Quem ainda não é bipolar levanta a mão. Somos todos bipolares? artigo de Américo Canhoto
Nem todos rimos e choramos ao mesmo tempo; ainda; mas, estamos quase lá.
[EcoDebate] Um álibi para nosso comportamento atual: o universo como o conhecemos assenta-se em polaridades complementares; Daí, ser personalidade bipolar está na moda; é quase chique; antigamente ninguém curtia o rótulo: “Psicose Maníaca Depressiva”; pois era um termo pesado, pejorativo, excluía, era coisa de ‘doidão’, de “gardenal” ou nas mulheres o comportamento ‘xiliquento’ era rotulado de falta; se fosse homem o sujeito era rotulado de ‘bicha louca’…
Mas hoje, as pessoas, tanto faz que sejam homens ou mulheres, apostam para ver quem chora e ri ao mesmo tempo e mais alto, numa boa sem constrangimento – dá direito a afastamento do trabalho por tempo indeterminado e até aposentadoria.
A exacerbação das polaridades como distúrbio tem muitos focos positivos; um deles: O mundo vai ficar cada vez mais engraçado. Outro: as pessoas podem exercitar seu lado luz e a caridade com mais facilidade; em casa mesmo – Atendo com freqüência jovens em meu consultório que afirmam com a maior naturalidade: preciso ficar bem para ajudar minha noiva que tem transtorno bipolar e tem ficado mais no polo depressivo…
Será que sempre fomos bipolares camuflados?
Tenho parado para pensar no assunto; talvez sim, apenas antes a viagem de uma polaridade a outra era mais equilibrada; saímos lentamente de um polo a outro; e apenas em situações mais fortes ou extremas causávamos espanto; no presente, esse humor lábil assumiu ares de transtorno; pois, qualquer estímulo nos leva do oito ao oitenta em segundos.
Como conviver com um portador de transtorno bipolar?
É preciso desenvolver a santa paciência – quem consegue abate kharma prá xuxu e até se candidata a uma morada lá no céu ou numa das outras moradas da Casa do Pai.
Mas, alguns casos de convivência entre bipolares até que tem dado certo; quando um está no polo eufórico o outro está na fase depressiva há um processo de codependência e compensação; mas, se os dois entram ao mesmo tempo na fase de depressão o relacionamento fica sombrio e insuportável – Além disso, a vida sexual pode ir para o cemitério antes dos dois; pois nem viagra vai acender a chama da libido (é que nem vela; deixou apagar adeus). Ao contrário, se os dois entram na fase de euforia, vai levar anos para conseguir zerar o cheque especial ou pagar as dívidas do cartão de crédito; e toca a ir se refugiar na fase depressiva.
Para que essas relações cada vez mais comuns dêem certo é preciso muita sintonia, sincronia, cumplicidade e boa vontade…
Dá para imaginar o problema quando uma das partes é um agressivo latente: o casal vai viver entre tapas e beijos; o perigo é predominarem os tapas, ao invés de ajuda psicológica o casal vai precisar de advogado…
Mas; brincando de falar sério:
Uma das causas do comportamento bipolar é que na nossa intimidade, vivemos num sistema de gerenciamento da nossa vida ditatorial. Corpo físico, emoções e sentimentos estão sob a ditadura da mente em parceria com os instintos. Decisões que deveriam ser tomadas em comum acordo extrapolam os limites do campo emocional e afetivo; e quase sempre quem arca com os efeitos desastrosos é o corpo físico, na forma de doenças. A mente ou não é utilizada ou está sendo usada em demasia; e muito mal por sinal. Além disso adoramos ir pela cabeça dos outros; nos custa tomar decisões próprias.
Nos preocupamos com tantas coisas inúteis que outras mentes fizeram parecer importantes que transformamos o ato de pensar num problema.
Tantas são as informações e as experiências que essas inutilidades podem gerar, que nossas capacidades intelectuais se esgotam dia a dia. O esperado para a vida contemporânea seria o contrário; que nosso potencial cognitivo fosse desenvolvido a toque de caixa; de forma positiva e equilibrada, sossegando os desejos, acariciando as emoções .
A inteligência para se desenvolver precisa finalizar as experiências.
Elas precisam de começo, meio e fim. É preciso usar todos os sentidos para observar, racionalizar ou interpretar o que foi observado e aplicar.
Informação não colocada em prática em todos os níveis para nada serve, apenas sobrecarrega, inutiliza com conflitos sem sentido – Posso não posso! – Faço não faço! – Estou feliz ou triste? – Sou bem ou mal sucedido?
Só poderia dar “xuxo” nos circuitos mentais; daí, a cada dia aumentam as queixas de perda de memória em gente de todas as idades. E quando bipolarizamos de vez – nossa capacidade de concentração que não era lá essas coisas, fica cada dia pior, até para coisas básicas. O trabalho intelectual simples do tipo: leitura ou um planejamento; torna-se a cada dia mais cansativo. Até algum tempo era possível duas a três horas seguidas de leitura; hoje, basta meia hora e já somos obrigados a parar para descansar ou fazer outra coisa.
Mentes inquietas – emoções em desalinho – futuro duvidoso.
Pensar, pensamos vinte e quatro horas por dia mesmo dormindo, o problema é a falta de controle sobre os pensamentos.
A repetição deles cria o vir a ser ou nosso futuro e o delimita; e se estão em descontrole significa que não teremos nenhum domínio sobre os acontecimentos que estão por vir; nem os limites ficarão claros; daí não serão respeitados. Também as idéias fixas sempre representaram perigo nas nossas vidas, no momento atingem tal grau de intensidade que colocam nossa integridade psicológica em sério risco.
Amo ou desamo?
Quero um amor em branco e preto ou um colorido?
Tantas são as “apelações afetivas” propagadas pela mídia, na literatura, na indústria de entretenimento, na propaganda, nas estratégias de marketing para a venda de produtos; que de forma subliminar, nosso subconsciente assimilou formas de relacionamento afetivo inadequadas e doentias. E esse tipo de formação ao envolver os laços de afetividade não delimita até onde devemos ou é permitido avançar em nossos desejos e sonhos.
O publico telespectador em geral tem um comportamento novelesco; antes, apenas a mulherada ficava pregada na telinha não perdendo um capítulo da novela das 6,7 e oito – Hoje, até os marmanjos, não perdem um e não falam de outra coisa…
No terreno da sexualidade:
É triste ouvir de pacientes bem jovens que não se lembram mais do último orgasmo decente que tiveram. Fiquei curioso e perguntei: o que é um orgasmo decente? – Aquele que te deixa um bom tempo alegre e bem disposto, feliz. Se for freqüente faz você dar risada prá poste e até chamar aribú de meu louro…
Esperamos uns dos outros o que não ofertamos a ninguém.
Queremos ser amados sem amar, desejamos carinhos quando somos ausentes. Transformamos a vida afetiva num toma lá – dá – cá. Não atinamos para a lei de retorno que nos devolve exatamente o que enviamos sem desculpas nem justificativas ou camuflagens; apenas o padrão vibratório real.
Dia menos dia, essa forma de proceder iria dar frutos, em razão disso nunca se viu tanta gente chorando sem saber muito bem o motivo. Relações sexuais com gostinho de final de masturbação são as mais comuns.
Nas relações afetivas qualquer coisa que um faz e que antes nem era percebido; já é suficiente para detonar trovoadas de lágrimas e tempestades de retaliações do outro.
Estamos no limite da insanidade ou já somos insanos?
Quem precisaria de tratamento psicológico no mundo atual?
Quase me atreveria a dizer que todos; mas, para não parecer exagerado, e já que estamos perto de eleições, é melhor ser politicamente correto; então digo que talvez a minoria da maioria ou quase a totalidade de todos (votem ni eu!)..
Os limites dos distúrbios psicológicos sempre foram imprecisos, no entanto na atualidade defini-los é uma loucura.
Em segundos, saímos de uma atitude neurótica para outra de personalidade psicopata ou até de psicótico. Depende apenas do estímulo externo a que estivermos submetidos. O planeta está se transformando rapidamente num grande e engraçado manicômio.
Analisando as atitudes das outras pessoas com total isenção emocional ficamos assombrados; os outros analisando as nossas sentem a mesma coisa: estamos cada vez mais malucos e sem fronteiras a nos delimitar.
Estamos á beira de um ataque de nervos.
Em virtude de possuirmos pouco ou nenhum controle sobre as experiências que desejamos viver, estamos submetidos a uma enxurrada diária de situações que fazem aflorar determinadas emoções sem que nos capacitemos a elaborá-las de forma racional e coerente. Achei curiosa a notícia veiculada na Net esta semana: uma tenista símbolo sexual italiana afirmou que gostaria de dar uma rapidinha no vestiário com um jogador não sei das quantas – e olha que ela não é de se jogar fora não – nem parece estar matando cachorro a grito – e assim numa boa, numa catarse terapêutica, botou pra fora suas necessidades e desejos sexuais, sem papas na língua, coisa meio tabu até algum tempo atrás – além de escandalizar muita gente, uma coisa talvez ela consiga: aumentar muito o número de praticantes do esporte; vejo até o slogan que será usado por algumas academias “O tênis dá o maior tesão: pratique tênis”…
Mas, brincadeiras á parte:
Predomina na sociedade atual a linha da exacerbação da ansiedade, medo, angústia e preocupação com fatos inúteis e sem sentido, e o sistema voltado para a competição expõe e reforça a agressividade que nos leva a extrapolar os limites das contenções íntimas, sociais e culturais… Meu amigo ET aqui ao lado dando pitaca, diz que nessa situação da tenista a explicação talvez esteja aí: na disputa do jogo, as tensões vão a mil; e daí, nada como uma boa relaxada natural; mesmo que seja uma “raquetada” fast-food…
Enquanto isso, para nóis aqui na foto; no mundo real:
A industria do entretenimento, especialmente a de ação rápida como a TV, é um agente poderoso de reforço de padrões de caricatura de desejos; de emoções desencontradas; e de sentimentos contraditórios; o que, conduz a um descontrole emocional difícil de ser recuperado.
Para nós quase bipolares transtornados; vamos continuar no exercício diário de superar nossas neuroses; correr contra o relógio; pular os obstáculos; driblar o negativo do cheque especial; esticar cheque borracha; sair catando os cheques voadores; malhar para perder peso; tentar fechar a boca; escalar o morro das ilusões para encontrar a tal da alma gêmea; tentar levantar quando somos nocauteados pela gana dos colegas de trabalho ou da chefia. Alcançar de volta a libido. Tentar reaprender a arte de divertir-se com os amigos. Tentar conservar por alguns minutos um sorriso nos lábios. Reclamar menos. Redescobrir o prazer de uma gargalhada. Sentir alegria sem desandar para a euforia; pois daí á depressão leva segundos…
E outros desafios da vida moderna…
Somos ou não somos bipolares?
Opiniões são bem vindas.
O que fazer?
O segredo para não cair no distúrbio está em equilibrar os pólos com gozação e alegria; pois os malucos beleza são quase sempre bem vindos e aceitos. O ET abelhudo está dizendo aqui; que, contaminamos até o planeta; diz que o polo sul vai para o polo norte, etc…
Cansei!
Nessa luta pela sobrevivência, o amigo já está usando camisa de força com tarja preta ou ainda está na de tarja vermelha?
Pretende mudar de faixa?
Américo Canhoto: Clínico Geral, médico de famílias há 30 anos. Pesquisador de saúde holística. Uso a Homeopatia e os florais de Bach. Escritor de assuntos temáticos: saúde – educação – espiritualidade. Palestrante e condutor de workshops. Coordenador do grupo ecumênico “Mãos estendidas” de SBC. Projeto voltado para o atendimento de pessoas vítimas do estresse crônico portadoras de ansiedade e medo que conduz a: depressão, angústia crônica e pânico.
* Colaboração de Américo Canhoto para o EcoDebate, 03/10/2009
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Atualmente na casa dos “entas”, na minha adolescência meu pai me mandou a um psiquiatra que colocou um rótulo na minha ficha “maniaca depressiva”, na verdade posso afirmar que é simplesmente estar com os pés em duas canoas, uma na razão a outra na emoção,qdo uma não está boa vc tira seu pé dessa e fica com os pés numa só e assim já se passaram muitos anos, onde a música do Caetano deveria ser um hino dos como é chamado agora “bipolares”. Ah. a música do Caetano, ia me esquecendo, “não tenho nada com isso, nem vem falar…eu não consigo entender sua lógica…aos meus ouvidos parecerem exótica (não me vem agora a música inteira). Adorei o texto, porque fica claro que a gente sobreviveu a uma porção de coisas (ih…agora pareceu ser egocentrismo)
Dr. Americo,
Fantástico o seu artigo! É a pura verdade!
Desculpe a ignorância: Mas o que o seu texto tem haver com bipolaridade? Concordo que na sociedade contemporânea hão aumentos no número de problemas mentais etc… Mas não concordo, que isoladamente seja o caso da bipolaridade. E creio que o ambiente é fator secundário no desenvolvimento desse transtorno. Percebo que componentes genéticos possuem mais significância. Até porque na história podemos reconhecer várias figuras que tinham o transtorno (vide um artigo no meu blog sobre eles). O Sr. escreve bem e entendi a intenção, porém, falta objetividade para abordar o tema. Houve uma “salada” de palavras, que só causam efeito. Mas de qualquer maneira, deve ter sido bom… afinal estou até comentando. Sucesso!
Respondo em conjunto aos amigos.
A idéia central é reforçar a necessidade de baixar a bola da quantidade de informações – O Willian tem toda razão quando se refere ao fator DNA – mas, talvez alguns com essa possibilidade em DNA possam escapar quase ilesos aos efeitos de um transtorno bipolar, caso aprendam a se defender da ação do meio sobre eles.