A força das idéias, artigo de Montserrat Martins
[EcoDebate] “Banco é um lugar que te empresta dinheiro se você provar que não precisa dele”, ironizava o Barão de Itararé, sobre o “status quo” que tende a manter o poder de quem já o tem. Mas se fosse sempre assim como seria possível, por exemplo, Obama ter derrotado Hillary nas prévias, já que os Clinton tinham o controle da “máquina” do Partido Democrata ? Essa é apenas uma entre várias evidências da “força das idéias”, capaz de seduzir os outros a mudarem situações que pareciam já estabelecidas. As pessoas, nações ou empresas em posição de liderança não são as mesmas em cada época, a sensação de que as coisas “não mudam” é uma ilusão psicológica, de vermos tudo pelo momento de agora. Quem imaginaria há apenas uma década que o Brasil passaria da condição de eterno devedor para a de credor do FMI ?
O sucesso não ocorre ao acaso, são poderosas as idéias capazes de antecipar o futuro e que nos permitem “visualizá-lo”. Ao contrário de artifícios mais antigos, como o “argumento de autoridade” que visa se impor pela sua própria origem – se vem de uma autoridade é porque é “real”. Nos tempos da ditadura, idéias divergentes das “oficiais” eram tachadas de “subversivas” e quem simpatizasse com elas poderia sofrer represálias, induzindo o medo que levava à autocensura. Durante décadas, vultos da inteligência nacional como Henfil, Millôr e Jaguar resistiram (nas trincheiras d’O Pasquim) com suas metáforas irônicas. Eram pluralistas, pela liberdade de opinião, como a de Nelson Rodrigues de que “toda unanimidade é burra” – e cantaram com Chico Buarque que “apesar de você, amanhã há de ser outro dia”. Na democracia, quando o governo usa argumentos de autoridade o efeito é outro, como ocorreu no caso Battisti. Após o julgamento no STF, a insinuação de que na Itália haveria “um crescimento do fascismo” não inibiu as críticas à posição oficial, nem produziu autocensura (“será que não apoiar Battisti é ser fascista ?”), só gerou constrangimentos com um povo importante na formação da nossa própria cultura.
Nenhuma forma de poder é permanente (com exceção de Sarney e Fidel, diriam alguns gaiatos), nem na política, nem nas finanças. Corporações gigantes da indústria automobilística estão em grave crise, enquanto crescem vertiginosamente os negócios de informática e telecomunicações – e esperamos que no futuro também a produção de filtros químicos, para diminuir a poluição industrial sobre os rios. Assim como caíram os czares e depois o Muro de Berlim, outras renovações seguirão ocorrendo.
Mas só tem poder de promover mudanças “sustentáveis”, duradouras, as idéias mais pluralistas e agregadoras, capazes de incluir a participação de mais pessoas e trazer benefícios a camadas mais amplas da população.. A força das idéias está em nos permitir ampliar horizontes, aproveitando as próprias idéias rebeldes aos atuais sistemas de modo a que possam contribuir para o seu crescimento, como os americanos se permitiram ao eleger Obama. Assim, podemos entender que, aqui no Estado, o movimento dos professores e o dos policiais militares são mais que reivindicatórios, são a expressão das idéias dos que estão “na ponta”, vivenciando os problemas das comunidades.
Colaboração de Montserrat Martins, Psiquiatra, para o EcoDebate, 30/11/2009
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