Projetos sucroalcooleiros com recursos do BNDES afetam organização de comunidades indígenas
Os empreendimentos sucroalcooleiros financiados pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) estão segregando as populações indígenas em Mato Grosso do Sul, afirmou à Agência Brasil a diretora-presidente do Instituto Brasileiro de Inovações Pró-Sociedade Saudável (Ibiss), Estela Scândola.
Ela denunciou que as comunidades indígenas estão sendo afetadas pelo plantio da cana em torno de seus territórios e pela participação dos índios na atividade de corte da cana. Com as grandes destilarias, o impacto se torna decisivo na vida dessas comunidades, enfatizou.
”Há uma intervenção direta no modo de vida, que esgarça todo o sistema de proteção social existente na comunidade, porque os homens saem para o trabalho e você tem um novo padrão de organização interna que imputa às mulheres uma alta responsabilidade em manter a comunidade”, disse.
O segundo impacto negativo está relacionado com a presença acentuada do plantio da cana no entorno das comunidades. “Esse entorno, de forma decisiva, impacta as comunidades, seja pelo agrotóxico, seja pela ausência de biodiversidade, seja pela contaminação dos rios”, afirmou.
Em consequência, há o agravamento da exploração sexual de crianças e adolescentes, além do esfacelamento dos núcleos familiares, e a ocorrência crescente de casos de alcoolismo no retorno dos trabalhadores indígenas das destilarias. “Eles retornam às comunidades muitas vezes em situação bastante degradante”, salientou.
Integrante da rede de 30 organizações da sociedade civil denominada Plataforma BNDES, o Ibiss participará, a amanhã (23), no Rio, do 1º Encontro Sul-Americano de Populações Afetadas pelos Projetos Financiados pelo BNDES.
Estela Scândola reivindicou que o banco deve ser co-responsável nos financiamentos que concede. Segundo ela, a instituição tem de estabelecer exigências para a concessão dos empréstimos às empresas e também fiscalizar o cumprimento dessas normas. “Isso não tem acontecido. O banco repassa dinheiro para as grandes empresas e elas não têm responsabilidade com as comunidades no entorno dos empreendimentos”, disse.
A trabalhadora rural Irene, do município de Rio Brilhante, será uma das representantes do Ibiss no encontro. Durante o evento, ela contará como o assentamento ficou sitiado no meio da cana e dos animais em fuga que invadiam a localidade. Além disso, a pulverização aérea afetou todo o sistema de plantio de alimentos nos assentamentos.
Estela Scândola insistiu em que cabe ao BNDES impor as condições socioambientais para as empresas que pleiteam o financiamento. “Porque essas duas condições acabam mudando completamente as condições de vida dessas comunidades”.
Ela afirmou que não por coincidência, a maioria dos empreendimentos está indo para os lugarejos. “São pequenas localidades que mudam completamente a forma de organização”. Em Mato Grosso do Sul, existem 45 acampamentos indígenas que lutam pela área de retomada de terra, sem falar nas comunidades que vivem em áreas demarcadas, disse a presidente do Ibiss.
Reportagem de Alana Gandra, da Agência Brasil, publicada pelo EcoDebate, 23/11/2009
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