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COP 15: Copenhague ressuscitou? artigo de Maristela Bernardo

COP 15

[Correio Braziliense] Há um mês ou pouco mais, muitos apostavam que a realização da Conferência do Clima, em Copenhague, de 7 a 18 de dezembro, seria monumental chabu, um fracasso anunciado pelas más notícias das reuniões preparatórias ao longo deste ano. O ambiente generalizado de tirar o corpo fora, capitaneado pelas nações mais ricas, fazia crer que, apesar da urgência notória de medidas mais firmes para enfrentar o desafio do aquecimento global, os governantes do mundo tinham decidido mais uma vez, irresponsavelmente, empurrar o assunto para uma data a perder de vista. Como fizeram com o Protocolo de Kyoto

Estados Unidos e China, em especial, deram péssimo sinal quando, de forma bilateral e ao largo das negociações mais plurais, avisaram que nada de concreto sairia de Copenhague, a não ser um documento genérico jogando as decisões para algum momento futuro politicamente conveniente para ambos.

Hoje, às vésperas da COP 15, parece que a coisa não é tão desanimadora, embora não se possa dizer que houve uma mudança quantificável e verificável de atitude, para ficar no terreno do palavrório diplomático que doura os cenários às vezes assustadores das reuniões internacionais, dado o notório descompromisso com as aflições reais das populações do mundo.

A gangorra de Copenhague continua. Ora notícias muito ruins, ora um raiozinho de luz aparecendo entre nuvens. O Brasil é um exemplo. A visibilidade inevitável do país que detém patrimônio natural incomparável fez o seu papel, pressionando por declarações, promessas e compromissos — desde que não obrigatórios, como reafirmam, nervosos, 10 entre 11 tecnoburocratas e ministros, culminando com o presidente da República. Adicione a isso o fator Marina Silva, fazendo com que todo o espectro político brasileiro corra sôfrego em busca de uma espécie de ambientalismo-delivery, para não fazer feio num debate que será inevitável em 2010. E, é claro, um ponto de inflexão desse debate é a COP 15 e o que cada um dirá e fará após Copenhague.

Ao mesmo tempo, continua o embate interno, com tentativas de enfraquecer ou deslegitimar a legislação ambiental. Feito o balanço, contudo, a posição brasileira avançou, chegou a números, empenhou a palavra. Se espremer, ainda sai muita retórica vazia, mas já é algo para a sociedade cobrar e fiscalizar, principalmente no que diz respeito à coerência das políticas públicas nacionais com as metas anunciadas.

A China e os Estados Unidos, os dois maiores emissores de gases do efeito estufa, também se moveram, talvez um pouco constrangidos com o papelão recente. Barack Obama irá à conferência, o que será grande impulso para o comparecimento de outros dirigentes de peso, modificando o status do encontro e sua repercussão. A China não chegou a tanto. O presidente Hu Jintao não irá, mas o primeiro-ministro estará presente e, mais do que isso, o país anunciou que reduzirá suas emissões de dióxido de carbono em relação ao tamanho do PIB até 2020, tendo como base as emissões de 2005. Não é nada, não é nada, já é algo. Trocando em miúdos, a China diz que não abrirá mão de seu crescimento, mas levará em conta o estrago que poderá provocar no clima e está disposta a colaborar.

Os Estados Unidos também reafirmam a decisão de Obama de investir pesadamente na descarbonização da economia, apesar das dificuldades políticas internas. Tudo isso e mais algumas coisinhas aqui e ali deram uma grande alegria a Yvo de Boer, o secretário-executivo da COP 15. Ele acha que os acenos dos dois gigantes podem ser a energia que faltava para abrir os caminhos e evitar o fracasso de Copenhague. Talvez saia, afinal, um acordo.

O mais importante é que o efeito Copenhague está provocando uma espécie de acerto de contas generalizado com as possibilidades de se fazer algo para sair da rota do inevitável desastre humano, social, econômico e ambiental que se prenuncia, como decorrência do aquecimento global. Na Europa, nos Estados Unidos e na China, a palavra de ordem é a adoção de energias renováveis provenientes de múltiplas fontes, o que implica políticas e orçamentos destinados a isso. O Brasil está muito atrasado nessa corrida, como mostra o recentíssimo estudo Economia das mudanças do clima no Brasil, feito por instituições do porte da USP, Unicamp, Embrapa, Inpe, UFRJ, Fiocruz, UFMG, FBDS, Ipam, Ipea e Fipe. O estudo, para resumir, adverte que o Brasil corre o risco de ter uma perda na economia de R$ 719 bilhões a R$ 3,6 trilhões em 2050 caso não seja feito o necessário para reverter os impactos das mudanças climáticas. Ou seja, vamos torcer para que o desempenho do Brasil na COP 15 seja para valer e não apenas mais um palanque montado às pressas para 2010.

Maristela Bernardo é Jornalista e socióloga

Artigo originalmente publicado no Correio Braziliense.

EcoDebate, 01/12/2009

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