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Pesquisa mostra que recifes do Banco de Abrolhos estão morrendo por uma doença conhecida como praga branca

Pesquisa mostra que recifes do Banco de Abrolhos estão morrendo por uma doença conhecida como praga branca
Infográfico do Correio Braziliense. Para acessar o infográfico em seu tamanho original clique aqui.

Aumento da poluição no oceano e aquecimento global são as causas mais prováveis

Um tesouro submerso na costa brasileira está silenciosamente desaparecendo. Um grupo de pesquisadores brasileiros alerta que um mal conhecido como praga branca está destruindo progressivamente os recifes do Banco de Abrolhos (BA), um rico complexo marinho que se estende por 42 mil quilômetros quadrados e abriga inúmeras espécies, sendo fundamental para o equilíbrio ambiental na região. E as causas mais prováveis para o mal são o aumento da temperatura global e a poluição no oceano. Reportagem de Gisela Cabral, no Correio Braziliense.

A doença, causada por bactérias, afeta os corais-cérebros, espécie que é a principal responsável pela estrutura rígida dos recifes. Segundo o estudo, conduzido pela Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), existe a possibilidade de que 60% dos organismos sejam mortos até 2100, caso a situação não se reverta. Em um cenário mais alarmante, a partir das estimativas mais pessimistas, todos os recifes da região podem ser afetados até 2050 (veja arte). De acordo com o biólogo da UEPB e coordenador da pesquisa, Ronaldo Francini Filho, o percentual atingido pela praga já chega a 10%, situação que pode piorar no próximo verão brasileiro. “Infelizmente, é possível detectarmos uma mortalidade ainda maior no período”, afirma.

O primeiro passo da pesquisa, que constatou o problema em 2005, foi avaliar a prevalência da doença, ou seja, a parcela de corais afetados. “Foram feitas análises em áreas definidas, chamadas de transectos. Também realizamos a contagem dos corais afetados e dos saudáveis, além da coleta de amostras”, cometa Francini Filho. A segunda etapa consistiu no acompanhamento sistemático de colônias fixas, realizado com a produção de várias fotos. “Aplicamos um modelo matemático baseado nos parâmetros de prevalência e na progressão da doença”, explica.

O cientista esclarece que o coral-cérebro tem coloração acinzentada quando saudável. Porém, ao ser atacado pela praga branca, o organismo tem seu esqueleto calcário exposto, estrutura que costuma ser colonizada por pequenas algas. “Por esse motivo, muitas vezes a doença é confundida com o branqueamento dos corais.”

Depois das coletas, o estudo passou por uma etapa em laboratório, com apoio da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). A dimensão microbiológica foi importante para esclarecer os agentes patogênicos principais, assim como é feito nas doenças que atacam os seres humanos. “Ficou claro que as bactérias associadas às colônias saudáveis são diferentes das que encontramos nas doentes. Percebemos também que, ao longo do tempo, alguns corais acabavam perdendo bactérias benéficas, consideradas verdadeiros antibióticos”, afirma o biólogo.

Calor
Para o coordenador, a modificação da comunidade bacteriana dos corais ocorre devido ao que chama de gatilhos ambientais, como a poluição e o aumento da temperatura das águas, ligado ao aquecimento global. Na opinião dos especialistas, o impacto local é mais fácil de resolver, pois envolve o gerenciamento costeiro e o controle do turismo. “Porém, a questão do aquecimento global é mais complexa, pois não depende somente da região, mas do comportamento mundial”, afirma o biólogo Rodrigo de Moura, coordenador de serviços ambientais da Conservação Internacional, organização não governamental que participa do estudo. Outra parceira é a Universidade de Boston, nos Estados Unidos.

Francini Filho esclarece que o turismo na região não chega a estimular tanto a proliferação da praga branca, pois o maior movimento de visitantes se dá nas áreas próximas do parque. “O Banco de Abrolhos é o alargamento da plataforma continental, numa área rasa e extensa, propícia ao crescimento dos corais, que estão presentes em toda a sua extensão”, diz. Agora, os pesquisadores esperam que os líderes mundiais cheguem a um acordo na 15ª Conferência das Partes (COP 15), reunião das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas que ocorrerá em dezembro, na Dinamarca. Durante o evento, serão debatidas medidas para conter o avanço da temperatura no planeta, que tem gerado inúmeros prejuízos ao meio ambiente. Os corais de Abrolhos são apenas uma das vítimas.

O número
10%: Índice dos corais de Abrolhos já atingidos pela praga, segundo estimativa dos pesquisadores

EcoDebate, 16/11/2009

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