Science Magazine: Estudo estima que a Groenlândia perdeu 1,5 tri de toneladas de água em 9 anos
Massa derretida equivale a 3 milhões de edifícios como o World Trade Center
O degelo está se acelerando na segunda maior massa de gelo do mundo, a Groenlândia, que nos últimos nove anos perdeu 1,5 trilhão de toneladas de água –o suficiente elevar o nível do mar em mais de 4 milímetros. O número é apontado em um estudo [Partitioning Recent Greenland Mass Loss] publicado na edição de hoje da revista “Science”, liderado por Eric Rignot, geocientista da Nasa.
“Nenhuma notícia boa por aqui. Sinto muito”, disse o cientista em entrevista à Folha. Segundo ele, a aceleração do derretimento se verifica desde 2006 em um nível sem precedentes. Isso pode ser apenas uma oscilação normal –em alguns anos o gelo derrete mais, em outros menos. Mas, se for uma tendência, trata-se de mais um sinal de que o planeta está esquentando rápido. Reportagem de Ricardo Mioto, da Folha de S. Paulo, com informações complementares do EcoDebate.
Jefferson Simões, glaciologista da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, diz que não se trata de mero acaso. “É preciso ver que esse não é um estudo isolado, existem várias outras evidências científicas, tudo vai se somando.”
Os números, de qualquer forma, impressionam. Nesta década, as regiões que mais derreteram, aquelas próximas ao oceano, chegaram a perder mais de uma tonelada de água –uma caixa d’água cheia– por metro quadrado por ano.
Outro dado novo é sobre o destino do gelo perdido. Cerca de metade dele se transforma em icebergs, perdendo contato com a Groenlândia. A outra metade se torna lagos de água líquida sobre a superfície de gelo, dizem os cientistas.
Além de servir como sinal de aquecimento, o derretimento do gelo tem uma consequência imediata a elevação do nível dos mares e, com isso, o alagamento de regiões litorâneas.
Se a Groenlândia derretesse por completo, os oceanos subiriam sete metros –uma catástrofe global para áreas costeiras. Nem os pesquisadores mais pessimistas, entretanto, acreditam que isso acontecerá.
O estudo na “Science” pode forçar uma revisão das previsões de 2007 do painel do clima da ONU (o IPCC) sobre o assunto, dizem os cientistas.
Estimava-se que os mares, na pior das piores hipóteses, subiriam no máximo 58 centímetros até 2100. “Levando em conta o novo cenário, eu diria que existe uma real possibilidade de ultrapassarmos esse valor”, diz Jonathan Bamber, físico da Universidade de Bristol, no Reino Unido, e um dos coautores do estudo.
“O valor da ONU é muito pequeno. Infelizmente, o gelo está derretendo rápido. Eu estou preocupado”, diz Rignot.
Falta a Antártida
Para ter certeza que não estavam cometendo erros, os cientistas utilizaram dois métodos diferentes. Um deles usou dados obtidos em solo, outro, via satélite, e os resultados estavam de acordo um com outro.
Para saber com precisão o que vai acontecer com o planeta no futuro, será necessário fazer algo similar com a Antártida. Apesar de o continente gelado ter 90% do gelo mundial –e, portanto, ser muito mais decisivo do que a Groenlândia-, sabe-se relativamente pouco sobre o degelo por lá.
Ainda não existe para a Antártida um estudo como este que sai agora na “Science”, diz Simões. “É o único local onde ainda não está clara a situação, ela é a grande incógnita.”
Os cientistas sabem que a Antártida está passando por um aumento de temperatura e que vem perdendo gelo. Mas ainda é difícil quantificar.
“Sabemos que a região mais central e alta está tranquila, estável, se alguém falar que está mudando é bobagem. O nosso receio é que os derretimentos que estão ocorrendo no norte da península Antártica se espalhem”, diz Simões.
Leiam, abaixo, o abstract na revista Science Magazine e o release da University of Bristol
Partitioning Recent Greenland Mass Loss
Michiel van den Broeke, Jonathan Bamber, Janneke Ettema, Eric Rignot, Ernst Schrama, Willem Jan van de Berg, Erik van Meijgaard, Isabella Velicogna, and Bert Wouters
Science 13 November 2009: 984-986 DOI: 10.1126/science.1178176
The major components of decay contributing to mass loss from the Greenland Ice Sheet can be quantified.
Mass budget calculations, validated with satellite gravity observations [from the Gravity Recovery and Climate Experiment (GRACE) satellites], enable us to quantify the individual components of recent Greenland mass loss. The total 2000–2008 mass loss of ~1500 gigatons, equivalent to 0.46 millimeters per year of global sea level rise, is equally split between surface processes (runoff and precipitation) and ice dynamics. Without the moderating effects of increased snowfall and refreezing, post-1996 Greenland ice sheet mass losses would have been 100% higher. Since 2006, high summer melt rates have increased Greenland ice sheet mass loss to 273 gigatons per year (0.75 millimeters per year of equivalent sea level rise). The seasonal cycle in surface mass balance fully accounts for detrended GRACE mass variations, confirming insignificant subannual variation in ice sheet discharge.
Greenland ice cap melting faster than ever
Cherry Lewis, University of Bristol
Satellite observations and a state-of-the art regional atmospheric model have independently confirmed that the Greenland ice sheet is losing mass at an accelerating rate, reports a new study in Science
Satellite observations and a state-of-the art regional atmospheric model have independently confirmed that the Greenland ice sheet is loosing mass at an accelerating rate, reports a new study in Science.
This mass loss is equally distributed between increased iceberg production, driven by acceleration of Greenland’s fast-flowing outlet glaciers, and increased meltwater production at the ice sheet surface. Recent warm summers further accelerated the mass loss to 273 Gt per year (1 Gt is the mass of 1 cubic kilometre of water), in the period 2006-2008, which represents 0.75 mm of global sea level rise per year.
Professor Jonathan Bamber from the University of Bristol and an author on the paper said: “It is clear from these results that mass loss from Greenland has been accelerating since the late 1990s and the underlying causes suggest this trend is likely to continue in the near future. We have produced agreement between two totally independent estimates, giving us a lot of confidence in the numbers and our inferences about the processes”.
The Greenland ice sheet contains enough water to cause a global sea level rise of seven metres. Since 2000, the ice sheet has lost about 1500 Gt in total, representing on average a global sea level rise of about half a millimetre per year, or 5 mm since 2000.
At the same time that surface melting started to increase around 1996, snowfall on the ice sheet also increased at approximately the same rate, masking surface mass losses for nearly a decade. Moreover, a significant part of the additional meltwater refroze in the cold snowpack that covers the ice sheet. Without these moderating effects, post-1996 Greenland mass loss would have been double the amount of mass loss observed now.
EcoDebate, 14/11/2009
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