar os governos caso eles tomem decisões, uma vez que estas serão certamente dolorosas no começo para os cidadãos. É preciso que os cidadãos estejam prontos para aceitar isso.

Tradução: Eloise De Vylder

Entrevista [Climat : “Notre objectif n’est pas de faire peur aux gens“]
do Le Monde, publicada pelo UOL Notícias.

Nota do EcoDebate: para acessar o sumário executivo do “Diagnóstico de Copenhague”, em português e no formato PDF, clique aqui.

Relatório na íntegra

Report cover

Full report: High resolution PDF (23.3 MB)

Full report: Low resolution PDF (3.3 MB)

Figures: PDF (4.4 MB)PPT (17.2 MB)

Read report online: Flip book

Citation: The Copenhagen Diagnosis, 2009: Updating the world on the Latest Climate Science. I. Allison, N. L. Bindoff, R.A. Bindoff, R.A. Bindschadler, P.M. Cox, N. de Noblet, M.H. England, J.E. Francis, N. Gruber, A.M. Haywood, D.J. Karoly, G. Kaser, C. Le Quéré, T.M. Lenton, M.E. Mann, B.I. McNeil, A.J. Pitman, S. Rahmstorf, E. Rignot, H.J. Schellnhuber, S.H. Schneider, S.C. Sherwood, R.C.J. Somerville, K.Steffen, E.J. Steig, M. Visbeck, A.J. Weaver. The University of New South Wales Climate Change Research Centre (CCRC), Sydney, Australia, 60pp.

EcoDebate, 01/12/2009

Inclusão na lista de distribuição do Boletim Diário do Portal EcoDebate
Caso queira ser incluído(a) na lista de distribuição de nosso boletim diário, basta utilizar o formulário abaixo. O seu e-mail será incluído e você receberá uma mensagem solicitando que confirme a inscrição.

Participe do grupo Boletim diário EcoDebate
E-mail:
Visitar este grupo

2 thoughts on “‘Diagnóstico de Copenhague’: Estudo sobre aquecimento global não é para amedrontar, diz climatologista

  • o escândalo científico do milênio: Climategate: o escândalo em que emails e documentos hackeados de um dos mais reconhecidos centro de aquecimento global do planeta e que mostram a face suja e podre da pseudo-ciência do aquecimento global.

    Veja as últimas notícias sobre o climategate e a omissão da imprensa brasileira.

    http://www.anovaordemmundial.com/2009/12/ultima-noticias-sobre-o-climategate-e-o.html

    Nota do Ecodebate: para evitar contrainformação e confusões conceituais relativos ao suposto Climategate transcrevemos, abaixo, notícia da Folha Online que deixa claro o que realmente aconteceu:

    Após e-mails roubados, universidade afasta climatólogo para apurar fraude

    da Folha de S. Paulo, 02/12/2009 – 09h23

    A Universidade de East Anglia, no Reino Unido, afirmou nesta terça-feira (1º) que afastará temporariamente o diretor de sua Unidade de Pesquisa Climática para abrir uma sindicância interna.

    Phil Jones, cientista que dirige o centro, sairá de atividade para um grupo independente apurar acusações de manipulação de dados contra sua equipe.

    A investigação foi precipitada por uma série de e-mails roubados por piratas virtuais e publicados abertamente na internet, revelando conversas privadas entre climatólogos britânicos e americanos.

    Ativistas que negam a existência do aquecimento global como causa de atividades humanas interpretaram os textos como prova de que os climatólogos de East Anglia forjaram estudos para defender sua causa. Apelidaram o episódio de “Climagate”.

    Nenhuma das mensagens reveladas pelos piratas, porém, oferece prova direta de manipulação. Os céticos do clima baseiam a alegação numa mensagem em que Jones fala sobre tratamento de dados.

    O climatólogo diz ter usado um “truque” para “esconder o declínio” de temperaturas numa série de gráficos. Colegas que defendem o cientista dizem que o termo truque, no caso, se refere a “um bom jeito de lidar com um problema” e não a uma farsa.

    Confusão

    Nicholas Stern, autor de um conhecido estudo sobre mudança climática e economia, diz que os e-mails revelados não sustentam a tese de uma conspiração criada para forjar a existência do aquecimento global.

    “Isso criou confusão, e confusão nunca ajuda discussões científicas”, afirmou o cientista britânico, que diz não crer que o episódio traga problema para a conferência de Copenhague, que debaterá o novo acordo para frear o efeito estufa.

    Com Associated Press

Fechado para comentários.