Uso de lodo de esgoto na agricultura requer cuidados
Infográfico do Correio Braziliense. Para acessar o infográfico em seu tamanho original clique aqui.
Uma das práticas para a conservação e a recuperação dos solos difundidas no Brasil é o uso de lodo de esgotos domésticos em áreas agrícolas. Além de ser uma solução ambiental para os resíduos, vários estudos no Brasil comprovaram a eficácia do uso dos chamados biossólidos. Entretanto, a possível presença de poluentes — como metais pesados, patógenos e compostos orgânicos persistentes — pode provocar impactos ambientais e na saúde. Um estudo feito pela Embrapa Meio Ambiente em Jaguariúna (SP), órgão da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, mostrou que o uso do lodo de esgoto em uma cultura de milho pode causar contaminação do solo em médio e em longo prazos. Reportagem Silvia Pacheco, no Correio Brasiliense.
Segundo Lourival Costa Paraíba, coordenador da pesquisa, o perigo está nos hidrocarbonetos policíclicos aromáticos (HPAs), compostos químicos geralmente formados a partir da queima incompleta de material orgânico e que podem ser responsáveis pela formação do câncer ou causar mutações na molécula do DNA.
O lodo de esgoto é um produto obtido em estações de tratamento. Os resíduos passam por um processo até chegar a uma forma gelatinosa, que é recolhida e distribuída para ser usada como adubo agrícola (ver arte). Embora essa matéria tenha altos níveis de nutrientes para o cultivo de plantas e para a recuperação de áreas degradadas, ela também possui poluentes. “Em geral, os tratamentos de esgoto não são suficientes para remover completamente essas substâncias. As pessoas não consomem o lodo, mas podem estar expostas a substâncias nocivas se esse material não for descartado de forma segura”, afirma.
De acordo com o estudo feito em cultura de milho, os níveis de HPAs encontrados não chegaram a afetar a segurança do alimento, mas podem comprometer o solo com o passar do tempo. Segundo Paraíba, os resultados da pesquisa fornecem subsídios e orientação para decisões técnicas e políticas no sentido de cultivar ou não plantas utilizando o lodo dos esgotos. “Cada lodo deve ser caracterizado quanto a presença de todos os tipos de substâncias. Acho também que a sociedade deve ser informada quando comprar um produto agrícola produzido com esse material. Portanto, a pesquisa, a informação e as decisões políticas devem aprovar ou desaprovar o uso de lodo como adubo de plantas cultivadas para a alimentação e indicar que destinos seguros podem ser dados ao lodo.”
Metais pesados
Carlos Roberto Espíndola, engenheiro agrícola e professor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), diz que o lodo, além de ser econômico, é um excelente adubo, por ser rico em matéria orgânica, fósforo e nitrogênio. Contudo, Espíndola é categórico ao afirmar que um dos maiores problemas encontrados na utilização desse material são os metais pesados, entre eles o chumbo e o mercúrio, extremamente prejudiciais à saúde e muito difíceis de serem retirados do solo. “Precisa haver uma análise específica para saber se há ou não contaminantes nesse material. Além disso, deve ser analisado também em que cultura o lodo será usado e durante quanto tempo. Não vale a pena correr o risco de contaminação.”
Ao comentar a pesquisa, Carlos Eduardo Borges, superintendente de operação e manutenção de esgotos da Companhia de Saneamento Ambiental do Distrito Federal (Caesb), atribuiu os níveis de contaminação do lodo de esgoto a um local altamente industrializado. “Os HPAs são comuns em regiões industrializadas, com lançamentos de resíduos de petróleo na rede coletora. Por exemplo, locais perto de refinarias, que não é o caso do DF. Mesmo assim, fazemos a análise dessas substâncias no lodo processado por nós”, assegura. Ainda segundo o superintendente, as taxas desse material, inclusive de metais pesados, encontradas estão abaixo de 10% do limite máximo permitido.
EcoDebate, 19/10/2009
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