Pesquisa da USP relaciona exportação brasileira e gestão ambiental
Boa parte das grandes exportadoras já possui setor específico de gestão ambiental
Descobrir qual é a influência da implantação da gestão ambiental no desempenho das grandes empresas exportadoras brasileiras. Esse foi o objetivo da pesquisa desenvolvida pelo professor e pesquisador Hermann Hrdlicka em seu doutorado defendido na Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA) da USP. A intenção principal foi relacionar dois temas atuais: o crescimento das exportações brasileiras e o aumento da importância da sustentabilidade nas empresas.
A partir da lista das 300 maiores empresas exportadoras brasileiras, Hermman enviou um questionário sobre os dois temas e obteve resposta de 60 delas. Ele explica que o foco da pesquisa não era necessariamente o tipo de ação de gestão ambiental, mas sim como ela se inseria na questão estratégica das empresas. A análise verificou o desempenho das empresas entre 2005 e 2007.
Os resultados da pesquisa apontam que impacto da gestão ambiental como fator isolado é relativamente pequeno, principalmente se comparado com a gestão associada à pesquisa e desenvolvimento de produtos, a chamada P&D. “Quando associei questões de gestão ambiental com outras funções na empresa, por exemplo P&D, elas tiveram uma melhor explicação. A empresa exportadora está muito bem cotada lá fora porque ela inova e tem preocupação ambiental.”
Em relação à presença da gestão ambiental como setor desenvolvido dentro das empresas, a pesquisa aponta que boa parte delas já possui uma área consolidada nas questões de meio ambiente. Isso se deve principalmente ao processo de implantação das normas do ISO 1400, certificado que estabelece diretrizes na área ambiental das empresas. Em média, as companhias que responderam ao questionário já possuíam o certificado há cerca de 7 anos.
Problemas encontrados
Apesar do setor ambiental estar presente dentro de boa parte das empresas analisadas, Hermann explica que são poucas as que avançam com mais profundidade nessas iniciativas. “Falta muita continuidade na educação corporativa no sentido de fazer a educação ambiental”, ele acrescenta que boa parte da educação foi feita visando apenas a implantação das ISOs, mas que não avançaram muito além.
Outra questão que dificulta o desenvolvimento da gestão ambiental, segundo o pesquisador, é a falta de análise dos procedimentos adotados em outras empresas, o chamado benchmarking. “Ao que parece, as empresas estão ainda em estado inicial de aferição de desempenho na gestão ambiental”, esclarece. Dessa maneira, ele supõe que ainda existam alguns problemas que não foram solucionados internamente, passo importante para avançar em relação às comparações externas.
Sobre a comunicação ao consumidor do bom desempenho em relação à implantação de processos ambientalmente importantes, ele comenta dois empecilhos. O primeiro seria a distância da empresa exportadora em relação ao seu consumidor final, uma vez que boa parte dos produtos exportados pelo Brasil acaba mais vinculado à imagem do seu distribuidor final no exterior. O segundo seria a falta da chamada contabilidade ambiental, ou seja, registrar investimentos, despesas e outros lançamentos contábeis relacionados a impactos ambientais e à implantação de processos de gestão ambiental. “As empresas ainda não compreendem a facilidade de se comunicar com as pessoas se ela tiver uma contabilidade. É muito mais fácil obter respostas socioambientais por meio da contabilidade. Você tem que evidenciar ao publico quão verde você é”, completa.
Uma das explicações possíveis para esses problemas, acredita o pesquisador, é que boa parte dos profissionais da área de gestão ambiental ocupam uma função ainda sem grande reconhecimento como função estratégica nas empresas. Pouco mais da metade, por exemplo, participa das reuniões de diretoria.
Fortalecimento da Gestão Ambiental
Por outro lado, um fato que atraiu positivamente o professor Hermann foi a percepção da inserção dos processos ambientais na estrutura da empresa. “A gestão ambiental está ligada à outras áreas da empresa, sozinha ela não tem uma resposta. Isso significa que a gestão faz parte de um todo, ela tem que estar disseminada na empresa.”
Ele ressalta ainda a importância da educação ambiental em todas as esferas, não somente nas empresas: “Nós não somos sozinhos, nós fazemos parte de um todo. Nossa ética tem que mudar.”
Mais informações: hermann.prof{at}gmail.com, com o pesquisador Hermann Hrdlicka. Tese orientada pelo professor Isak Kruglianskas
Reportagem de Rodrigo Martins, da Agência USP de Notícias, publicada pelo EcoDebate, 07/11/2009
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