Carnaval e saneamento básico, artigo de Aroldo Cangussu
[EcoDebate] Às vezes fico impressionado com as grandes despesas que algumas prefeituras da região fazem para promover festas nas suas cidades, normalmente com bandas de música axé e forró e duplas sertanejas. E são prefeituras de municípios pobres – paupérrimos até – e, mesmo assim, não medem esforços para trazer esses artistas.
Já discuti isso com alguns prefeitos e eles me informaram que essa é a maior demanda de parte da população, principalmente dos jovens que reclamam da falta de diversões na sua cidade. Normalmente, essas cidades carecem de tudo, principalmente saúde, educação e saneamento básico.
O que me deixa admirado é que nessas localidades não existe tratamento de esgoto, o lixo não é bem administrado e o abastecimento de água é deficiente. Nada disso preocupa muito os jovens, eles querem saber é de festa. A saúde, também, é altamente problemática e o dinheiro gasto nas “micaretas” e “folias” poderia ser muito mais bem empregado para melhorá-la.
Infelizmente, temos a cultura, principalmente aqui na região norte de Minas, de priorizar a televisão relegando a leitura a segundo plano. Basta verificar a circulação de jornais e revistas – que é baixíssima – e a ausência completa de livrarias para se constatar o nível de exigência das pessoas. Não existe um só cinema em toda a micro região da Serra Geral, isto é muito triste.
Quero deixar bem claro que tudo isso não ocorre apenas aqui na nossa região e sim em todo o estado de Minas Gerais, no Brasil e em toda a América Latina.
Quase todas as pessoas reclamam de seus prefeitos em relação a atendimento médico para curar doenças, mas ninguém exige tratamento adequado em relação ao esgoto, abastecimento de água e disposição adequada do lixo que são fundamentais para a prevenção daquelas doenças.
Assim, temos um círculo vicioso: o prefeito tenta atender – mal – as demandas do seu povo, porque isso traz votos e deixa de fazer aquilo que realmente iria trazer benefícios para a população, pois, eleitoralmente, não é recomendável instalar tubulações subterrâneas de água e esgoto.
Mas, o futuro dirá quem foi bom para a cidade: aquele que assumiu o risco da impopularidade e implantou projetos modernos ou aquele que realizou o melhor carnaval.
Aroldo Cangussu, Engenheiro, Coordenador Adjunto do Fórum Mineiro de Comitês de Bacia Hidrográficas e do Comitê de Bacia dos Afluentes Mineiros do Rio Verde Grande SF-10.
EcoDebate, 24/10/2009
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