Florestas são solução mais rápida para o clima, artigo de Thomas L. Friedman
Mata Atlântica em São Paulo. Foto de arquivo
[The New York Times] Por mais que já as tenhamos escutado, algumas estatísticas simplesmente nos surpreendem. Uma que sempre me espanta é a seguinte: imaginem que se pegassem todos os carros, caminhões, aviões, trens e navios do mundo e se somassem suas emissões a cada ano. A quantidade de dióxido de carbono, ou CO2, que todos esses carros, caminhões, aviões, trens e navios coletivamente emitiram na atmosfera seria na verdade menor que as emissões anuais de carbono resultantes da derrubada e desmatamento de florestas tropicais em lugares como Brasil, Indonésia e Congo.
Estamos perdendo hoje uma floresta tropical do tamanho do Estado de Nova York a cada ano. E o carbono que isso libera na atmosfera responde por aproximadamente 17% de todas as emissões globais que contribuem para as mudanças climáticas.
Vai demorar um bom tempo até eliminarmos as emissões da frota de transporte mundial. Mas agora – e amanhã – poderíamos eliminar 17% de todas as emissões globais se pudéssemos interromper a derrubada e queima de florestas tropicais. Isso, porém, requer a criação de todo um novo sistema de desenvolvimento econômico – um que torne mais lucrativo para as nações mais pobres e ricas em florestas preservar e administrar suas árvores em vez de derrubá-las para fazer móveis e plantar soja.
Sem um novo sistema de desenvolvimento econômico nos trópicos ricos em madeira, podemos dizer adeus às florestas tropicais. O velho modelo de crescimento econômico as devorará. A única Amazônia (em inglês, Amazon) com a qual nossos netos se relacionarão um dia é a que termina em “pontocom” e vende livros.
Para compreender melhor essa questão, estou em visita à Floresta Nacional do Tapajós, no coração da Amazônia brasileira, numa viagem organizada pela Conservação Internacional e pelo governo brasileiro. Viajando de Manaus para cá em avião a hélice, pode-se compreender por que a floresta amazônica é considerada um dos pulmões do mundo. Mesmo de 6 mil metros de altitude, tudo que se pode ver em qualquer direção é uma extensão ininterrupta das copas de árvores da floresta tropical que, do ar, lembram um vasto e interminável tapete de brócolis.
Uma vez em terra, seguimos de carro de Santarém para Tapajós, onde nos reunimos com a cooperativa comunitária que administra os negócios de cunho ecológico que sustentam os 8 mil moradores que vivem nessa floresta protegida. O que se aprende quando se visita uma minúscula comunidade brasileira que realmente vive na e da floresta é uma verdade simples, mas crucial: para um ecossistema da natureza, é preciso um ecossistema de mercados e governança.
“É preciso um novo modelo de desenvolvimento econômico. Um que se baseie em elevar os padrões de vida das pessoas preservando seu capital natural e não simplesmente convertendo esse capital natural em agroindústria, pecuária, ou indústria madeireira”, disse José Maria Silva, vice-presidente para a América do Sul da Conservação Internacional.
Atualmente, as pessoas que protegem a floresta tropical recebem uma ninharia – em comparação com os que a derrubam -, apesar de agora sabermos que a floresta tropical oferece de tudo, de retirar o CO2 da atmosfera a manter o fluxo de água doce nos rios.
INVESTIMENTO
A boa nova é que o Brasil criou todos os elementos de um sistema para remunerar seus moradores das florestas para que eles as preservem. O Brasil já reservou 43% da floresta tropical amazônica para preservação e para povos indígenas. Outros 19% da Amazônia, porém, já foram desflorestados por agricultores e pecuaristas.
A grande questão, portanto, é o que acontecerá com os outros 38%. Quanto mais fizermos o sistema brasileiro funcionar, mais desses 38% serão preservados e menos reduções de carbono o mundo todo terá de fazer. O problema é que isso exige dinheiro.
Os moradores de Tapajós já estão organizados em cooperativas que vendem ecoturismo em trilhas florestais, móveis e outros produtos de madeira feitos a partir de uma derrubada seletiva sustentável e uma linha muito atraente de bolsas feitas com “couro ecológico”, ou seja, a borracha da floresta. Eles também recebem subsídios do governo.
Sérgio Pimentel, de 48 anos, explicou-me que cultivava cerca de 2 hectares de terra para a subsistência, mas agora está usando apenas cerca de meio hectare para sustentar sua família de seis pessoas. O resto da renda vem de negócios florestais cooperativos. “Nós nascemos dentro da floresta”, ele acrescentou. “Então nós sabemos a importância de ela ser preservada, mas precisamos ter mais acesso aos mercados globais para os produtos que fazemos aqui. Poderia nos ajudar nisso?”
Há cooperativas comunitárias como essa por todas as áreas protegidas da floresta amazônica. Mas esse sistema requer dinheiro – dinheiro para expandi-lo para mais mercados, dinheiro para manter o monitoramente e a fiscalização policial e dinheiro para aumentar a produtividade da agricultura em terras já degradadas para que as pessoas não queiram avançar sobre mais floresta. É por isso que precisamos garantir que qualquer legislação sobre energia e clima que venha a sair do Congresso americano e qualquer estrutura que venha a sair da conferência de Copenhague no próximo mês incluam provisões para financiar sistemas de conservação da floresta tropical como os do Brasil. Os últimos 38% da Amazônia ainda estão disponíveis. Estão lá para nós salvarmos. Nossos netos agradecerão.
Thomas L. Friedman é colunista de assuntos internacionais do The New York Times
* Artigo [Trucks, Trains and Trees] The New York Times, no O Estado de S. Paulo.
EcoDebate, 16/11/2009
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Infelizmente estamos percebendo que a imensa maioria das publicações sobre mudanças climáticas no Brasil só apontam o criminoso desmatamento na Amazônia, enquanto que outras fontes somadas são responsáveis por 50% do total das emissões dos gases efeito estufa, porém não são consideradas, como por exemplo, a combustão e queima de combustíveis fósseis. Nos intriga está excessiva preocupação tanto do Governo Federal qto das grandes ONGs para com a Amazônia em detrimento das populações afetadas pelas tragédias do clima, no sul de Santa Catarina por exemplo, que querem respostas a intensa e frequente ocorrência de enchentes, estiagens, chuvas de granizo, ciclone extratropicais, tornados e o furacão Catarina!
Tadeu Santos ONG Sócios da Natureza