Turismo Interno: Eu peregrino de mim mesmo, artigo de Américo Canhoto
Olá amigos, eu estou voltando de viagem.
Mas, não dessas de espairecer, desligar o celular e outros modernos apetrechos de obsessão; cultuar o não fazer nada; sair de férias e apenas ser servido ao invés de servir, engordar e ficar de “ressaca” de tanta contemplação; coisas do tipo: querer reter tanta paisagem linda e lugares paradisíacos e morrer de inveja de quem vive ali (a maioria não curte nada daquilo) – Também não me internei em SPA para desintoxicar, ser massageado – Nada disso; motivado por situações e desejo, apenas fiz turismo interno – Confesso que adorei estar de volta; até “aturando” com mais doçura os em torno e, mais disponível para as “agruras” do trabalho diário.
De retorno:
Dou de cara com uma reportagem sobre as rotas nacionais e internacionais de romarias e peregrinações, e seus devidos custos. Claro que tenha me apaixonado por uma das mais belas e mais conhecidas rotas vip de peregrinação: o belíssimo caminho de Santiago de Compostela.
Eu me perguntei: E daí? – Prá que? (claro que se pudesse eu iria; pois no ZOO da minha ecologia íntima, o bicho inveja é gordinho, fortinho).
Fiquei conversando, e até discutindo, com meus botões:
Buscar o caminho interno?
Essa a explicação que a maior parte dos peregrinos oferece a si mesmo e aos outros para empreender tal aventura; a descoberta da paisagem íntima; e o desvendar do seu lado místico e espiritual; que eu chamo de razões para viver; usando como roteiro a paisagem linda e maravilhosa de locações de babar. Nada de excepcional, apenas a repetição dos passos de milhares e milhares de outros que fizeram a mesma tentativa; nem sempre bem sucedida; pois, quase sempre têm suas recaídas no pensar, sentir e agir; além de depressão, pânico e continuam tomando seus remédios para acordar, dormir, transar, subida e descida de pressão arterial, de glicemia, disfunções de tireóide, colesterol, etc.
Nada contra tornar-se um romeiro mochileiro ou curtir a paisagem numa bike ou no lombo de um muar, na tentativa de ligação com nós mesmos, com a Divindade e com a mãe terra. Que bom seria, se todos sem distinção pudéssemos nos conectar ao Divino, dessa forma gostosa e agradável.
Mas, e quem não dispõe de tempo nem recursos para tal empreitada? – Ficará no porto da desesperança a ver navios quando se trata de conhecer seu próprio mundo e suas paisagens íntimas? – Nem será capaz de desenvolver o quantum de espiritualidade compatível com a época atual? Aprenderá a conectar-se apenas através da dor e das complicações?
Claro que não, isso seria excludente e injusto; pois em se tratando de candidatos a seres humanos criatividade é tudo:
Podemos lançar mão da analogia de usar o turismo externo para descobrir o turismo interno ou conhecimento da nossa intimidade?
Lógico, mas nada a ver com Embratur, pelo amor de Deus.
A idéia deste bate papo, é mostrar que há caminhos para o “turismo interno” acessíveis, em todos os sentidos; com a vantagem de trilharmos a qualquer momento; num livre ir e vir; pagando o preço que desejarmos e cambiando segundo nossa cotação; além de criarmos o próprio roteiro; ou correr o risco de copiar os alheios, enquanto somos inseguros principiantes.
Embora ás vezes, por falta de prática e de maturidade nós escolhemos visitar os locais mais sombrios, penosos, inóspitos e íngremes da nossa intimidade; tal e qual uma viagem ao “Vale da Culpa”, por exemplo, sem a presença de um experimentado guia – Além do mais, a qualidade final da aventura depende do roteiro; e do equipamento que cada um deseje carregar consigo. E, ás vezes, nem sempre, também a companhia pode fazer a diferença.
Sim, amigos queridos, é possível peregrinar por dentro de nós mesmos; e, é uma aventura e tanto; desvendar nossos mais recônditos rincões psíquicos, afetivos, emocionais e orgânicos. Viajar pelo próprio corpo? – Sim, a nave orgânica que nos conduz nessa viagem em 3D é intrigante, belíssima, e a maior parte de nós nunca viajou por ela, explorando-a, tal qual fazem as crianças nas primeiras viagens de ônibus, navio ou avião; ela ainda é um insólito mistério, conforme colocamos em nosso livro “Quem ama cuida” numa viagem simples pelo aparelho digestivo de nossa nave orgânica.
Quem vivencia uma viagem dessas, experimenta sensações únicas; e não a troca por nenhuma aventura exterior. Claro que é preciso escolher o roteiro correto. – Não! – Não é preciso tomar nenhuma droga – Basta aprender a fazer silêncio dentro de si e permitir-se fluir tal e qual a água que nos conduz.
Como começar?
Planejar, sempre é nossa obrigação como candidatos a viajantes da eternidade como seres humanos de fato; com passaporte cósmico e tudo.
Imaginemos iniciar uma jornada, saindo de onde estamos neste momento (presente), até um determinado ponto à frente (futuro) – Embora segundo a milenar sabedoria Inca seja o contrário: o passado está na nossa frente e o futuro na retaguarda…
Os caminhos para chegar ao nosso universo pessoal, nosso mundo íntimo, a paisagem do nosso EU são vários e cheios de pegadinhas, tal e qual uma aventura.
É preciso antes de escolher um (que não será o melhor), planejar a viagem e levar apenas o necessário para que seja alegre e prazerosa (desapego é uma das lições que os romeiros da mochila aprendem de cara). Caso carreguemos nas costas muitas coisas inúteis, ou aceitemos a condição de bestas de carga dos outros, breve estaremos parados à beira do caminho, esgotados, resfolegando. E, pior: no prejuízo da inutilidade do sofrer.
Qual o melhor roteiro para o turismo interno?
Não pensa – apenas sente!
O que te atrai em ti mesmo? Tu já paraste para pensar nisso?
Dica: através da sensibilidade do “coração” (intuição) é mais fácil.
Descobrir é simples, pois o fluxo dos acontecimentos ou o correr dos dias assopra ao ouvido da alma de cada pessoa o melhor a fazer.
Lembra do “penso logo existo”? – Então, a mente deve ser consultada sempre, pois alguns princípios básicos devem ser obedecidos:
Aprende a fazer silêncio dentro de ti.
Treina a audição – Fala pouco, pois o som da tua própria voz pode atrapalhar, economiza nas palavras para aprender a ouvir.
Com olhos e ouvidos atentos, presta atenção nas dicas (coisas do dia a dia) para entender quais são as viagens a serem feitas ou refeitas para aprender a explorar o que ainda desconheces na tua paisagem íntima.
Presta atenção (tarefa da mente) que a escolha não é tão complicada assim. Aprender a viver bem é muito fácil desde que estejamos de olhos abertos e de ouvidos atentos.
Cuidado com os agenciadores ou intermediários do turismo interno que desejam te “vender roteiros paraguaios ou “made in china”: religiosos e ícones de auto-ajuda.
Aceita dicas e sugestões; mas não te esqueças: quem vai pagar a conta és tu: Daí, todo cuidado é pouco; então, lembra-te de verificar a origem da dica que tu recebeste, o prazo de validade (dicas de dez mil anos podem estar defasadas ou sempre atuais), e as condições de quem a receitou.
Acha tua turma; pois em grupo tudo é mais fácil e motiva; lembra-te que nada substitui a troca de experiências bem vividas, sentidas e honestas.
Atenção:
Qualquer viagem tem ida e volta.
Brincando com a dualidade das leis da vida; a existência é composta de deveres e prazeres. Flores e espinhos, etc.
Transformar deveres, obrigações em prazeres é uma das alquimias que o turismo íntimo pode nos proporcionar.
Busca sempre mestres confiáveis, pois eles foram felizes, realizadores e realizados; e, muito importante; confere se mesmo hoje; eles continuam com o prazo de validade em dia.
Se tudo está correto; confia nas suas dicas, pois nos mostraram de muitas formas que:
Somos parte do caminho que trilhamos na viagem da evolução.
Feito bumerangues atirados no túnel do tempo: tudo que lançamos de nós a nós retorna um dia.
No momento da viagem de peregrinação ao mundo íntimo, sempre precisamos retornar ao presente interativo. Muitos que se aventuram ao deus dará no desconhecido mundo do EU em 4D; não acham o caminho de volta e ficam conhecidos como esquizofrênicos, autistas, etc.
Aceita tudo que te chega; arquiva o que te interessa.
Como dicas as do tipo de um experiente viajor de si mesmo, chamado Paulo de Tarso não custam nada, analise esta:
“A ação da vida e do tempo na reciclagem da paisagem do caráter”.
Aprender a embelezar o paisagismo do caráter e do temperamento de nascença, é a uma benção na vida de todos.
Executar essa tarefa pode ser algo bem simples e prazeroso.
Vejamos:
Se desde a nascença do teu projeto de vida; desde o início da viagem íntima, dá para observar na tua paisagem: espinhos, cascalhos e árvores retorcidas, aves agourentas, e animais ferozes; sempre há saída para transformar – RECICLAR e acima de tudo EMBELEZAR; pois a vida é bela, muito bela.
Meu amigo transforma-te na ida para recolher na volta:
– Os espinhos da agressividade – Espalhe as sementes da paz, mesmo que o vento da discórdia te atrapalhe, preparando o tranqüilo retorno ao dia a dia.
– Se o cascalho da pressa te faz cair de boca no chão do sofrimento; aprende a usar o bordão da calma; para que na volta; mesmo no meio de gente muito devagar, possas olhar onde pisas sem machucar aos outros nem a ti mesmo.
– Se na aventura da progressão da vida, o inseto da avareza te picou, aprende a beijar o local da ferida e, a passar a pomada de caridade. Na volta terás aprendido a evitá-lo e, a dar o valor certo para cada coisa, mesmo que todo dia tu tenhas que perder um algo qualquer; encara isso como uma vacina ética.
– Ao trafegar pela tua selvagem paisagem íntima; cuidado com o vírus da inveja; mas, se já fostes contaminado, aprende a não prestar atenção no que os outros possuem; para que a febre do poder e do desejo; sem panacéias; seja contida.
– Se ainda sofres da doença do medo; convida teu guia para que fortalecido; na volta, aprendas a ter mais coragem só, somente só.
– Se te achas rico, distribui na ida tua riqueza para aprender a bem usar o dinheiro; para que não sejas assaltado pelo medo e pela avareza na volta.
– Se te imaginas pobre; aproveita na ida para aprender a dar valor às coisas simples e a não cobiçar o que não te pertence. Para assegurar a riqueza de possuíres a ti mesmo sem a escravidão do medo da perda.
Estas são apenas algumas dicas de como trilhar o caminho do turismo íntimo. Prestar atenção a cada detalhe pode fazer toda a diferença. Pois, a beleza da paisagem íntima depende dos óculos com que as descobrimos e exploramos. Ás vezes elas estão na cara, noutras estão escondidas e misturadas, para que o resultado seja bom é preciso descobri-las e separá-las: pois, posso ser rico/feio, bonito/burro, pobre/inteligente, avarento/invejoso, etc. Uma forma de visualizar o momento certo de mudar de foco (trocar de óculos) é atentar bem para os acontecimentos do cotidiano.
Dica da hora: Aprende a viajar de 3D para 4D e retornar e voltar bem rápido
O segredo é mudar a rota durante a viagem.
Sabemos que principiantes não escolhem bons roteiros; daí desenvolver a capacidade de alterar a rota é fácil e divertido.
Como exemplo: Se as coisas começam a ficar sempre atrapalhadas na nossa ecologia íntima é hora de dar um pulinho em nosso zoológico interno e prestar atenção na bicharada.
Por exemplo: a impaciência – ela é acessível a um bom bate papo; se tudo e todos nos contraditam, é hora de atentar para a intolerância – esse é um bicho brabo, mas muito burro, com calma é fácil domá-lo. Se nós estamos sendo traídos com freqüência é hora de analisar o ciúme ou o caráter possessivo – esse bicho é engraçado e possui muitos chifres que se fazem e refazem; seu sonho de consumo é ser mocho. A raiva é a mais engraçada; ela sente muitas cócegas, se tratada com carinho não para de gargalhar.
Está mal? – Dê um role no seu ZOO.
Como escolher os companheiros de viagem?
Não confundir com escolher dirigentes políticos; pelo amor de Deus.
Cuidado com os mais trapalhões do que tu mesmo.
É complicado, pois ainda temos de um jeito ou de outro uma vida muito atrapalhada, quase sempre mal gerenciada, recheada de frustrações e de sofridas lições. Um dos motivos disso, é que nos preocupamos em mudar os outros ao invés de reformar a nós mesmos. Pura perda de tempo. Além, de invasão da privacidade alheia. Cada um tem o direito de ser do jeito que quiser e mudar quando desejar ou quando for capaz.
Fomos induzidos pela agência de viagens oficial: a tal da educação; a fazer algumas confusões na hora de escolher rotas e companhias.
Coisas básicas do tipo: confusão danada entre estar solidário com o outro e intrometer-se na sua intimidade, meter o bedelho nas suas escolhas ou querer fazer suas lições mais básicas de vida; nós até nos sentimos pessoas ótimas quando fazemos lições que não nos pertencem; só que esse tipo de atitude é uma forma de roubo. Estamos subtraindo dessas pessoas oportunidade do aprendizado fácil e simples de viagens íntimas.
Na escolha do roteiro de cada um que vai por o pé na estrada da intimidade.
Não te metas onde não és chamado: Não dá palpite nas escolhas de vida das outras pessoas, seja quem for: pai, mãe, filho, mulher, marido, amigo, adversário. Esquece a tarefa dos outros, faça bem feito as tuas. A muitos intrometidos e controladores, isso pode soar como uma forma de egoísmo. Veremos que é exatamente ao contrário.
No turismo íntimo dos outros não te tornes especialista em tirar do atoleiro; pois hoje chove muita informação, desejo de consumir e crédito; daí, as pessoas atolam-se em dívidas e depressões. Na estrada da vida hoje as pessoas viajam muito aceleradas o que pode torná-la perigosa e complicada. Ajude sempre que possível; mas, quem perder tempo tentando fazer as tarefas dos outros; breve vai descobrir que perdeu esse tempo, oportunidades e ainda assumiu compromissos futuros com as pessoas a quem atrapalhou com opiniões que depois precisam de reforma. Uma das palavras de ordem do momento é: seja simples, para viver de forma saudável e eficiente.
Somos todos viajantes do tempo; estamos com o pé na estrada da intimidade e da interatividade há muito tempo.
A intenção do bate papo (ele vai continuar para relatar meu diário de bordo das últimas viagens mais longas) é trazer ao leitor uma reflexão lógica que possa ajudá-lo nas suas viagens íntimas diárias. E quem sabe até criar um tipo de estímulo a mudar sua forma de percepção de ser romeiro de si mesmo, e engajar-se. Pois, detemos em nós paisagens escuras, amedrontadoras e outras capazes de provocar êxtase. De forma rotineira os caminhos mais estreitos e íngremes costumam nos levar aos locais paradisíacos no turismo interno – Como nos disse um grande Guia chamado Jesus. Outros como o Buda nos sinalizam o caminho do meio; as opções são muitas. O mais divertido é cada um definir seu próprio roteiro.
Uma dica de um sofredor de carteirinha que está aprendendo a escolher melhores roteiros: É muito mais inteligente, gostosa e alegre a rota das poucas qualidades que dispomos. – Ah! – Não esqueçam de levar muita música e alegria – e não percam o passaporte (integridade mental), pois essa não pode ainda ser uma viagem sem volta.
Até.
Ultima dica:
“Sorria você está sendo filmado” – essa brincadeira é real na viagem da evolução. Já ouviu falar de registros akásicos? – Mas, sempre é bom levar a filmadora e a máquina do raciocínio crítico.
Américo Canhoto: Clínico Geral, médico de famílias há 30 anos. Pesquisador de saúde holística. Uso a Homeopatia e os florais de Bach. Escritor de assuntos temáticos: saúde – educação – espiritualidade. Palestrante e condutor de workshops. Coordenador do grupo ecumênico “Mãos estendidas” de SBC. Projeto voltado para o atendimento de pessoas vítimas do estresse crônico portadoras de ansiedade e medo que conduz a: depressão, angústia crônica e pânico.
* Colaboração de Américo Canhoto para o EcoDebate, 03/11/2009
EcoDebate, 03/11/2009
Inclusão na lista de distribuição do Boletim Diário do Portal EcoDebate
Caso queira ser incluído(a) na lista de distribuição de nosso boletim diário, basta utilizar o formulário abaixo. O seu e-mail será incluído e você receberá uma mensagem solicitando que confirme a inscrição.
Participe do grupo Boletim diário EcoDebate |
Visitar este grupo |
Fechado para comentários.