Rio 2016: janelas de oportunidades e duras realidades, artigo de Aldo Antônio de Azevedo
A escolha do Rio de Janeiro como sede dos Jogos Olímpicos de 2016 representa um paradoxo social, econômico e político. Se por um lado abrem-se as possibilidades de altos investimentos em instalações esportivas e na infra-estrutura da cidade, por outro existem desafios, a desvio de recursos de áreas sociais prioritárias e, certamente, interesses comerciais em torno de um evento futuro e certo.
Ninguém disse com tanta propriedade como o sociólogo Pierre Bourdieu que o esporte constitui um “campo de lutas” que engendram interesses e disputam o monopólio do poder político e econômico, dentre outros. Se temos um grande campo para especialistas do esporte, como técnicos, atletas, árbitros, dirigentes, preparadores físicos, médicos esportivos, fisiologistas e psicólogos, temos também para políticos, economistas, investidores, empresários, grandes marcas, experts de marketing, promotores do espetáculo, engenheiros de trânsito, seguranças, policiais, etc.
Se, no entanto, temos essa grande janela de oportunidades e empregos, a realidade não pode ser camuflada pelo frenesi. Temos ainda uma educação e uma saúde nas últimas colocações, desemprego, pobreza e miséria absoluta nas arquibancadas das cidades, além de atletas despreparados e com uma “bolsa-atleta” que não financia sequer uma passagem aérea promocional. Essas duras realidades permanecerão até 2016?
É preciso acreditar que o esporte poderá resgatar a sua essência. Refiro-me às novas instalações esportivas para o Rio e ao incentivo à Educação Física nas escolas do país – uma necessidade negligenciada pelo país, cujos atletas são em boa parte treinados no exterior. Tem que haver divulgação de novas modalidades, trocas culturais, aprendizado, informação e possibilidades de gostar do esporte como uma experiência fundamental da existência e da condição humana. O esporte deveria ser um ícone do desenvolvimento social, mas é frequentemente usado como palco de interesses.
O esporte é muito poderoso! Mas por que um país que agora se sente agraciado como o primeiro a realizar uma olimpíada na América do Sul investe pouco ou quase nada no esporte ?
Gostaria, por fim, de dizer que vale muito a comemoração da vitória do Rio de Janeiro, pela persistência e competência. De fato, até 2016 há muitos desafios a superar. Não só alcançar índices no atletismo, da natação, do basquete, etc. Mas diminuir os índices sociais da criminalidade, das crianças fora da escola, do desemprego, da degradação ambiental, do transporte precário. Será esse esse país que irá desfrutar dos benefícios e das mudanças sociais dos jogos de 2016?
Aldo Antônio de Azevedo – Pós-doutor em Gestão do Esporte (FMH, Lisboa, Portugal). Doutor em Sociologia, UnB. Mestre em Educação Brasileira, UnB. Bacharel em Direito, UniCeub. Licenciado em Educação Física, UnB. Professor Associado – UnB.
Da UnB Agência, publicado pelo EcoDebate, 07/10/2009
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