Tem água na Lua! artigo de Montserrat Martins
[EcoDebate] A Nasa anunciou oficialmente este mês a descoberta de água na Lua, o que anima os cientistas em suas pesquisas que incluem até as origens da vida e do Universo. Bilhões e bilhões de dólares serão gastos nesses projetos, mas quem pode criticar um investimento em ciência, capaz de reverter em benefícios para toda a humanidade?
Ao mesmo tempo, a água no nosso planeta não tem recebido ainda a atenção proporcional à sua importância, ao contrário, tem sido tratada como se fosse um recurso inesgotável.
Após a reação de choque inicial, na época das notícias sobre a mortandade dos peixes no Rio dos Sinos, parece que nos acostumamos com a agonia daquele rio, assim como com o emperramento do projeto pró-Guaíba. Não que faltem verbas, ou financiamentos internacionais. Mas problemas nas prestações de contas fizeram estancar esses recursos e também nos conformamos com isso, ao que parece, pois aparentemente esse tipo de informação não provoca clamor popular, nem vende revistas como vendem as fofocas sobre as vidas fictícias dos personagens de novelas, ou sobre as contratações no futebol.
Sabemos que a Gisele Bündchen é casada com um quarterback, uma posição importante no futebol americano, mas quem conhece o projeto Água Limpa, que a sua família desenvolve no município de Horizontina? Trata-se da preservação das nascentes dos lajeados e das matas ciliares às margens destes, num modelo de uso sustentável que poderia ser reproduzido em todos os municípios, pois prevê apoio e assessoria técnica aos agricultores locais.
Tomara que a notícia sobre a água na Lua seja tema de filmes e programas sensacionalistas de TV prometendo decifrar os mistérios do universo, que chamem a atenção do público para a relação da água com a vida. Que se debata cada vez mais a raridade das condições de vida como a de nosso planeta e de suas condições climáticas propícias à espécie humana, a mesma que está destruindo tais condições favoráveis. Pois, quando se diz que “o desmatamento na Amazônia diminuiu”, não significa que temos mais verde na região, e sim que o desmatamento continua, só que num ritmo um pouco menor. E por que nossa indignação não se faz ver?
É verdade que a vida é complicada, estressante, temos problemas demais e nos sentimos frustrados, impotentes, para pensar o que fazer com as questões graves que as autoridades não enfrentam. Mas não é só isso, não são só os governos que negligenciam esses assuntos, mas todos nós. Somos imediatistas e essa é a razão maior da nossa desgraça. Queremos diversão e lucros com urgência e não nos habituamos a pensar a longo prazo, sobre o esgotamento do maior patrimônio de todos, a natureza. Não sabemos o que fazer com tanto plástico, com tanto lixo, muito menos com os resíduos radioativos das usinas nucleares.
Apatia e passividade estão entre nossos maiores inimigos. Claro que frustrações desanimam, mas vejam por exemplo a Diza Gonzaga, em sua luta na prevenção de acidentes. Ao contrário do que fazemos na maior parte do tempo, ela não se entregou, não se acomodou, não passou a preencher o vazio com os noticiários sobre celebridades. Por falar nisso, eu também não sabia o que é um quarterback, mas aí ninguém tem culpa, se eu ainda não tinha lido as revistas certas.
Montserrat Martins é Psiquiatra.
* Colaboração de Montserrat Martins para o EcoDebate, 28/11/2009
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