V Encontro de Comunidades do Baixo Parnaíba
Nada se equivale a um encontro, ainda mais quando transcorreram dois anos desde o último em Paulino Neves, litoral leste maranhense. As comunidades agroextrativistas do Baixo Parnaíba e do litoral “dispensam” por alguns dias as suas rotinas e os seus afazeres em suas roças, em suas reservas florestais, em suas moradas e em seus municípios, longe de tudo e de todos um pouco e muito, mas, por certo, abarrotaram as suas despensas com arroz, feijão e outros mantimentos antes da suas comitivas volverem suas atenções para o próximo encontro de comunidades do Baixo Parnaíba.
Para que um encontro de comunidades no Baixo Parnaíba maranhense suceda a outro urge que um município e suas comunidades, internamente, acolham os propósitos do encontro e que premeditem a sua organização e a sua mobilização. Aflige quem premedita o simples fato de que nem tudo se antevê.
A própria dimensão que o V Encontro de Comunidades do Baixo Parnaíba alcançará em relação ao município de Buriti de Inácia Vaz, sede do encontro, e em relação aos outros encontros é uma incógnita. A assembléia do encontro de Paulino Neves deliberou para que o V encontro acontecesse em São Benedito do Rio Preto em detrimento à Buriti. As organizações daquele município, meses seguintes, dissuadiram-se da realização do encontro.
Durante a eleição de qual município do Baixo Parnaíba, em 2009, acolheria o encontro de comunidades, a dona Francimar, moradora de São João dos Pilões, município de Brejo, suplicou para que a escolha recaísse sobre Buriti de Inácia Vaz em vez de São Benedito do Rio Preto. A razão ofertada por Dona Francimar fora que no município de Brejo se aporta os maiores impactos da monocultura da soja, dentre todos os municípios do Baixo Parnaíba.
Os mais de dez anos de plantios de soja no município de Brejo, Baixo Parnaíba maranhense, celebrizaram a compra de posses de agricultores familiares, a grilagem de terras públicas, o desmatamento de espécies nativas como o bacuri e pequi, a contaminação dos recursos hídricos por agrotóxicos e a proliferação de doenças como câncer e doenças da visão que atingem, principalmente, as populações mais pobres.
A medicina dispensa os nexos entre processos industriais e agrícolas que se baseiam no uso intensivo de químicos e a desnutrição e a debilitação da saúde de populações que convivem com esses processos nas proximidades de suas moradas. As denuncias desses casos pouco ou em nada resultaram de investigação por parte dos poderes públicos.
Como os impactos do agronegócio afligem diretamente e indiretamente centenas de famílias e dúzias de comunidades no município de Brejo, esses são casos de saúde pública e de saúde ambiental. As múltiplas conversações sobre meio ambiente, agricultura familiar e agronegócio arrebatadas, no município de Brejo, entre 2007 e 2009, da parte de sindicalistas e profissionais liberais, deixaram a desejar sobre as perspectivas para as comunidades rurais. As apostas da economia desconhecem a agricultura familiar, o extrativismo e os direitos humanos em Brejo ou em qualquer outro município do Baixo Parnaiba e do Maranhão. A economia dos commodities não é a melhor aposta que a sociedade possa fazer e, até alguém provar em contrário, as comunidades do Baixo Parnaiba apostam em outra economia e em outro tipo de produção.
V ENCONTRO DE COMUNIDADES DO BAIXO PARNAIBA
Buriti Inácia Vaz
26 a 29 de novembro de 2009
Colaboração de Mayron Régis para o EcoDebate, 21/11/2009
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