O que se esconde por trás de declarações públicas ambientais? artigo de Carol Salsa
Imagem: iStockphoto.com
[EcoDebate] Aristóteles, na antiguidade clássica, dizia que os sons emitidos pela voz são os símbolos dos estados da alma. A análise clássica da linguagem lhe atribuía, como função, externalizar o pensamento. A linguagem verbal sem a função de exteriorizar o pensamento pode ser considerada débil, vazia ou oca. A linguagem é vida como tradução: manifestação sensível e externa da representação interna. Portanto temos, aqui, a função expressiva.
A teoria matemática da informação, inspiradora das teorias da informação e da comunicação formuladas por Waver e Schannon trouxe um impulso decisivo à questão ao propor um modelo para a comunicação. Essas teorias veiculam uma concepção de linguagem como comunicação.
Em 1934, o psicólogo austríaco Karl Bühler propôs um modelo de forma triádica, apontando três fatores básicos para a linguagem: o destinador, o destinatário e o conteúdo.
A partir desses fatores físicos, formulou três funções para a linguagem verbal: função expressiva ou sintomática, centrada no destinador; função de sinal, centrada no destinatário e função de descrição ou representação, centrada no contexto. K.R.Popper acrescentou a esses três, a função de discussão argumentada.
Toda essa introdução é para chamar a atenção para as comunicações entre autoridades da política ambiental brasileira, seja em entrevistas ,seja em simples alocução verbal, para dar uma nova roupagem às declarações feitas especialmente na mídia impressa ou falada para externar o andamento das obras públicas, entre outros assuntos.
O Yahoo, a título de exercício escolar, propôs descrever 15 itens para uma prática ambiental, um salutar exemplo a ser seguido. Críticos dos resultados das provas do ENEM se reservam o direito de veicular as “Pérolas do ENEM”.
Que diríamos das manifestações de políticos brasileiros na exteriorização de um pensamento vazio? Mesmo com todo o cuidado necessário ao carregar um andor onde o santo é de barro, como analisar a seguinte notícia publicada no jornal O Estado de São Paulo: [……………….aparentemente, o estudo e o relatório de impacto ambiental( EIA-RIMA) de Belo Monte, entregues pela Eletrobrás no fim de fevereiro, são de boa qualidade o que favorece a análise dos técnicos].
O que é de boa qualidade? O que favorece a análise de técnicos? O Parecer Técnico ainda não foi entregue e é ele o documento conclusivo de um grupo de analistas ambientais do próprio IBAMA .
Voltando à frase sem sentido lógico, chegamos a conclusão que aqui no Brasil (porque é o país que nos interessa citar) a declaração é vazia e atenderia , talvez, a qualquer um dos desavisados sobre matéria ambiental. O fato, Senhores, é que o leitor é irreverente. Ele sabe o que quer e espera que o Governo também saiba dizer o que o povo quer ouvir. Camuflar, despistar, esconder, alienar ou dissimular não são verbos que devam ser conjugados quando a intenção é a formação de uma consciência humana sobre assunto do meio ambiente. Todos têm direito à informação.
Se um técnico de governo não sabe traduzir seus pensamentos em números, vã é sua filosofia. Portanto, não subestimem o povo brasileiro. Uma informação de um verdadeiro entendedor de políticas públicas ambientais pronunciadas num bom português, e, de quebra, com suaves rastros de erudição já ( outrora?) existente é desejável a quem poderá amanhã representar o país em encontros nacionais e/ou internacionais.
Ressaltamos ser necessário que o jornalismo ambiental se posicione de forma mais categórica, pró-ativa para obter do entrevistado, por exemplo, esclarecimentos que satisfaçam às expectativas do leitor mais informado, especialmente em números, como diria Delfim Neto.
Os leitores de todas as mídias querem informações consubstanciadas em números, estatísticas, rankings, índices, indicadores, recordes sem que, necessariamente, sejam todos eles positivos. O importante é formar uma massa crítica lastreada em verdades sobre o meio ambiente que capacite o indivíduo a perceber ou interpretar o meio ambiente tal qual é o atual estado da arte ou o atual estado do mundo, sem meandros e sem manipulação de resultados. Será utópico pensar dessa forma? Alguém bem intencionado, que tem poder porque detém o conhecimento, quando se defronta com falsas afirmações pode deixar vir a público o que realmente acontece nos bastidores da política. Mecanismos que realcem a fala de quem tem sempre algo a dizer será acatada veementemente. É de bom alvitre!!!!!!!!
Se assim não for, onde fica a discussão argumentada? Oca?
Carol Salsa, colaboradora e articulista do EcoDebate é engenheira civil, pós-graduada em Mecânica dos Solos pela COPPE/UFRJ, Gestão Ambiental e Ecologia pela UFMG, Educação Ambiental pela FUBRA, Analista Ambiental concursada da FEAM.
EcoDebate, 15/10/2009
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Estamos no fim de um governo populista e ai já ninguem acredita em mais nada! EIA/RIMA sempre foram uma farça.Num país onde o próprio governo não respeita as leis qual a perspectiva???E o jornalismo ambiental ainda anda gatinhando, pouquissima experiência sensorial no pedaço.O assunto é gravíssimo.Leiam Green ink!!!
Fernando
Você captou a mensagem tal qual quiz passar. O problema não é desse ou daquele governo. A questão maior é a educação sob todas as óticas: doméstica, social, ambiental, e por aí vai. Você mesmo já confirmou isso e por isso dedica-se à CEAV.
Sobre o EIA/RIMA há um artigo do Henrique Cortez, coordenador deste Portal, bastante elucidativo sobre estudos e relatórios ambientais no Brasil.
Um abraço
Carol Salsa